Exclusivo com André Martins: "Acho que João Pereira é a melhor opção para o Sporting"
- Como é que te estás a sentir após a carreira de futebolista?
- A verdade é que ainda não senti aquele luto que todos os ex-futebolistas dizem que acontece, porque apareceu uma oportunidade de trabalho para ser comentador, falar do que gosto e do que fiz na minha vida: futebol. Apareceu uma paixão pelo Padel e se calhar ainda não me caiu a ficha de que não o vou voltar a fazer profissionalmente. Para já estou feliz, estou estável e isso para mim é o mais importante
- Sentes que o futebol nunca vai sair da tua vida?
- Sempre ligado, porque foi a minha vida durante muitos anos, a minha grande paixão. O futebol deu-me muito e sou muito agradecido. Neste momento sou comentador, falo sobre futebol e para o resto da vida vou estar ligado a este desporto.
- Mas falta o cheiro do balneário…
- Mesmo o da relva. Às vezes quando vou comentar jogos ainda sinto aquele cheiro a relva cortada, que é um cheiro muito característico. O ambiente do balneário faz muita falta, porque só vivenciado esses momentos é que se sabe o que estou a dizer.
- Porquê acabar a carreira aos 34 anos?
- Fisicamente, não vou negar, sinto-me bem, conseguia jogar mais algum tempo, mas também é verdade que mentalmente um bocado cansado. Muitos anos fora de Portugal, nenhuma proposta que apareceu me senti confortável, não era projetos agradáveis para mim e para a minha família, e isso é o mais importante para mim que tenho dois bebés e uma mulher que sempre me acompanhou. Senti que agora é o momento de ter a carreira e surgiu esta oportunidade de ser comentador.
Nos últimos tempos estiveste em Israel, um país muito marcado pela guerra. Isso também contribuiu para o desgaste?
- Acabou por desgastar. Desportivamente não foi das melhores épocas e isso pesa na decisão. É um país em conflito constantemente. Saí de lá dois meses antes de estalar esta guerra entre Gaza e Israel. Agradecido por isso, por estar em Portugal, feliz com a minha família.
- Foste campeão na Grécia e na Polónia, são os títulos que ficam?
- Não sendo hipócrita, a verdade é que o futebol me deu muito financeiramente e deu esta estabilidade de aos 34 anos dizer que não vou voltar a fazer o que mais gosto. Mas deu mais que isso, amizades para a vida e estes títulos que são memórias que vão ficar para sempre guardadas, porque é o auge de qualquer carreira chegar a um clube e ser campeão.
- Passaste pela Grécia, Polónia e Israel, o que levas destas sociedades?
- São países totalmente diferentes. Fui muito feliz em todos eles, de maneiras diferentes. Desportivamente tive os melhores naos na Polónia, fui bicampeão, quase sempre titular. Foi a minha melhor fase, senti que era quando estava melhor. Na Grécia fui muito feliz, país bom para viver, com muito calor, adeptos fanáticos pelos clubes. Israel é um país diferente, com cultura diferente e estas experiências são sempre boas.
- Se te pedissem para escolher o melhor treinador e o melhor jogador com quem treinaste, quem é que escolhias?
- Tive a sorte de trabalhar com grandes treinadores, excelentes jogadores. A destacar um, o Jorge Jesus, que me marcou imenso e foi com quem joguei menos. Podia dizer outros, Marco Silva, Leonardo Jardim, Sá Pinto, Domingos Paciência que me lançou no Sporting. O professor Jesualdo Ferreira. Todos me ajudaram na carreira. E depois joguei com grandes jogadores, o João Pereira foi dos melhores profissionais com quem trabalhei, joguei com o Matías Fernández no Sporting, o Luka Milivojevic no Olympiacos, mas se tivesse que escolher um, pelo talento puro, era o Josué, do FC Porto. Foi um dos melhores e maiores talentos com quem jogou.
- O que diferencia o Jorge Jesus?
- Os detalhes, os pormenores, a exigência tática e técnica, o querer sempre mais e melhor. 2-0 não chega, 3-0 não chega. Quer sempre a perfeição e isso faz dele diferenciado.
- És sportinguista?
- Sim, já o era e a minha ida para a Academia só o fortaleceu.
- Como estás a viver o momento atual? Principalmente da saída do Rúben Amorim?
- Acho que o Rúben deu muito ao Sporting, não só em títulos, mas em termos de estrutura. Não foi só treinador, foi gestor de projeto. As coisas estão bem assimiladas, bem estruturadas. Em termo dos adeptos gratidão máxima ao Rúben Amorim, porque fui colega dele na Seleção. Desejo a maior sorte do mundo, já apreciava as características como pessoa, é humilde, trabalhador, impecável. Merece todo o sucesso que está a ter e deixa um clube bem estruturado.
- Fala-se muito do João Pereira como o sucessor, mas também há quem advogue um treinador com mais experiência. Qual é o teu posicionamento?
- Sendo o João Pereira, acredito que já fosse uma ideia pensada pelo presidente (Frederico Varandas), já falada e estaria a ser preparada, não para agora. Mas o futebol é assim, é uma grande oportunidade para o João Pereira. A equipa está bem, recomenda-se. Podem achar que é fácil, mas não é, um treinador novo e vai lidar com jogadores diferentes. Acho que é a melhor opção para já, mas depois perceber que resultados vai ter
- Percebes semelhanças entre o João Pereira e o Rúben Amorim?
- A nível de sistema e de ideias, sim. Acompanhei as equipas do João e vejo muitas semelhanças, mas só o futuro dirá se vão ser parecidos ou não.
- Esta aposta na continuidade era o melhor?
- Acredito que sim, por todos os motivos. A continuidade é o melhor, mas só os resultados vão confirmar.
- Sporting continua a ser o principal candidato ao título?
- Neste momento, sem dúvida. Uma equipa forte, com ideias bem assimiladas, jogadores experientes e com qualidade. Está em primeiro é o grande candidato. Vamos ver como o Sporting reage à saída de Amorim e à entrada de um novo treinador.
- Surpreendeu-te o resultado na Liga dos Campeões?
- O resultado de ontem sim (4-1 ao Manchester City), jogou contra uma das melhores equipas do mundo, mas não me surpreende muito pela forma confiante e motivadora como tem jogado.
- Para terminar falemos da Seleção. Fizeste muitos jogos nas camadas jovens e não tantos na principal, o que aconteceu?
- Aconteceu e, felizmente para Portugal, que somos um país pequeno, mas com jogadores de qualidade. Depois sai de Portugal e não fui para ligas tão atraente e não ajuda. Estreei-me pela seleção, era um objetivo meu e não guardo mágoa.
- És feliz pelo que o futebol te deu?
- Sou feliz, grato pela carreira que tive.
- Um dia podemos ver o André treinador?
- Poderá acontecer, neste momento não penso nisso. Mas no futuro posso mudar de ideias.