Balanço da Liga: Amorim movido a Gyökeres conduz Sporting ao 20.º título
Depois do quarto lugar de 2022/23, que em outras paragens ditaria certamente a saída, Amorim manteve-se fiel ao 3-4-3, sem plano B, e, com a ajuda de 29 golos e nove assistências do sueco, repetiu a conquista de há três anos.
A formação leonina quase arrebatou a prova antes do seu início, quando pagou uma verba recorde de 20 milhões de euros – mais quatro por objetivos – ao Coventry por Gyökeres, que encaixou na perfeição no esquema tático do Sporting, dando-lhe a profundidade que não tinha tido nos anos anteriores.
Não pode afirmar-se que o Sporting não seria campeão sem o possante avançado de 25 anos, mas é indiscutível que este 20.º cetro tem tatuado o nome do sueco, talvez o jogador mais impactante no clube desde Mário Jardel, em 2001/02.
Com tanto Gyökeres, quase todos os outros passaram para segundo plano, até porque o sueco é o maior responsável pelo impressionante registo ofensivo dos leões, que somaram 96 golos, o sétimo melhor registo da história da competição.
O título também teve, porém, o cunho do capitão e líder Coates, do importante reforço Hjulmand, da magia de Pedro Gonçalves (11 golos e 12 assistências), dos preciosos 15 golos de Paulinho ou da grande segunda volta de Trincão.
Depois, o Sporting também teve um inesperado joker, em Geny Catamo, o menino que decidiu o jogo do título, com um bis ao Benfica, sendo, como coletivo, sempre forte, coeso e capaz de reagir aos poucos momentos negativos que foi enfrentando, sobretudo na fortaleza Alvalade (17 vitórias, em 17 jogos).
Amorim raramente teve de recorrer ao único plano B que já apresentou, a colocação de Coates como ponta de lança, tal a competência da equipa, que somou um máximo absoluto do clube de 90 pontos – apenas a um do recorde do FC Porto (91 em 2021/22) -, superando os 86 com Jorge Jesus, em 2015/16.
No total, um recorde de 29 vitórias e apenas duas derrotas, quase seguidas, na Luz (1-2, à 11.ª jornada) e em Guimarães (2-3, à 13.º), mais três empates, em Braga (1-1, à quarta), Vila do Conde (3-3, à 23.ª) e Dragão (0-2 para 2-2, à 31.ª).
O Sporting liderou, praticamente, a prova de início ao fim e, sem jogos em atraso, nunca esteve em desvantagem pontual para qualquer equipa, sendo, episodicamente, ultrapassado pelo Benfica, que deu alguma luta, mas nunca convenceu.
Após o título de 2022/23, alicerçado num espetacular trajeto até ao Mundial-2022, com Enzo Fernández, o campeão nunca mostrou qualidade coletiva para repetir o feito, nem mesmo quando, na primeira volta, venceu, contra 10, Sporting e FC Porto.
O falhanço rotundo nas substituições de Gonçalo Ramos, que não teve sucessor em Musa, Tengstedt, Arthur Cabral ou Marcos Leonardo, e Grimaldo, pois Jurásek e Bernat não resultaram, condenou a equipa, que viveu também desde início um clima de contestação ao treinador alemão Roger Schmidt.
A formação encarnada, que também não conseguiu encaixar o reforço milionário Kökçü e atirou Aursnes para as laterais, teve como maior destaque o omnipresente João Neves, secundado pela magia do pé esquerdo do regressado Di María.
Mesmo com um futebol incapaz de cativar os adeptos, o Benfica ainda estava na corrida ao bis à 23.ª jornada (mais dois pontos do que o Sporting, que tinha um jogo em atraso), mas, depois, foi incrivelmente goleado no Dragão (0-5, à 24.ª ronda), antes do adeus definitivo em Alvalade (1-2, à 28.ª).
Para as águias, salvou-se o segundo lugar, o último de acesso à Champions 2024/25, que não foi difícil de segurar, face à pior época do FC Porto sob o comando de Sérgio Conceição, no adeus pela porta pequena do presidente Pinto da Costa.
Os dragões cederam seis empates e seis derrotas, ficando-se pelos 72 pontos, o pior registo desde 2004/05, e só marcaram 63 golos, o mínimo desde os 54 de 2005/06, contabilizando apenas os campeonatos a 18 clubes.
Desta forma, Conceição, na sétima época no Dragão, bisou pela primeira vez o falhanço, num percurso irregular, sobretudo em casa (quatro empates e duas derrotas), incapaz de se inspirar nas ‘benesses’ iniciais dos descontos e em que o sempre saboroso 5-0 ao Benfica não foi mais do que um momento isolado.
A explosão do jovem Francisco Conceição, que começou como suplente, após época em branco no Ajax, e acabou como titular indiscutível, foi a melhor notícia para os ‘dragões’, que também contaram com boas prestações de Wendell, Evanilson (13 golos) e Pepê, todos chamados para a Copa América, ao contrário de Galeno.
