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Alexadrina Cruz, candidata à liderança do Rio Ave: "Não gosto de ser notícia só por ser mulher"

Alexadrina Cruz deverá suceder a António Silva Campos na liderança do Rio Ave
Alexadrina Cruz deverá suceder a António Silva Campos na liderança do Rio AveRio Ave
Alexandrina Cruz, candidata única à presidência do Rio Ave, clube da Liga, espera ser uma “inspiração” para que outras mulheres assumam cargos de liderança no futebol, e não só, mas rejeita ser uma bandeira do feminismo. Sufrágio está marcado para dia 1 de julho.

Não pensava que o facto de ser uma mulher a assumir um clube de futebol tivesse tanta dimensão mediática, mas se for inspirador para outras pessoas, tanto a nível pessoal ou profissional, já será bom”, disse a futura líder do emblema de Vila do Conde à Lusa.

A dirigente, de 45 anos, que será primeira mulher a presidir um clube de futebol profissional em Portugal, reforçou a sua “surpresa” pelo impacto que teve a sua decisão de se candidatar à liderança do Rio Ave, mas vincou que a competência não tem género.

Para mim, é absolutamente igual ser uma mulher ou um homem neste cargo, e até estranho quando me fazem essa pergunta. Não gosto de ser notícia só por ser mulher. A vantagem será poder abrir portas e oportunidades para outras mulheres que talvez ainda não tenham a possibilidade de abraçar desafios como este”, completou.

Apesar de ser agora candidata à liderança do clube, Alexandrina Cruz já há 19 anos pertence aos órgãos sociais do Rio Ave, desempenhando, atualmente, funções de vice-presidente na área financeira, garantindo que nunca sentiu qualquer preconceito num mundo do futebol onde a presença masculina é maioritária.

Fui sempre muito bem tratada. Quando entrei era apenas uma miúda, tinha 24 anos, mas foi fácil. Nas reuniões da Liga de Clubes senti-me sempre bem, há pessoas que conheço há vários anos. Agora, será uma nova experiência”, partilhou.

Além das responsabilidades no Rio Ave, Alexandrina Cruz, formada em gestão, tem um percurso profissional na Câmara de Vila do Conde, como uma das responsáveis da área financeira, além de ter projetos empresariais pessoais.

Vai ser preciso fazer alguma magia com o tempo disponível, e alguém vai ficar mais prejudicado, e creio que será a família, mas sinto que vou conciliar bem, porque estou habituada a ter projetos. Nesta fase, a prioridade será o Rio Ave”, afirmou.

Confessando sentir-se confortável com uma “vida intensa e sem rotinas”, Alexandrina Cruz, cuja paixão pelo Rio Ave foi herdada do pai e do avô materno, diz ter a capacidade “de desligar do trabalho” quando é preciso, partilhando o gosto por “viajar e praticar desporto”, nomeadamente o padel.

Estou curiosa como vou agora arranjar tempo para tudo. Sei que durante os jogos consigo estar calma e até abstrair-me, pensando no negócio ou no que pode ser feito para melhorar o estádio. Nesse momento, são os jogadores que têm de dar o contributo dentro de campo. A mim cabe-me a gestão durante a semana”, afirmou a futura presidente do Rio Ave.

Alexandrina Cruz vai render no cargo António Silva Campos, que presidiu o clube durante 13 anos consecutivos, e que agora decidiu não se candidatar devido a problemas de saúde, depois de ter conseguido alguns dos maiores êxitos desportivos e financeiros do clube.

“Deixou, sem dúvida, um legado e já lhe disse, pessoalmente, que é um homem que ficará para sempre na história do Rio Ave. Faço um balanço muito positivo de ter trabalhado com ele todos estes anos”, asseverou.

"O desafio maior é não poder inscrever novos jogadores"

A futura presidente do Rio Ave, Alexandrina Cruz, perspetivou que a sua época de estreia no comando do clube da Liga será “muito difícil”, devido à contingência de não poder inscrever novos jogadores.

O emblema vila-condense foi sancionado pela FIFA, no ano passado, pela alegada inscrição irregular do atleta Fabrice Olinga, e até ao final de 2023 não pode adicionar jogadores ao seu plantel, o que causa desequilíbrios, porque também tem necessidade de realizar vendas.

Já estou no Rio Ave há 19 anos, mas este será um verão muito diferente dos outros que passei cá. O desafio e as dificuldades serão grandes, mas as coisas não podem parar, têm de ser resolvidas”, partilhou a dirigente à Lusa.

Alexandrina Cruz acredita que o clube “vai conseguir formar uma equipa competitiva” para encarar a primeira fase da temporada, mas aponta que será uma época “atípica”.

Internamente, dizemos que vamos ter duas épocas numa só. Uma até dezembro e outra depois do mercado de inverno, embora sabendo que esse período não costuma ser muito proveitoso. Estamos a analisar alguns jogadores, com a possibilidade de os contratar agora, mas só os inscrever em janeiro, mas não é fácil porque quem vem, quer jogar”, confessou.

A futura presidente considerou que a renovação (até 2025) com o treinador Luís Freire foi “um voto de confiança no trabalho realizado nas duas últimas épocas”, mas falou na necessidade de vender alguns elementos do plantel

O desafio maior é ter a necessidade de vender e não poder inscrever novos jogadores. Faz-me lembrar a época da descida de divisão, e os valores que vinham para cima da mesa, mas, desta vez, temos ‘fechar’ tudo o que é possível, porque não temos outras portas a abrirem-se”, descreveu.

