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Pastor: "Queremos provar que estavam todos errados em relação ao Farense"

Pastor em destaque ao serviço do Farense
Pastor em destaque ao serviço do FarenseSC Farense
O Farense somou a primeira vitória na Liga 2024/25 na receção ao Estoril (1-0), em encontro da 8.ª jornada, realizado antes da paragem para os compromissos internacionais, reforçando a ideia de que os ventos de mudança chegaram a Faro.

Cinco meses e um dia. Era este o período de seca de vitórias do Farense no campeonato, interrompido precisamente diante o mesmo adversário, o Estoril-Praia, e justamente no Estádio São Luís. Coisas do destino.

Tanto em maio como agora, Pastor esteve presente. E viveu tudo ao máximo! Aos 24 anos, o lateral brasileiro continua ao serviço dos Leões de Faro e acredita que a vitória contra os estorilistas pode ser o ponto de viragem na época, como contou nesta entrevista exclusiva ao Flashscore.

Pastor deixa elogios a Tozé Marreco
Pastor deixa elogios a Tozé MarrecoSC Farense/Opta by Stats Perform

"Tozé Marreco trouxe calma e confiança"

- O Farense conseguiu a primeira vitória apenas na 8.ª jornada da Liga (frente ao Estoril, por 1-0). Acredito que fosse algo muito esperado dentro do grupo...

- Desde que começou o campeonato, tivemos sete jogos com muito azar, em que criámos oportunidades, mas não conseguíamos concretizar em golo e sair com a vitória. Depois, aconteceu a troca do nosso treinador: saiu o José Mota e entrou o Tozé Marreco. Desde que o Tozé chegou, o objetivo foi, primeiro, manter a baliza a zero, ou seja, não sofrer golos. Conseguimos concretizar isso contra o AVS (0-0) e precisávamos dessa confiança, de não sermos aquela equipa que sofria muitos golos. E agora em casa, estávamos todos confiantes de que íamos conseguir a vitória, sem desespero de querer marcar a qualquer custo, de forma desorganizada. O Tozé trouxe calma e essa confiança de volta. Ou seja, primeiro, não sofrer golos; depois, chegar organizados à baliza adversária e, acima de tudo, não desistir. Aos 90+5 minutos, chegou o golo. Isso é a crença. Graças a Deus, a vitória veio.

- Mais especial por ter sido da forma que foi, no último suspiro do jogo?

- O mister lançou o Raúl (Silva) como ponta de lança. Como ele é alto, precisávamos de cruzamentos para encontrá-lo. No último lance, o (André) Candeias recuperou a bola, e eu pensei em ir com tudo para a frente. O médio tentou empurrar-me, mas peguei o corredor. Quando vi o John (Velásquez) e o Raúl, mirei no Raúl, mas o central deles antecipou, e o John ficou sozinho. Então, tentei passar para o John. Quando achei que ele ia passar para o Raúl, e ele, com a maior calma, como se fosse um número 9, eu pensei: 'O que é isso?!' Ele é esquerdino. Nem eu acreditei que ele fez o golo com o pé direito.

- Como foi no balneário?

- Sentimento de alívio. Saiu aquela pressão, aquele stress que estava sobre nós. Cinco meses desde a última vitória, curiosamente contra eles, na época passada. Imagina a pressão! Ainda mais agora que temos dois jogos difíceis pela frente, contra SC Braga e Benfica. Claro que vamos entrar para ganhar, como sempre, mas são incógnitas.

- Além da mudança de mentalidade que o Pastor já referiu, o que mudou mais com o treinador Tozé Marreco?

- Acho que o mister Tozé, primeiro, quis trazer tranquilidade. Não passou a sensação de desespero por estarmos numa situação difícil; começou por dar organização para que cada um soubesse o que tinha de fazer dentro de campo. Começou a ensinar alguns detalhes que achávamos que não eram necessários, e isso foi o que começou a fazer a diferença. Antes, sofríamos muitos golos, éramos a pior defesa do campeonato, e quando ele chegou disse: primeiro, manter a baliza a zero, depois pensamos em atacar. Aos poucos, foi implementando coisas e trouxe o desejo de ganhar, o gosto pela vitória. Mas não de forma desesperada, de chutar de qualquer maneira...

