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Análise: Bom registo defensivo do Boavista enfrenta o maior teste de sempre

Hugo Filipe Martins
Atualizado
Boavista prepara-se para fase delicada
Boavista prepara-se para fase delicadaBoavista FC
A vida de um adepto do Boavista não tem sido fácil. Depois do campeonato conquistado em 2001, o clube do Bessa tem vivido uma autêntica montanha-russa de emoções, mas esta época promete ser de dificuldade ainda mais acrescida para os adeptos axadrezados.

Acompanhe aqui as incidências do encontro

Para dar contexto ao atual momento do Boavista, torna-se quase obrigatório recuar no tempo em modo flashback, até porque não há outra maneira de o dizer: desde que desceu aos campeonatos amadores, o Boavista nunca esteve tão mal como agora.

Quando voltou à Liga Portugal, sob o comando de um inexperiente Petit e com um plantel modesto, o Boavista fez pela vida e lutou pela sobrevivência, mostrando desde logo a alma que tantas vezes nos lembra o Boavistão.

A chegada de Gerard López, investidor espanhol-luxemburguês conhecido pela sua passagem por clubes como Lille, Bordéus e Servette, mas também pela Fórmula 1, quando foi presidente do conselho de administração da Lotus F1, trouxe esperanças renovadas ao Bessa. 

O Boavista era, nessa altura, uma espécie de clube adormecido. É certo que a equipa não voltou a descer de divisão, mas sentiu sempre dificuldades para dar um passo em frente.

Em 2020/21, o clube investiu na contratação de nomes consagrados, como Javi García e Adil Rami, e trouxe jovens promessas, destacando-se desde logo a chegada de Angel Gomes, por empréstimo, e do norte-americano Reggie Cannon, mas os ventos da mudança não se fizeram sentir. Uma vez mais, o Boavista teve dificuldades para continuar na Liga Portugal, acabando no 13.º lugar, registo idêntico ao da época de regresso.

As expectativas criadas à volta do Boavista nunca foram cumpridas e, aos poucos, o clube começou a dar passos atrás. 

Fazendo fast forward para as últimas temporadas, pelo Bessa surgiram vários relatos de salários em atraso, falhas do controlo salarial da Liga e, por fim, a proibição de inscrever jogadores na Liga Portugal, o que fez com que o plantel axadrezado fosse, pouco a pouco, perdendo qualidade.

Reisinho adiou o problema

Na época passada, o perigo da descida de divisão foi maior do que nunca. Numa época marcada pelos tais problemas financeiros, que provocaram mesmo greves na estrutura boavisteira, o clube viu o play-off  de despromoção a segundos de se tornar realidade. Só que, um golo de Miguel Reisinho, aos 90'+10, alterou o destino negro do clube.

Aquele penálti celebrado pelos quase 20 mil adeptos presentes no Estádio do Bessa quase fez esquecer o que se passou nessa temporada, mas não foi suficiente para preparar os adeptos para o que aí vinha.

Fary assumiu o lugar de presidente no final dessa época e adotou um discurso realista, mas ainda assim não o suficiente para preparar os adeptos para 2024/25.

Portas do mercado só para sair

Apesar de ter apresentado duas contratações - Ibrahim Alhassan e Bruninho -, a resolução para os problemas financeiros do Boavista nunca apareceu e a equipa axadrezada viu-se obrigada a dispensar os jogadores, uma vez que não os podia inscrever na Liga.

Uma vez mais, a prata da casa teria de servir como contratação para um novo treinador, o italiano Cristiano Bacci, que sabia, à partida, a missão exigente que iria ter no Estádio do Bessa.

Obrigado a vender para fazer face às despesas da temporada e pagar algumas das dívidas que impedem o desenvolvimento do clube, o Boavista fez 2,5 milhões de euros em vendas - Pedro Malheiro para o Trabzonspor e Chidozie para a MLS - e perdeu jogadores importantes a custo zero - Makouta e Bruno Lourenço, que rescindiu alegando salários em atraso.

Pedro Malheiro rendeu dois milhões de euros
Pedro Malheiro rendeu dois milhões de eurosBoavista FC

Todas estas mexidas retiraram qualidade e profundidade a um plantel que passou a ser um dos mais novos da Liga Portugal (média de idades de 23,89) e cuja principal figura é o eslovaco Róbert Bozeník, que já tinha estado na porta de saída no inverno passado.

Missão impossível?

Atendendo à forma como os restantes clubes recorreram ao mercado de transferências, o Boavista entrou na nova temporada como claro favorito à descida de divisão.

Com vários problemas para resolver fora das quatro linhas, o grupo às ordens de Bacci focou-se no mais importante para o clube, a manutenção.

Não se pode dizer que as primeiras quatro jornadas da temporada foram brilhantes, longe disso, mas a verdade é que a catástrofe esperada antes do arranque do campeonato, frente ao Casa Pia, acabou por não acontecer, pelo contrário.

Boavista sofreu apenas dois golos na Liga Portugal
Boavista sofreu apenas dois golos na Liga PortugalFlashscore

Sem grandes armas ofensivas, Bacci montou uma equipa pragmática e focada em não sofrer golos, atingindo, neste aspeto, números que fizeram lembrar outros tempos mais felizes para os lados do Bessa.

O saldo pontual acaba por ser positivo - quatro pontos em quatro jornadas -, mas o que surpreende é o registo defensivo, o melhor desde o regresso à Liga Portugal. A equipa de Bacci terminou dois jogos sem sofrer golos (menos um do que em toda a temporada passada) e sofreu apenas um golo em quatro jornadas, registo idêntico ao da temporada 2003/04.

O calendário do Boavista
O calendário do BoavistaFlashscore

Boavisteiro não tem descanso

Quando o cenário parecia bem melhor do que seria inicialmente esperado, a casa boavisteira voltou a abanar. João Gonçalves, guarda-redes internacional sub-21 português que vinha sendo um dos destaques do clube neste início de temporada, sofreu uma rotura de ligamentos e terá de ser operado. Luís Pires, suposta alternativa ao guardião de 23 anos, teve a mesma lesão, exatamente no mesmo treino.

E eis que, quando o registo defensivo do Boavista parecia ser suficiente para sonhar com a manutenção, os adeptos axadrezados, que já lamentavam a lesão de Miguel Reisinho, viram-se novamente em apuros.

A contratação de César, guarda-redes brasileiro que já passou pelo Flamengo e que só conseguiu ser inscrito por ter terminado contrato com o Boavista na época passada, funciona como mais uma manobra de um clube habituado a conduzir por estradas cada vez mais estreitas.

Tomé Sousa, de apenas 17 anos, poderá jogar contra o Estrela da Amadora, batendo assim o registo de Rui Patrício de guarda-redes mais jovem de sempre a jogar na Liga Portugal.

Conseguirá a Pantera sobreviver a mais uma temporada na elite? Não há grandes dúvidas de que este será o teste mais duro desde o regresso à Liga Portugal.

Análise de Hugo Filipe Martins
Análise de Hugo Filipe MartinsFlashscore