Momento Flash da semana: Um Baldé de água quente em Penafiel
Recorde as incidências do encontro
Não há desporto mais bonito do que este. O futebol é um jogo de emoções e 90 minutos são mais do que suficientes para passar do céu ao inferno ou da tristeza à felicidade. A Supertaça Cândido de Oliveira foi o primeiro exemplo de uma temporada que promete no futebol nacional e pode dizer-se que a reviravolta do FC Porto sobre o Sporting (3-4) inspirou outras equipas.
Aos nove minutos, o Penafiel preparava-se para uma estreia de pesadelo frente à Oliveirense. A jogar em casa, a equipa de Hélder Cristóvão não esperava estar a perder por 0-3 quando ainda nem tinha sido disputados 10 minutos da temporada.
Nesse curto espaço de tempo, o jovem guarda-redes Manuel Baldé, internacional pela Guiné-Bissau, esteve no olho do furacão.
A posição de guarda-redes é ingrata e o guardião do Penafiel sentiu isso na pele, depois de ficar ligado aos três golos da Oliveirense. Aos 3', saiu mal dos postes e acabou por permitir o golo de Lucão. Aos 6', acabou por oferecer o 0-2 a Zé Manuel. E, aos 9', após um pontapé que ficou curto, viu a arte e engenho de André Santos ao longe para o 0-3 de baliza aberta, a mais de 35 metros da baliza.
Foi um dia em que tudo parecia correr mal a Manuel Baldé.
Desolado, o guarda-redes ficou visivelmente afetado após o terceiro golo. Com o rosto escondido junto à relva, o jogador de apenas 21 anos chegou a tirar as luvas enquantou ouvia palavras de consolo dos colegas de equipa, conscientes da missão espinhosa que teriam de enfrentar nos 81 minutos que restavam. Mas se era possível sofrer três golos em nove minutos...
A reação penafidelense tão tardou. Zé Leite, um ex-Oliveirense que acabaria por ser o homem do jogo, fez o 1-3 que forçou uma paragem na partida. Ao mesmo tempo, Hélder Cristóvão decidiu proteger Manuel Baldé e a própria equipa e trocou de guarda-redes.
Visivelmente afetado pelos erros, Baldé foi substituído por Filipe Ferreira, mas não sem antes receber uma manifestação de apoio que fez com que esse dia também fosse inesquecível por bons motivos. Desde as bancadas, os Pena Boys e restantes adeptos aplaudiram o seu guarda-redes. No relvado, colegas de equipa e os próprios adversários perceberam o significado daquele momento e deram força ao guineense. O próprio Tiago Martins, árbitro da partida, dirigiu-se a Manuel Baldé para uma palavra de conforto, mas o guarda-redes só queria mesmo voltar para o conforto do balneário.
Numa prova de que ser treinador não passa apenas por definir quem joga e qual a melhor tática, Hélder Cristóvão não deixou cair Baldé. Assim que o guarda-redes saiu das quatro linhas, recebeu um abraço do seu treinador, que lhe dirigiu algumas palavras, e recebeu autorização para regressar ao balneário e tomar um banho de água fria naquela manhã quente em Penafiel, apenas 12 minutos depois do apito inicial.
Mas a história da partida não acabou naquela substituição. Instantes depois, Gabriel Barbosa reduziu a desvantagem de grande penalidade. Ao intervalo, os colegas de Baldé juntaram-se ao guarda-redes no balneário e ganharam motivação para ir à procura de algo mais.
Aos 55', Zé Leite e Miguel Maga, ex-jogadores da Oliveirense, fizeram o 3-3, mas o improvável estava reservado para os 71 minutos, altura em que aqueles nove minutos ficaram definitivamente esquecidos e o Penafiel deu a volta ao marcador para selar um triunfo inesquecível logo à primeira jornada.
No final da partida, Manuel Baldé regressou dos balneários, como que renascido das cinzas, e foi conversar com os adeptos, que lhe deram votos de confiança para o que aí vem. E o que é que aí vem? A titularidade já no próximo jogo frente ao Vizela, como garantiu Hélder Cristóvão após a partida: "Teve um dia mau, para a semana terá um dia excelente". É assim o futebol.