Ele trouxe organização para a nossa equipa, juntamente com a crença. É alguém que sente muito o clube, os jogadores, e vibra muito connosco. Disse que, se as coisas corressem mal, seria o primeiro a dar a cara pelos jogadores. Eu acho que ele começou a acreditar em nós, junto connosco, o que é difícil, pois não é fácil apanhar uma equipa com sete derrotas no campeonato. Na nossa cabeça, achávamos que o treinador iria trazer mais desespero, mas não, ele trouxe paciência e organização.

Pastor deixa elogios ao plantel do SC Farense
Pastor deixa elogios ao plantel do SC FarenseSC Farense

"Plantel é maravilhoso, vamos sair desta posição"

- A paragem surge depois da primeira vitória. Pergunto ao Pastor se ela é mais positiva por permitir que o treinador tenha mais tempo para passar-vos novas ideias ou se é mais negativa por interromper a vossa melhor fase?

- Acho que é uma pausa importante para nós. Tivemos muitas baixas nessas sete jornadas, e são jogadores que podem acrescentar muito. Vão trazer mais soluções para a equipa. E vai dar tempo para o mister trazer mais ideias e argumentos para o nosso grupo, além de mais confiança. Também será útil para descansarmos mentalmente, colocar os pés no chão e perceber que ainda não conquistámos nada.

- Acredita que esta vitória pode ser sido o ponto de viragem para o Farense? Depois vem o jogo da Taça de Portugal e segue-se SC Braga e Benfica...

- Acredito que sim. Estávamos a precisar daquele gatilho e da faísca que acende e diz: 'estamos no caminho certo'. Vamos começar já com a AD Sanjoanense, e queremos ir o mais longe possível na Taça. Depois, temos SC Braga e Benfica, mas vamos passo a passo. São dois gigantes, mas vencemos o SC Braga em casa na época passada, quando toda a gente não acreditava em nós. Agora, vamos estar mais confiantes, com um plantel mais composto. Acredito que podemos arrancar pontos em Braga e, depois, enfrentar o Benfica olhos nos olhos em casa. Vamos pensar jogo a jogo, sem queimar etapas.

Os próximos jogos do SC Farense
Os próximos jogos do SC FarenseSC Farense

- Qual a avaliação que o Pastor faz do Campeonato? Acredita que o Farense tem equipa para melhorar a sua posição na tabela? As estatísticas recentes mostram que as equipas que perderam as primeiras seis jornadas, desde 1940, acabaram sempre por descer de divisão...

- Temos muitos jogadores novos em relação à época passada, mas, pelo que eu vi, acho que temos totais condições para sair desta situação e chegar até metade da tabela. Temos o exemplo do Arouca no ano passado. Mas ainda é muito cedo. O grupo ganhou confiança, está a jogar com novas ideias. Mas pelas equipas que defrontámos, pelo futebol, pela garra, ambição e querer, junto com os nossos adeptos, vamos sair desta posição.

- Como disse houve muitas mudanças no plantel para 2024/25. Como apresenta o vosso grupo? 

- O plantel é maravilhoso, é sensacional, composto por pessoas humildes. Muitos garotos que querem mostrar serviço em Portugal. Estão a ganhar dinâmica, é um grupo que quer vencer, chegar longe e fazer algo em prol do Farense. Cada um tem um objetivo pessoal, mas todos passaram a olhar para dentro do grupo e perceberam que todos precisam de se ajudar.

- Mais unidos do que nunca?

- O nosso grupo está muito focado e empenhado em chegar à parte de cima da tabela e provar que estavam todos errados em relação a nós. Queremos mostrar que as pessoas que disseram que não éramos capazes estavam enganadas.

- O que espera que esta época lhe dê em termos individuais? Integrou a equipa da jornada para a Liga...