O coletivo, o todo, deixou, porém, muito a desejar, com o último lugar do pódio – sexta vez fora do ‘top 2’ nos últimos 47 anos, como em 1981/82, 2001/02, 2009/10, 2013/14 e 2015/16 – a ser assegurado apenas na última ronda, à qual os ‘dragões’ chegaram com o risco de ‘caírem’ para 1975/76, o último quarto posto.
Acabou por ser o SC Braga o quarto, o rei dos pequenos pela sétima vez consecutiva, mas, novamente, longe da frente, da luta pelo título, a 19 pontos do campeão Sporting, que não bateu, nem o Benfica ou o FC Porto – um ponto em seis jogos.
Sob o comando de Artur Jorge, e sobre o final de Rui Duarte, quando o antigo central rumou ao Botafogo, os arsenalistas pecaram sobretudo defensivamente, com 50 golos sofridos, o pior registo desde igual marca em 1998/99. Pior, só em 1969/70 (52).
Do lado oposto, o congolês Simon Banza foi o grande destaque, com 21 golos, 14 antes de ir ao CAN, acompanhado pelo espanhol Álvaro Djaló, que vai partir para o Athletic, e o experiente João Moutinho, muito regular no regresso ao campeonato luso.
O último lugar europeu – face a uma final da Taça de Portugal entre Sporting e FC Porto - foi arrebatado pelo Vitória SC, que voltou, cinco anos depois, a ser quinto, com recorde de pontos (63), numa época com cinco treinadores, mas maioritariamente Álvaro Pacheco, sendo que três só cumpriram um jogo.
Jota Silva, que marcou 11 golos e chegou a internacional português, foi o mais entusiasmante dos jogadores da equipa vimaranense, que prometeu mais, quando, à 28.ª jornada, venceu por 2-1 no Dragão e ficou a dois pontos do terceiro posto. Não cumpriu no final.
Proveniente da Liga 2, como campeão de 2022/23, o Moreirense, do estreante Rui Borges, fez uma época muito tranquila, mais perto da Europa do que a descida, para acabar num muito positivo sexto posto, repetindo o seu melhor de sempre (2018/19), também com recorde de pontos (55).
No sétimo posto, ficou o Arouca, que, na sétima época na I Liga, voltou a estar em grande plano, com o sétimo lugar – foi quinto em 2015/16 e 2022/23 -, com um futebol que encantou, liderado em campo pelos espanhóis Rafa Mujica, Cristo González e Jason e no banco por Daniel Sousa, que substituiu Daniel Ramos (com a equipa no 18.º posto, após 11 jornadas) e vai rumar a Braga.
O oitavo foi o Famalicão, que repetiu a classificação das duas últimas épocas, alicerçado na pontaria do avançado venezuelano Jhonder Cádiz, autor de 15 golos.
Por seu lado, o Casa Pia, que acabou muito bem com Gonçalo Santos, fechou a primeira metade da tabela, ao acabar no nono posto, muito por culpa do que fez fora, conquistando 24 pontos, contra os escassos 14 arrebatados em casa.
No regresso à Liga, O Farense, com o experiente José Mota ao comando, foi um tranquilo 10.º colocado, muito por culpa das atuações de Ricardo Velho na baliza, mas também aos 13 golos de Bruno Duarte e aos sete da revelação Belloumi.
O 11.º foi o Rio Ave, o rei dos empates, com um total de 19, um novo recorde da prova, 13 dos quais na segunda volta, na qual a formação liderada por Luís Freire só perdeu um jogo – melhor só Sporting, que não conheceu o sabor da derrota.
Com menos um ponto do que Farense e Rio Ave e dois do que o Casa Pia, o Gil Vicente acabou em 12.º, num percurso em que se destacaram o suíço Maxime Dominguez e Félix Correia.
O Estoril, que teve como pontos altos os dois triunfos face ao FC Porto, ambos por 1-0 e selados com livres diretos, foi o 13.º, liderado pela classe do francês Rafik Guitane e Rodrigo Gomes, apesar dos escassos oito pontos conquistados fora.
Abaixo dos canarinhos, o Estrela da Amadora (14.º), que contou com oito golos de Kikas, sendo titular apenas 15 vezes, e o Boavista (15.º), que começou bem e teve um percurso sempre descendente, só confirmaram a manutenção à última hora, os ‘axadrezados’ mesmo na derradeira jogada, de penálti.
Por seu lado, o Portimonense, de Paulo Sérgio, acaba a prova na incerteza, já que terá de vencer o play-off, com o terceiro colocado da Liga 2, para conseguir a manutenção, para a qual não chegaram, para já, os 10 golos de Carlinhos.
Nos dois últimos lugares, que valem a despromoção à Liga 2, ficaram o Vizela (17.º) e o Chaves (18.º), que tiveram em comum a inspiração dos seus pontas de lança, os 15 tentos do francês Essende e os 14 do espanhol Héctor Hernández, respetivamente.