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A análise de João Henriques à reta final da Liga: "Acho que só vai haver campeão na última jornada"

Paulo Cintrão, Mário Rui Ventura
João Henriques, treinador português, faz a sua análise da temporada
João Henriques, treinador português, faz a sua análise da temporadaOpta by Stats Perform
Aos 50 anos, João Henriques, o novo treinador do Olimpija Ljubljana, campeão da Eslovénia, já viveu de tudo um pouco no campeonato português. Experiência, então, aproveitada pelo Flashscore para desafiar o antigo treinador de Paços de Ferreira, Santa Clara, Vitória de Guimarães, Moreirense e Marítimo a traçar cenários para as duas últimas rondas da Liga.

"Penso que ainda vão cair algumas decisões para a última jornada. O campeonato tem sido muito equilibrado em cada uma das zonas da tabela classificativa, o que faz antever que será até à última, nomeadamente a questão do campeão e do play-off" defende João Henriques, numa análise feita ao Flashscore.

- Orientou o Santa Clara em duas temporadas, entre 2018 e 2020. Surpreende esta posição, no último lugar e agora obrigado a vencer o Portimonense para ainda poder sonhar com o play-off?

- Surpresa é, claramente. Durante o tempo que passei no Santa Clara, era um clube que vinha em crescendo. Vinha da Liga 2, conseguu consolidar o seu nome na Liga, atingindo depois as provas europeias. Essa surpresa de estar nos lugares onde está começou a adivinhar-se ao longo da época, sobretudo com a segunda volta, onde os resultados não apareceram. Quando se cai naquela situação é depois muito complicado dar a volta. Está nesta posição, esta jornada é fundamental para ainda sonharem com o play-off, estão obrigados a ganhar para continuar a pensar que será possível. E no futebol tudo é possível, como se costuma dizer e é verdade. Até á última jornada vão acreditar, não tenho dúvidas disso. Os profissionais de Santa Clara, Paços de Ferreira e Marítimo vão agarrar-se a tudo o que têm.

A 33.ª jornada do campeonato
A 33.ª jornada do campeonatoFlashscore

- O Paços de Ferreira é outro caso. Um clube estável, onde não é habitual vermos tantas mudanças de treinador.

- Os clubes mais estáveis, os clubes que mantiveram mais tempo as suas equipas técnicas, que acreditaram no seu trabalho, são os clubes que acabam a temporada mais bem classificados. Os que trocam mais vezes erram mais e estão mais perto da descida. Isso aconteceu com o Paços de Ferreira este ano, o que não á habitual. A época não começou bem em termos de resultados, a equipa teve dificuldade em encontrar-se, depois houve a decisão de trocar de treinador, sentiram que não resultou, voltaram ao mesmo treinador do início e conseguiram uma segunda volta um pouco mais condizente com o nível do Paços. Esses são erros para não se voltarem a cometer mas os clubes teimam em errar. Se acreditam no treinador, no plantel, ainda por cima com possibilidade de fazerem ajustes no mercado de inverno, têm de levar as coisas até ao fim. Se acreditam, se estão convictos, não é passado meia dúzia de jogos, só porque os resultados não estão a aparecer, que se muda tudo. Há muito mais coisas que os dirigentes têm de analisar. Se formos ver, todas as equipas tiveram hiatos de vitórias de seis, sete e oito jogos. Todas elas, tirando os que estão sempre obrigados a ganhar. E quem teve paciência para esperar pelo momento tirou proveito disso e foi mais regular. Temos o caso do Vitória, quinto classificado, que chegou a essa posição porque teve paciência num momento menos bom. Um clube com a pressão que aquele tem, e eu conheço-a bem, as pessoas tiveram paciência e agora fizeram um conjunto de vitórias que lhes permite atingir, já nesta altura, o apuramento para a Liga Conferência.