- Todo o jogador tem a ambição de querer que os meios de comunicação falem mais, que seja mais reconhecido no clube e fora dele. Mas é preciso manter os pés no chão, por mais que o sucesso nos alcance. Não adianta vangloriar-me; as pessoas vão ver e comentar, não há como esconder. Se você entrar em campo e dedicar-se, correspondendo às expectativas, elas vão falar. Estou tranquilo em relação a isso; fui um menino criado na comunidade, uma pessoa muito humilde. Mantenho os pés no chão. 

É verdade que saíram vários boatos sobre a minha saída, mas o presidente acabou por optar por mim, e eu também quis ficar. Sei que ainda posso dar muito mais por este clube. Quero acabar o campeonato da melhor forma e, se for para acontecer algo que me leve para outro nível, com certeza vai acontecer, sempre pensando no que for melhor para o Farense e para mim.

Pastor mudou-se para Portugal em 2021
Pastor mudou-se para Portugal em 2021SC Farense

Do Brasil a Portugal: a história de Pastor

David Samuel Custódio Lima. É este o nome completo de Pastor. Cresceu em Arapongas e o futebol que vive hoje não é o mesmo de quando começou a dar asas ao sonho no Brasil.

Acordava às cinco da manhã para apanhar o autocarro às seis, para uma viagem de 40 minutos até à escola de futebol G12 SportClub. Se perdesse, só voltava a ter uma hora mais tarde e já chegava atrasado ao treino.

Chegou ao Elosport, no interior de São Paulo, e depois conheceu a dura realidade. Fluminense? "Não". Figueirense? "Não". América de Natal? "Não"

"Será que vai dar certo? Era isso que passava na minha cabeça. Mas não desisti. Voltei ao Elosport e na última Copinha que joguei, perdemos contra o Londrina, mas o Sílvio Canuto, um treinador a quem sou muito grato, deu-me a oportunidade", recorda Pastor, durante esta viagem ao passado na companhia do Flashscore.

Os números de Pastor
Os números de PastorFlashscore

O Pastor nasceu no Londrina. Um dia entrou no balneário de phones nos ouvidos a ouvir o "Louvor" e os colegas, que estavam na "resenha" e a ouvir "pagode", perante a postura recatada do então jovem lateral disseram: "Lá vem o Pastor (guia espiritual)". E assim ficou.

A estreia no Londrina aconteceu no clássico frente ao Coritiba, no Estádio do Café, e foi nesse jogo que sentiu que poderia ter sucesso no "profissional".

Em 2020, Pastor recebeu uma proposta do Ferroviária, onde disputou o histórico Paulistão, e no ano seguinte ganhou asas para Portugal. "Mais um desafio!".

"Cheguei a Matosinhos, um frio, e eu com 50 euros no bolso..."

- Como recorda a vinda para Portugal?

- Estou no aeroporto para embarcar para Portugal e liga-me o mister Guto Ferreira, do Ceará, a dizer que o clube queria contratar-me em definitivo. E eu com a passagem na mão... Imagina a pressão psicológica. Mas vir para Portugal era uma oportunidade que podia não surgir mais. (...) Cheguei a Matosinhos, um frio, e eu com 50€ no bolso (risos). Era a minha primeira vez fora do Brasil. Fiquei numa casa com mais três colegas e eu sou pensava: 'O que estou aqui a fazer?' (risos).

Cheguei no Leixões e eles já tinham dois laterais contratados, Pedro Coronas e João Amorim. O mister José Mota disse-me: "Tenho dois laterais contratados e tu estás em avaliação". Eu não sabia que estava em avaliação. Liguei para o meu empresário a dizer que queria ir embora (risos). 'Mas o que vim fazer!?' Felizmente, tive duas pessoas que me ajudaram muito. O meu pai Igor Stefanovic e o meu parceiro Léo Bolgado.

Pastor mostra-se feliz em Faro
Pastor mostra-se feliz em FaroSC Farense

- E como conseguiu ficar no Leixões?

