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Análise: Sem a Santíssima Trindade Sousa-Cristo-Mujica, quo vadis Arouca?

Arouca perdeu figuras-chave na temporada passada
Arouca perdeu figuras-chave na temporada passadaFC Arouca
O Arouca recuperou de uma entrada em falso na temporada passada para terminar num sólido sétimo lugar sob o comando de Daniel Sousa, mas num espaço de três meses perdeu o treinador, o goleador e, mais recentemente, o criador. No regresso da Liga Portugal, os arouquenses recebem o campeão nacional Sporting ainda com muitas dúvidas por esclarecer, mas um modelo vencedor.

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Daniel Sousa, Rafa Mujica e Cristo González. No final de mais uma temporada de alto nível, os lobos perderam as três grandes figuras da equipa - quatro, se contarmos com a saída a custo zero do guarda-redes De Arruabarrena - e sagraram-se um dos grandes vencedores do mercado de transferências, acumulando uma receita perto dos 20 milhões de euros. 

Longe de se submeter às saídas, a administração arouquense contra-atacou planeando antecipadamente as possíveis saídas de elementos fulcrais e apostando em jogadores com credenciais. Gonzalo García foi identificado desde cedo para assumir o comando técnico, Ivo Rodrigues regressou à Serra da Freita, Loum, Fukui e Alex Pinto têm provas dadas na Liga, Nico Mantl, Pablo Gozálbez e Yalcin são apostas fortes. 

"Não há segredo e não é de agora a nossa estratégia de abordagem ao mercado. Procuramos talento em todo o mundo e temos especial atenção a jogadores que sabemos que têm valor, que têm escola, mas que por vezes estão meio mortos. Acreditamos que os podemos ressuscitar, noutro contexto, e felizmente isso tem acontecido, de tal forma que hoje, quando vamos negociar contratações, o Arouca já é conhecido lá fora por valorizar jogadores, o que também nos ajuda", disse esta quinta-feira o diretor-geral e desportivo do clube Joel Pinho, na Thinking Football Summit.

O arranque de temporada foi próprio de uma equipa em transição e adaptação, com três derrotas averbadas (duas pela margem mínima) e um triunfo nos quatro primeiros jogos. Mas todos sabem que a Liga Portugal costuma ser implacável com quem precisa de tempo. Com tantas novidades, o Flashscore apresenta-lhe uma breve passagem pelos pontos fulcrais deste novo Arouca antes da receção ao campeão nacional Sporting. 

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Acompanhe o relato áudio através da app ou siteFlashscore

Daniel Sousa -> Gonzalo Garcia

Daniel Sousa rendeu Daniel Ramos depois da entrada em falso na temporada passada e conseguiu, não só retirar o clube do último lugar, mas navegar o barco em direção a águas tranquilas no que toca à permanência, chegando mesmo a envolver-se na luta pelos lugares europeus na reta final. O trabalho realizado não passou despercebido e foi contratado pelo SC Braga antes da época terminar, mas acabou por ser despedido logo após a jornada inaugural da nova edição da Liga Portugal. Enfim, coisas do futebol português.

Entretanto, em Arouca, a raiva de como o processo foi conduzido pelos arsenalistas foi aplicada em trabalho e Gonzalo Garcia foi prontamente anunciado como sucessor ainda em maio. Um nome desconhecido, mas que mereceu a confiança da estrutura arouquense após passagens pelos neerlandeses do Twente e dos croatas do NK Istra. 

À primeira vista, não parece haver muita diferença no modelo de jogo, assente em posse de bola paciente e jogo associativo quem tem sido característica desde os tempos de Armando Evangelista. No entanto, perderam-se as fugas na profundidade de Mujica e capacidade de decisão e imprevisibilidade de Cristo González no último terço, algo que vai obrigar a algumas nuances. 

Rafa Mujica -> Henrique Araújo

Rafa Mujica é um perfeito exemplo do modelo de negócios do Arouca, espreitar para os mercados circundantes (principalmente Espanha) para ver quais os valores que estão a ser desaproveitados. O avançado chegou a Portugal com apenas dois golos apontados em duas temporadas, mas mais do que o momento de forma, o scouting olhou para as características. A aposta foi mais do que recompensada: 37 golos em 68 jogos permitiram ao Arouca faturar cerca de 10 milhões de euros por um jogador contratado a custo zero.

O bielorrusso Uladzislau Marozau já estava no plantel, mas além de ter outras características, parece precisar de mais tempo para se adaptar ao futebol português, portanto foi preciso recorrer ao mercado. Por ali surgiu um nome outrora badalado, mas que tem vindo a perder peso nos últimos anos: Henrique Araújo. 

