Balanço da Liga: Augusto Inácio rendido a Mújica, João Neves e Gustavo Sá
“Todas as equipas tiveram sempre intenções ofensivas, salvo raras exceções. Mostraram essa intenção em casa ou fora, mas, por vezes, descuravam um bocadinho mais a parte defensiva. Repare-se que o Chaves desceu com 31 golos marcados e 72 sofridos e o Vizela com um saldo de 36-66. Ou seja, a meta de faturar esteve presente, mas, depois, tinha de haver equilíbrios e essas equipas foram baqueando por completo”, enquadrou à agência Lusa um dos 11 campeões portugueses como jogador e treinador.
Com 446 tentos nas 17 primeiras jornadas, recorde em qualquer volta com 18 equipas, e 431 a partir da 18.ª ronda, a 90.ª edição do campeonato rendeu mais 46 golos do que a anterior melhor marca, fixada em 2015/16, com 831 remates certeiros, à média de 2,72.
“Claramente, os espetáculos são melhores e as equipas estão bem organizadas, mas há aspetos que, por vezes, me causam alguma espécie. Muitos golos sofridos aconteceram através da saída com bola em pontapés de baliza. A ideia ofensiva é boa, mas, como em tudo, tem de haver equilíbrios e diversas equipas não o tiveram. Pensar em construir atrás, mas, depois, falta perceber se têm futebolistas para sair a jogar com qualidade dessa forma. Meter essa prioridade na cabeça nem sempre dá bom resultado”, analisou.
Em relação à época passada, na qual tinham sido apontados 763 golos, houve mais 114 remates certeiros, com clara contribuição do campeão Sporting, que igualou os 96 tentos de 1973/74, 29 dos quais concretizados pelo avançado sueco Viktor Gyökeres, sucessor de Taremi, do FC Porto, como melhor marcador da Liga na primeira época em Portugal.
“O que influenciou a temporada foi o (treinador) Rúben Amorim entender que necessitava de um ponta de lança, porque aquilo que tinha não chegava para a ambição do Sporting. Depois, foi o critério de escolha. O Sporting nunca tinha gastado 20 milhões de euros por um jogador. Quando foi buscar um nome ainda desconhecido (do Coventry) ao segundo escalão inglês, toda a gente ficou pensativa, mas só o tempo provaria se era ou não uma boa aposta. Acabou por ser”, explicou Augusto Inácio, campeão como jogador (1979/80 e 1981/82) e treinador (1999/00, após 18 anos de jejum) ao serviço do clube de Alvalade.
Gyökeres foi ladeado no pódio dos principais artilheiros pelo congolês Simon Banza, do SC Braga, com 21 tentos, e pelo espanhol Rafa Mújica, do Arouca, com 20, um “goleador fino e espontâneo”, que está a caminho do Al-Sadd, recém-campeão do Catar.
“Gosto também do Gustavo Sá, um menino de 19 anos, que é médio do Famalicão e tem muita maturidade para aquela idade. Ultimamente, a equipa estava a encaixar-se no seu jogo, que é transportar a bola, desequilibrar e saber defender. É interessantíssimo e pode ir para outra dimensão, pois tem futebol para tal. Depois, não se pode esquecer que João Neves foi sempre a figura do Benfica. Tem 19 anos e já joga como um adulto”, destacou.
Numa época em que todas as equipas chegaram às três dezenas de golos pela primeira vez desde 2002/03, Augusto Inácio, de 69 anos, assume que “esperava um pouco mais” do SC Braga, quarto colocado, enquanto o Vitória SC, quinto, “deitou tudo a perder com questões internas, após ter efetuado uma recuperação espetacular”.
Moreirense, sexto, com um recorde de 55 pontos, Arouca, sétimo, e Farense, 10.º, foram também realçados pelo ex-defesa, que recordou os percursos em sentido oposto de Rio Ave, 11.º, e Boavista, 15.º, ambos proibidos de inscrever jogadores no início de 2023/24.
As panteras garantiram a manutenção no limite e relegaram o Portimonense, 16.º, sobre o qual tinham melhor saldo de golos, face à igualdade pontual e no confronto direto, para um play-off a duas mãos diante do AVS, terceiro da Liga 2, em 25 de maio e 02 de junho.
“O Portimonense é aquele clube que está sempre em reconstrução, tem vendido muitos atletas e, depois, demora o seu tempo para ter outra vez uma equipa competitiva”, notou Augusto Inácio, sentindo que Vizela, 17.º, e Chaves, 18.º e último, “tinham possibilidades para fazer muito melhor” e evitar a queda no segundo escalão três e dois anos depois, respetivamente, sendo substituídos pelos insulares Santa Clara e Nacional.