Análise: Os pontos fortes e pontos fracos dos três grandes em 2023
Benfica
Pontos fortes: A defesa
O Benfica já passou por um 4x2x3x1, por um 4x4x2 e chegou mesmo a surgir num 3x5x2. Há, porém, um dado que nunca mudou, por mais tempestades que os encarnados tenham enfrentado desde o início da época: a defesa do Benfica continua a ser o setor mais fiável das águias. No campeonato são a melhor defesa (10 golos) de entre as 18 equipas e, apesar das dúvidas iniciais, Trubin é de facto um salto qualitativo em relação a Vlachodimos. Mesmo perdendo Grimaldo, à esquerda, e sem poder contar com Alexander Bah, lesionado, à direita, Roger Schmidt pode respirar de alívio quando, à frente do guarda-redes ucraniano, vê a experiência de Otamendi, a tremenda qualidade de António Silva e a polivalência de Aursnes, pincelados com a valentia de Morato, agora adaptado a lateral-esquerdo e cada vez mais identificado com as exigências da posição.
Pontos fracos: O goleador
Em 2022/2023, ano do título, o Benfica contou com os 27 golos de Gonçalo Ramos, vendido ao PSG, os 23 golos de João Mário e os 14 golos de Rafa. Uma época depois, tanto João Mário como, sobretudo, Rafa, baixaram consideravelmente a veia goleadora e, no centro do ataque, continua a falar uma referência. Musa começou a titular mas parece não encher as medidas a Roger Schmidt, Arthur Cabral chegou, pago a peso de ouro, e não justificou a aposta, e a solução acabou por passar por Tengstedt, um avançado batalhador mas (ainda) não um goleador nato. Faltará, no ataque do Benfica, perante o tremendo número de ocasiões criadas, uma referência que possa ser servida pela quantidade de bons assistentes que Roger Schmidt possui no plantel.
A surpresa: João Neves
Não sendo propriamente algo surpreendente, a verdade é que a influência do jovem médio, de apenas 19 anos, no Benfica é algo claro e indesmentível. Numa temporada em que os encarnados foram ao mercado investir 29,7 milhões de euros em Kokçu, ex-capitão do Feyenoord, num meio-campo que já contava com Florentino, João Mário, e Aursnes, é João Neves quem encerra 2023 como o médio mais influente dos encarnados. Roberto Martínez percebeu rapidamente o potencial do jovem algarvio e proporcionou a estreia de João Neves na Seleção Nacional em outubro. Tudo indica que o médio tem lugar no lote português para o Euro-2024, restando saber se mantém o seu lugar no plantel do Benfica para lá de janeiro de 2024. É que os tubarões já viram o mesmo que Roger Schmidt e Roberto Martínez.
A desilusão: Arthur Cabral e Jurásek
O avançado custou 20 milhões de euros, Jurásek outros 14 milhões. Chegaram com as missões de substituir Gonçalo Ramos e Grimaldo, respetivamente. Quase meia época depois, é já um dado adquirido que tanto o brasileiro como o checo estão bem longe de fazer esquecer os seus antecessores e que o investimento da SAD do Benfica dificilmente terá retorno, tanto financeiro como desportivo.
FC Porto
Pontos fortes: O treinador
Não há volta a dar. Este FC Porto tem a assinatura de Sérgio Conceição e é graças ao treinador, que cumpre a sétima temporada no Dragão, que os azuis e brancos vão-se mantendo competitivos, ano após ano, dificuldade após dificuldade, com o fair-play financeiro da UEFA pelo meio. Aos 49 anos, Sérgio Conceição é um treinador completo, conhecedor a fundo do jogo, capaz de adaptar um sistema aos jogadores que possui e capaz de, no mesmo jogo, alterá-lo e ter, da parte dos jogadores, a resposta necessária, graças ao trabalho implementado ao longo da semana. Não se sabe quando mas é praticamente certo que Sérgio Conceição deixará um vazio difícil de preencher quando terminar a sua caminhada de dragão ao peito.
Pontos fracos: O ataque
O FC Porto tem o pior ataque dos três grandes (22, contra os 28 do Benfica e 32 do Sporting), o menor número de golos marcados dos cinco primeiros classificados do campeonato e, comparando com anos anteriores, o pior arranque em termos ofensivos desde 2007/2008. O problema não se centra, apenas e só, num indivíduo, nem no número de soluções à disposição de Sérgio Conceição - porque são cinco os pontas de lança do plantel.
É um facto que Taremi está a protagonizar a época menos produtiva, em termos de golos, das quatro que já leva de dragão ao peito, e que Evanilson foi durante muito tempo uma carta a menos no baralho, por lesão. Mas há, depois, Toni Martínez, que parece ter perdido espaço no plantel, Danny Namaso, que tem sido inconstante na sua afirmação na equipa principal e, claro, o reforço ofensivo para 2023/2024, Fran Navarro, que chegou com o cartão de visita dos 21 golos marcados pelo Gil Vicente mas já foi emprestado ao Olympiacos. O problema do ataque do FC Porto existe, é um facto, restará a Sérgio Conceição encontrar a solução, interna ou externamente.
