Análise: o estigma de Kepa e a possível saída de Diogo Costa
Produto da formação do FC Porto, Diogo Costa está numa trajetória ascendente da carreira. Titular nos escalões de formação dos dragões, vencedor da Youth League (2018/19), o guarda-redes subiu à equipa principal (2019/20), roubou o lugar a Marchesín, conquistou a Liga (2021/22) e afirmou-se como o titular da Seleção Nacional relegando Rui Patrício para o banco de suplentes. Tudo isto com 23 anos.
À entrada para este verão é seguro dizer que Diogo Costa é já uma das certezas das balizas europeias e a saída do FC Porto para outros palcos parecia quase certa. O Manchester United parecia o destino certo, com Erik ten Hag a procurar uma alternativa a David De Gea, mas a insistência do FC Porto em receber os 75 milhões de euros da cláusula de rescisão parecem ter afastado os red devils que olham para outras opções como Onana (Inter) ou Pickford (Everton), mais em conta, mas um passo abaixo em termos de qualidade.
Chelsea e Bayern também tinha sido colocados no encalce do internacional português, mas todos se afastaram perante o preço exigido pelo FC Porto
O estigma Kepa
Caso se concretize a transferência por 75 milhões de euros, como é desejo do FC Porto, Diogo Costa entra diretamente para o segundo lugar dos guarda-redes mais caros da história do futebol, ultrapassando nomes como Alisson (62,5 milhões de euros para o Liverpool), Buffon (52,8 milhões de euros para a Juventus) ou Courtois (35 milhões de euros para o Real Madrid).
À sua frente fica Kepa Arrizabalaga, talvez o motivo que leva os clubes a torcer o nariz a gastar tanto dinheiro por um guarda-redes, mesmo num mercado inflacionado como é o atual. Depois de assumir a baliza do Athletic Bilbao, o basco foi contratado pelo Chelsea em 2018 por 80 milhões de euros.
Uma verba exorbitante por um guarda-redes com 23 anos, mas que parecia deixar o Chelsea descansado para pelo menos os próximos 10 anos. Não aconteceu. Em 2020, apenas uma época e meia após ter chegado a Stamford Bridge perdeu o lugar para o veterano Willy Caballero.
Entrou numa espiral negativa (depois de ter saído de uma primeira no final de 2019, quando se recusou a ser substituído na final da Taça da Liga). De acordo com as estatísticas foi o pior guarda-redes dessa época (defendeu 53,47% dos remates, o pior registo entre os guardiões com mais de mil minutos na Premier League). Segundo as métricas da Opta, sofreu mais 12 golos do que seria esperado (mais seis do que Tom Heaton, o guardião com o segundo pior registo).
Em 2020 chegou Édouard Mendy e o senegalês assumiu as rédeas do clube, sendo parte essencial na equipa que viria a conquistar a Liga dos Campeões no final dessa temporada. Ainda assim, uma série de lesões levaram o guardião senegalês a perder o lugar para Arrizabalaga que termina esta época como o titular do Chelsea e num caminho de redenção, mas que ainda não convenceu em Londres.
Mais experiência
Cinco anos mais novo que Kepa, Diogo Costa tem agora a mesma idade que o basco tinha quando deixou o Athletic Bilbao. Contudo, o nível de experiência é bastante distinto. Campeão nacional, Diogo Costa soma já 109 jogos pelo FC Porto (15 na Liga dos Campeões), a que junta mais 14 internacionalizações (cinco no Mundial-2022). Kepa tinha 54 jogos pelo Athletic na altura, todos em provas domésticas.
Peça-chave no título que o FC Porto conquistou em 2021/22 (foi o guarda-redes com menos golos sofridos), voltou a estar em destaque nesta edição da Liga. Feitas as contas, em duas edições do campeonato sofreu 44 golos em 66 partidas (22 em cada época). A título de exemplo Kepa sofreu 33 golos em 29 jogos na Premier League que agora findou.
Além disso mostrou-se ao mais alto nível na Liga dos Campeões. Foi decisivo para manter o FC Porto na luta pelos oitavos de final da Liga dos Campeões (defendeu três penáltis e fez uma assistência) e manteve os dragões na eliminatória diante do Inter de Milão, com uma defesa soberba no Giuseppe Meazza quando o jogo ainda estava empatado sem golos (terminou com uma vitória pela margem mínima dos italianos).
Um guarda-redes moderno
O futebol atual exige mais a um guarda-redes que reflexos e controlo da área. Com as equipas a procurarem cada vez uma saída de jogo apoiada, os guardiões com boa capacidade de passe são considerados valiosos e exemplo disso foram as exibições de Onana e Ederson na final da Liga das Campeões, dois keepers excelsos no jogo de pés.
Uma situação em que Diogo Costa também se distingue. Sempre que o FC Porto se vê com dificuldades para sair a jogar desde trás, o guarda-redes consegue resolver problemas de pressão alta por parte do adversário com passes longos e precisos que ajudam a quebrar linhas.
A epítome? A assistência que fez para Galeno na vitória diante do Bayer Leverkusen, na Liga dos Campeões.
Se é certo que 75 milhões de euros por um guarda-redes pode ser considerado por muitos um valor manifestamente exagerado, Diogo Costa, que partilha algumas semelhanças com Kepa (nomeadamente a boa capacidade de passe e apetência para defender penáltis), mostra todas as ferramentas para quebrar o estigma levantado pelo guardião espanhol e ser um dos nomes grandes do futebol europeu durante os próximos largos anos. Resta saber se algum dos tubarões está disposto a pagar esse preço.