- Neste campeonato destacam-se também Vizela e Casa Pia que, a duas jornadas do final, vão claramente fixar-se a meio da tabela. Dois projetos estáveis, bem pensados, para se afirmarem na Liga e depois começarem a pensar em algo mais.

- Sem dúvida. É aquela continuidade de que falei. Juntava a esse lote o Rio Ave e o Chaves, equipas que subiram, que mantiveram os seus treinadores, dando seguimento a um trabalho de continuidade, e estão ambas bem posicionadas, com um campeonato muito interressante, com jogadores e treinadores a conhecerem-se mutuamente e isso traz a estabilidade necessária para se fazerem bons trabalhos. Essa estabilidade não existiu para quem está na cauda da tabela e aqui salvam-se raras exceções, como o Vizela mas também o Famalicão, que saíram beneficiados pela troca de treinadores em relação ao que estava a acontecer anteriormente.

- E depois temos, claro, o Arouca, a grande surpresa da temporada.

- Na época anterior também subiu, com este mesmo treinador, e no ano passado teve um período muito complicado, a lutar pela permanência. Chegou a colocar-se em causa se o Armando Evangelista continuava ou não. Felizmente, para o Armando, para as pessoas de Arouca e para o clube, mantiveram a confiança no treinador. Conseguiu a manutenção e depois com os reforços, porque havia mais conhecimento do treinador, houve este crescimento para uma época, a todos os níveis, fantástica. O Arouca fez um campeonato tremendo, tem bons jogadores, uma ideia de jogo muito atrativa e merece estar na posição em que está, ser feliz no final da época. Esta aposta, este risco, são compensados no final.

- O Vitória de Guimarães já garantiu a Liga Conferência e, na frente, os quatro do costume, com o SC Braga à frente do Sporting e um dérbi este domingo que pode decidir o título. Vai haver festa em Alvalade?

- Acho que só vai haver campeão na última jornada. Estamos a falar de uma rivalidade de décadas, de um dérbi onde normalmente a equipa menos bem posicionada consegue contrariar o favoritismo da outra. Embora o Sporting, nos últimos confrontos com Benfica e FC Porto, não tenha sido muito feliz, não acredito que deixem o rival festejar em Alvalade. É esse orgulho que os jogadores do Sporting vão ter. Vai ser uma partida com muito em jogo, acima de tudo o orgulho de uma equipa que não fez uma época muito boa. Acredito que vai ser decidido apenas na última jornada e que será resolvido pelo Benfica, perante os seus adeptos, diante do Santa Clara.

Os últimos dérbis lisboetas
Os últimos dérbis lisboetasFlashscore

- A última jornada terá um FC Porto-Vitória de Guimarães e esse Benfica-Santa Clara, sendo que os açorianos, caso vençam o Portimonense, decidirão a vaga no play-off na Luz. Nesse cenário haveria mesmo muito por decidir no Estádio da Luz.

É um facto. Eu já estive nas duas situações ao serviço do Santa Clara. Defrontei o Benfica na Luz na última jornada, e o Benfica precisava de vencer para ser campeão. Perdemos por 1-4. Por muita competência que o Santa Clara tenha, é um jogo tremendamente difícil, não só pela diferença de valores como pelo ambiente numa partida destas. Numa outra situação, fui à Luz vencer pelo Santa Clara por 4-3. Sem público, o Benfica perdeu e entregou o campeonato ao FC Porto. São situações distintas mas as exibições não foram muito diferentes. Só mudou o resultado: ganhei 4-3 e perdi 1-4. O contexto que o Santa Clara vai apanhar é muito complicado e não servirá o empate, embora uma igualdade fosse estragar o título ao Benfica, caso não vença em Alvalade. O FC Porto é inquestionável, tem de fazer a sua parte, vencer os dois jogos e esperar que o Benfica escorregue em dois jogos. Sinceramente, não me recordo de algo assim ter acontecido.

Classificação do campeonato
Classificação do campeonatoFlashscore