O avançado do Benfica, agora com 22 anos, chegou por empréstimo do Benfica depois de dois empréstimos fracassados ao Watford e ao Famalicão, em que não apontou nenhum golo. Porém, na Serra da Freita, já se estreou a marcar e promete não ficar por aí. Bem diferente de Mujica, Henrique Araújo oferece outras dinâmicas à equipa e dispõe de mais recursos técnicos do que o espanhol, mas precisa de melhorar na finalização.

Cristo González -> Guven Yalcin

Percamos os paninhos quentes: a saída de Cristo, já depois do fim do mercado de transferências, foi um murro no estômago para os adeptos arouquenses. O extremo ex-Real Madrid foi mais um dos reabilitados com sucesso na Serra da Freita, depois de apenas uma época em que somou 18 golos e 10 assistências. Ainda assim, os cerca de 9 milhões de euros que deixou nos cofres do Arouca eram bons demais para recusar.

Até porque, sabendo desde cedo que este seria um dos ativos mais valiosos, a equipa tratou de arranjar um substituto à altura antecipadamente. A escolha recaiu sobre o internacional turco Guven Yalcin, já campeão no seu país ao serviço do Besiktas (2020/21), mas que chega por empréstimo do Génova, com opção de compra.

Outrora uma promessa turca, o médio ofensivo de 25 anos chega no mesmo ponto da carreira em que se encontrava o espanhol. Sem espaço no Génova, que o cedeu ao Karagumruk, somou 9 golos e 4 assistências no regresso à Superliga turca. 

Ainda sem jogos disputados (anunciado no dia da última jornada frente ao Rio Ave), o internacional turco por três ocasiões é visto como o natural sucessor de Cristo González, mas terá que dar à corda porque a concorrência é forte (Ivo Rodrigues, Jason, Miguel Puche, Trezza...).

Valores seguros

Mais do que as investidas e receitas do mercado de transferências, outro dos pilares para a ascensão e manutenção do Arouca na tabela superior tem sido a presença e valorização de figuras-chaves que fogem aos grandes holofotes, mas são preciosos na casa das máquinas. Os dois maiores exemplos são, sem sombra de dúvida, David Simão e Tiago Esgaio

O lateral assinou definitivamente com os lobos depois de três empréstimos sucessivos do SC Braga no qual se tornou fundamental na linha defensiva, simboliza o espírito de luta e sacrifício. David Simão, por seu lado, é, simultaneamente, a garra e o cérebro, funcionando como o maestro da orquestra desde que regressou ao clube, em 2021/22. 

Além destes dois, o Arouca conta ainda com uma pérola escondida neste campeonato que, no meu entender e com respeito pelos arouquenses, já vai merecendo voos mais altos e uma atenção redobrada. Morlaye Sylla é um portento de regularidade e adaptabilidade inigualável no campeonato. Depois de uma breve passagem pelas camadas jovens, regressou ao clube em 2022/23, tendo somado 82 jogos em duas temporadas. Já jogou a médio, a lateral e, mais recentemente, a médio ofensivo e raramente faz uma má exibição.

Reforços com provas dadas

Mais importante do que gastar muito é gastar bem e, neste aspeto, o Arouca parece, além de ter aprendido com os erros do passado (despromoção após qualificação europeia em 2016/17), ter começado a preparar a época bem mais cedo do que o habitual ao identificar e resgatar alvos concretos.

A contratação de Nico Mantl, internacional jovem pela Alemanha e ex-RB Salzburgo, foi surpreendente pelo estatuto e timing madrugador, enquanto as apostas em Alex Pinto, Loum e Taichi Fukui revelam um trabalho de casa bem feito e sem correr grandes riscos, já que ambos conhecem e singraram no campeonato. 

Por outro lado, o regresso de Ivo Rodrigues é tal e qual o protagonizado há alguns anos por David Simão. Já as apostas de futuro ficaram reservadas para nomes como Pablo Gozálbez e Chico Lamba, à semelhança da que foi feita anteriormente em AntonyPedro Santos, Matías Rocha e/ou Vitinho

"Perder e ganhar faz parte, há que saber conviver com ambas as realidades. Procuramos sempre melhorar, mas a verdade é ao longo deste tempo não mudámos assim tanto a nossa forma de trabalhar, a nossa forma de gerir, a nossa estrutura", vincou Joel Pinho.

É caso para dizer que, se (o modelo) não está estragado, não se mexe. Resta é saber se o uruguaio Gonzalo García terá unhas para tocar esta guitarra portuguesa de cordas espanholas.

Análise de André Guerra
Análise de André GuerraFlashscore