A surpresa: Stephen Eustaquio
O FC Porto perdeu Otávio, um dos jogadores mais influentes nos últimos anos, e ganhou Alan Varela, contratado, com investimento de oito milhões, mais três por objetivos, ao Boca Juniors. A verdade é que, perante o que se tem visto, o sucessor do médio luso-brasileiro, internacional português, agora no Al Nassr, da Arábia Saudita, estava dentro de casa. Depois de meia época de adaptação, emprestado pelo Paços de Ferreira, e uma época de afirmação, no ano passado, Stephen Eustaquio é agora o patrão do meio-campo dos dragões, capaz de se desdobrar em diferentes papéis, qual Otávio, acrescentando, às assistências, os golos e a voz de comando que Sérgio Conceição tanto aprecia. Não surpreende que tenha fechado 2023 com a eleição para melhor futebolista canadiano do ano, à frente de nomes como Alphonso Davies, do Bayern Munique, e Jonathan David, do Lille.
A desilusão: Fran Navarro
Custou cerca de 7 milhões de euros ao FC Porto. O que, olhando para os números apresentados nos dois anos ao serviço do Gil Vicente, parecia uma pechincha. Fran Navarro fechou a época de 2022/2023 com 21 golos em 43 jogos pelos gilistas e parecia encaixar que nem uma luva no onze azul e branco. Os dragões ganharam a corrida a vários clubes pelo avançado espanhol de 25 anos que, ao cabo de quase meia época, marcou apenas um golo em dez jogos, dois deles a titular, sendo que um foi na Taça de Portugal, diante do Vilar de Perdizes. Pouco, muito pouco, surpreendentemente pouco, para quem se habituou a admirar as qualidades de Fran Navarro, agora reforço do Olympiacos, de Carlos Carvalhal, para a segunda metade da temporada.
Sporting
Pontos fortes: O ataque
O Sporting não tem o melhor ataque do campeonato, porque esse pertence ao SC Braga (32 contra 39), mas tem na frente de ataque o fator que o distingue dos demais, que o distingue em relação à última temporada e que o coloca na liderança da Liga a terminar o ano civil. Há Viktor Gyokeres, claro, mas também há Marcus Edwards, Pedro Gonçalves, Paulinho e Trincão. Rúben Amorim identificou o problema, corrigiu-o, apresentou resultados perante a aposta e colhe agora os frutos.
Pontos fracos: A baliza
O Sporting também não tem a pior defesa do campeonato mas tem a mais permeável dos três grandes (16 golos sofridos contra os 10 de Benfica e 11 de FC Porto). E o problema parece estar a crescer na baliza. Antonio Adán, figura dos leões nos últimos anos, tem sido cada vez mais questionado, os erros vão-se igualmente acumulando e, quando se olha para alternativas, Franco Israel parece estar ainda verdinho para assumir a responsabilidade e, mais atrás, Diego Callai parece pedir um empréstimo para crescer em definitivo entre os graúdos.
Num onze de Rúben Amorim que é cada vez mais inquestionável, reside na baliza a principal interrogação e dúvida dos adeptos. Com 36 anos, Adán tem contrato até final da época, pode ainda renovar por mais um ano mas parece chegada a altura da SAD leonina apontar à baliza quando se desbruçar sobre os alvos a atacar no mercado de verão em 2024.
A surpresa: Viktor Gyokeres
Chegou do Coventry, do Championship, e era praticamente um desconhecido para os adeptos portugueses. Custou 20 milhões de euros, que podem ser 24, e logo aí ficou com o peso nos ombros de ser o maior investimento da história do Sporting no mercado de transferências. A verdade é que Viktor Gyokeres não demorou muito tempo a convencer, vencer e tornar-se já num ídolo, provavelmente até o principal, em Alvalade. Ao 25 anos, o avançado internacional sueco é inquestionavelmente o melhor reforço do verão no campeonato português e tem sido a pedra que faz pender a balança para o leão na luta pelo título de campeão. Tem golos, tem instinto, tem velocidade e tem, sobretudo, uma força física incrível, que tanto tem apaixonado os adeptos e que, rapidamente, colocou-o de novo no mercado, agora abrindo o apetite aos tubarões e com a cláusula de 100 milhões de euros a começar a parecer "curta" para o potencial que rapidamente demonstrou de leão ao peito.
A desilusão: Iván Fresneda
Foi o último dos três reforços de verão a chegar, todos eles contratados de forma cirúrgica, todos eles parecendo escolhidos a dedo para caber, de imediato, no onze de Rúben Amorim. Viktor Gyokeres cumpriu, Hjulmand também, mas na lateral-direita Iván Fresneda, figura de proa no Valladolid, responsável por uma luta tremenda no mercado, ganha pelo leão, que colocou em cima da mesa oito milhões de euros por um lateral de 19 anos, tarda em justificar a aposta. Rúben Amorim justificou a dificuldade de afirmação pela idade e necessidade de adaptação, mas a verdade é que o Fresneda que se viu, nos escassos 165 minutos de leão ao peito, é uma sombra daquele que apaixonou Espanha nos 24 jogos pelo Valladolid. As comparações com Pedro Porro podem não ter ajudado, é um facto, e muito menos a lesão grave num ombro que o retirou das opções desde novembro. Mas, até aí, foram apenas 165 minutos, seis deles na Liga, divididos por cinco partidas. Muito curto.