Balanço da Liga: Rúben Amorim fiel a si próprio é bicampeão como treinador
Contratado ao SC Braga em 2019 pela então proibitiva quantia de 10 milhões de euros, o ex-jogador campeão como futebolista pelo Benfica deu o segundo canecoaos leões, três anos após a vitória em plena pandemia da covid-19.
Depois da vitória de 2020/21 - na sua primeira época completa em Alvalade, onde chegou na parte final da época 2019/20, que acabou no quarto posto -, o Sporting tinha sido segundo em 2021/22 e novamente quarto na época passada.
Este último registo, ‘mortal’ por outras paragens, não provocou, porém, qualquer turbulência em Alvalade, pelo que Amorim pôde continuar a fazer o seu trabalho com tranquilidade e manter-se fiel às suas ideias.
Acima de todas, ao sistema tático, um 3-4-3 com três centrais, dois laterais – com maior ou menor pendor ofensivo, dependente das situações - na linha dos dois médios e um trio na frente, com dois jogadores nas faixas e um ponta de lança.
Amorim chegou a falar em ter um plano B, outro perfil tático, mas nunca o colocou em prática em todas estes anos, sendo exceção a subida de Coates para ponta de lança, aproveitando o bom jogo de cabeça do capitão, que se afigurou sempre mais um opção de desespero, uma última tentativa.
Nesta época, o treinador do Sporting raramente precisou, porém, de recorrer a Coates, o que teve muito a ver com a contratação do possante avançado sueco Viktor Gyökeres, que encaixou às mil maravilhas no esquema dos leões.
Ao contrário do que sucedeu nas épocas anteriores, Amorim conseguiu a peça perfeita para o seu 3-4-3, pela potencia física do sueco, a sua capacidade goleadora e a de dar uma grande profundidade ao ataque dos leões.
Com Gyökeres, o Sporting conseguiu esticar mais o jogo, com o sueco a mostrar-se exímio em ganhar a bola aos adversários e permitir a chegada dos companheiros, quando não foi ele próprio para a baliza, resolver sozinho, com o seu potente remate.
Em relação a 2022/23, Amorim também acertou claramente na contratação do médio dinamarquês Hjulmand, ex-jogador do Lecce, que foi um ‘upgrade’ em relação à presença do mais defensivo uruguaio Ugarte, vendido ao Paris Saint-Germain.
Além das duas contratações cirúrgicas, o treinador leonino teve ainda o mérito de descobrir o moçambicano Geny Catamo, que, aos poucos, foi ganhando o lugar ao experiente Ricardo Esgaio na direita, acabando até porque decidir o jogo do título.
Eduardo Quaresma (22 anos), regressado do Hoffenheim, e Daniel Bragança (24), após uma época lesionado, foram outros jovens nos quais Amorim mostrou ter toda a confiança, sem esquecer Diomande (20) e Gonçalo Inácio (22), que reafirmaram a sua qualidade.
Confesso admirador das qualidades de Paulinho, Amorim também ficou, certamente, satisfeito com o jogador que trouxe do SC Braga, e somou 15 golos, sendo o segundo melhor marcador da equipa, e cinco assistências, mesmo com escassas 11 presenças no ‘onze’, contra 20 utilizações a partir do banco.
O técnico leonino nunca deixou cair o avançado luso, nem Francisco Trincão, que, aos 24 anos, não foi aposta na primeira metade da época, mas apareceu ao seu melhor nível na segunda, na qual somou sete golos e seis assistências.
Tendo em conta os resultados, respaldados por exibições quase sempre muito positivas, e um futebol ofensivo e muito goleador, como é prova o impressionante registo de 96 tentos marcados, bem se pode dizer que Rúben Amorim fez tudo bem.
Não terá sido bem assim, nunca é, e Amorim até teve de pedir desculpas por, ainda com o título matematicamente por selar, ter ido a Inglaterra ouvir propostas para 2024/25, mas o saldo dificilmente poderia ter sido mais positivo.
E, se a saída no final da época chegou a parecer uma inevitabilidade, agora até se afigura provável que o jovem técnico de 39 anos continue em Alvalade em 2024/25, o que quererá fazer, certamente, na companhia de Viktor Gyökeres.
Com esta dupla, o Sporting já partirá à frente em busca de um bis que não consegue desde o tetra de 1950/54, mais ou menos numa outra vida. Tem a palavra Rúben Amorim.