A dirigente partilhou que o clube já recebeu manifestações de interesse em alguns jogadores do plantel, nomeadamente o médio Guga e o defesa Costinha, mas garantiu que “até à data não surgiram propostas concretas”.

Temos alguns jogadores com mercado, mas também precisamos deles para jogar. O Rio Ave recebe cinco milhões de euros dos direitos televisivos, mas tem um orçamento de 12 ou 13 milhões. É fácil perceber que temos de fazer vendas”, explicou.

A dirigente recordou que o clube “ainda está a recuperar” dos efeitos da descida de divisão de 2020/21, e lembra que o facto de não poder inscrever jogadores “complica tudo”.

Descemos de divisão com o orçamento mais caro da história do Rio Ave, e isso contribuiu para um défice grande, porque com uma performance desportiva menos boa também não vendemos jogadores”, recuperou.

Alexandrina Cruz com Luís Freire, treinador do Rio Ave
Alexandrina Cruz com Luís Freire, treinador do Rio AveRio Ave

No seu projeto para o Rio Ave, Alexandrina Cruz considerou “fundamental” que o clube volte a ter parceiros como a empresa Gestifute, do empresário Jorge Mendes, ou outros, com quem teve laços estreitos num passado recente, considerando que tal é positivo para “alavancar o negócio”.

Historicamente, o Rio Ave sempre teve boas relações com empresários e com todos os clubes. Neste processo, já tive de contactar com muitos clubes e as relações continuam boas. E algo que quero continuar a cultivar”, vincou.

Para superar uma época que se avizinha complicada, a candidata única à liderança do clube de Vila do Conde apelou aos sócios para participarem no ato eleitoral de 1 de julho, mas também para reforçarem a sua presença na vida ativa do Rio Ave.

O concelho tem cerca de 82 mil habitantes e o Rio Ave tem seis mil sócios, mas apenas 3.500 a 4.000 pagantes. Temos de fazer uma aposta grande, nos próximos anos, para angariar mais associados. É algo que pode demorar uma geração, por isso é fundamental irmos ter com os jovens às escolas”, defendeu.

Defesa da SAD

A candidata única à liderança do Rio Ave, Alexandrina Cruz, considera “fundamental” que o clube da Liga se transforme numa SAD e tenha a entrada de “um investidor externo”, que injete “capitais elevados”.

Sou defensora de uma SAD, pois acho que o modelo de SDUQ faz pouco sentido nos tempos atuais, sobretudo depois da descida de divisão que tivemos (2020/21). O negócio do Rio Ave é o futebol, e se a parte financeira não estiver bem, a vertente desportiva vai-se ressentir, e vice-versa”, disse à Lusa a dirigente, que é responsável pela área económica do clube há quase duas décadas.

A futura presidente do Rio Ave, que será eleita nas eleições agendadas para 1 de julho, indicou que um dos grandes objetivos do seu mandato será “a recuperação do passivo do Rio Ave”, que no seu entender implica uma consequente revisão estatutária.

Os sócios têm de saber que isso é algo para o imediato, e não para os próximos anos. Vamos promover uma assembleia geral extraordinária para os associados perceberem o que implica para o clube tomarem, ou não, essa decisão de criar uma SAD”, partilhou.

Confessando que não faz diferenciação na entrada de um investidor estrangeiro ou português, Alexandrina Cruz revelou já ter recebido contactos de potenciais interessados.

“Temos procurado soluções, e temos algumas já avançadas e com sustentabilidade. Defendo que o clube, numa primeira fase, deve ficar com a maioria do capital social, mas percebo que quem entra numa SAD quer ter a maioria. Estamos a negociar e a analisar soluções. Mas é fundamental a entrada de um investidor e de capitais externos elevados”, afirmou.

Alexandrina Cruz lembrou que a descida do Rio Ave à Liga 2, há duas épocas, e o consequente investimento para a equipa regressar ao principal patamar nacional causou desequilíbrios nos cofres do clube que vão durar “cinco a seis épocas a recuperar”, caso não haja investimento externo.

Tivemos, antes, resultados desportivos e financeiros muito bons, em cinco épocas consecutivas, mas a descida de divisão foi um retrocesso tremendo. Gastámos todas as reservas que tínhamos, e bem, para subir, mas a fatura estamos a pagar nestas épocas seguintes”, descreveu.

Apesar de identificar essas dificuldades, Alexandrina Cruz disse que avançou com a candidatura à presidência do Rio Ave por achar que o clube “tem oportunidades para voltar a ter um melhor papel no futebol nacional, e de forma ainda mais sustentável”.

“Há cinco anos não tinha esta expectativa de ser presidente, mas nos últimos tempos as coisas proporcionaram-se a que olhasse para o clube de outra forma e percebesse que há mais a fazer”, afirmou.

A futura presidente confessou que, para o sufrágio, esperava que “surgissem mais candidatos para dar uma imagem de maior vitalidade no clube”, mas garantiu que tal não muda “a responsabilidade nem o projeto para o Rio Ave”.

Dentro desse projeto, surge a construção da bancada nascente no estádio, para substituir a que foi demolida há alguns anos, devido a problemas estruturais, e também uma atenção “muito especial para o setor da formação”.

Acho que o projeto da bancada deve ser repensado, englobando uma série de valências que temos de colmatar, nomeadamente no alojamento para os nossos jovens. O futebol de formação tem de ter um foco grande, pois nos últimos anos não temos tirado os proveitos que podíamos”, abordou.

Alexandrina Cruz considera que a localização do estádio e da recente academia de formação adjacente “é ótima”, apontando que a zona deve ser “um novo ponto de centralidade da cidade” e lembrando que o clube “ainda tem mais terrenos no local para desenvolver”.

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