- O Pedro Coronas lesionou-se na pré-época e eu tive uma grande oportunidade no jogo de apresentação. Correu bem e acho que entrei nas graças dos adeptos. Assinei depois. No primeiro jogo da época: bancada. Segundo jogo: titular contra o Varzim. Depois houve aquela confusão no jogo com o Rio Ave e desceram uns quantos para os sub-23, eu inclusive.

O mister falou comigo, explicou que eu precisava de adaptar-me, pois era um lateral muito ofensivo... Fiz alguns jogos (nos sub-23) e regressei na última jornada da primeira volta, para o banco (risos). Acabei por jogar o primeiro jogo da segunda volta, curiosamente contra o Farense, aqui em Faro, e ganhámos. Não saí mais! Depois, do nada, o Portimonense quis contratar-me. Imagina... Estava na Série D do Brasil, apareceu o Leixões e no outro ano estava na Liga. Imagina como estava o meu coração.

- Mas não fica muito tempo no Portimonense...

- Fiz dois jogos. Estava lá o Moufi e foi complicado. Depois, no início do ano, o Farense disse que me queria. Mas eu não queria vir (risos). Suei para caramba para chegar aqui (à Liga) e ia para a segunda liga!? O jovem tem essa mentalidade. No entanto, conversei com o meu empresário e com a minha família e decidi vir para o Farense, que estava a lutar para subir. Depois, na semana em que ia começar, cai o Vasco Faísca, o treinador que me pediu. E quem chega? José Mota (risos). O primeiro jogo fiquei fora dos convocados, mas depois tive a minha oportunidade com a lesão do Diogo Viana. Tivemos oito vitórias seguidas e eu a jogar sempre. Felizmente, acabamos por subir (de divisão).

Tenho uma gratidão muito grande por este clube. Acreditaram e apostaram em mim, numa altura em que estava sem minutos no Portimonense, e ninguém me conhecia aqui no Algarve. Já a época passada foi a chance de eu mostrar que merecia estar na Liga. O campeonato foi muito bom para o meu amadurecimento. Aprendi coisas que na Liga 2 não se aprende. (...) Conseguimos a permanência e eu tive propostas para sair, mas optei por ficar.

Pastor resistiu ao mercado
Pastor resistiu ao mercadoSC Farense

- Falou-se no Botafogo. Ficou como sinal de gratidão ao Farense?

- Não só do Botafogo, mas também de clubes da Turquia, mas fiquei: acabei de fazer uma época no Farense e deu essa repercussão, imagina se faço mais uma. Até o mister falou: "Esse ano mostrou-se para o futebol português, o próximo ano é o ano de mostrar que o nível não é esse e de buscar voos maiores". E o que custa esperar mais um pouco? A verdade é que estou mais maduro e optei por ficar.

- Sente que o Farense já é a sua casa?

- Com certeza. O Farense está no meu coração. As emoções vividas aqui, sobretudo no jogo passado, são incríveis.

- E o que dizer dos adeptos do clube? 

Muitos fervorosos. Uma coisa que notei e que ficou marcado: independentemente de cobrarem ou não, eles vão sempre cobrar para que se dê tudo pelo Farense. Não vão tentar te derrubar ou deitar para baixo com insultos. Eles só querem que dês o melhor pelo clube. 

No último jogo, durante 95 minutos, eles acreditaram em nós. Arrepia! São o nosso 12.º jogador e fazem coisas maravilhosas, mesmo contra Benfica, Sporting e FC Porto. Só posso sentir carinho e gratidão.

Ricardo Velho integra trabalhos da Seleção Nacional
Ricardo Velho integra trabalhos da Seleção NacionalJOSE SENA GOULAO/LUSA

"Ricardo Velho? É o melhor guarda-redes do futebol português"

- O que pensa sobre a chamada do Ricardo Velho à Seleção portuguesa?

- Fiquei muito feliz. Estava com ele e perguntei: 'Está na esperança?' Mas a gente sabia que ele merecia. Até no Europeu, eu acho que ele merecia ter ido. Está num momento maravilhoso, foi mais do que justo. Com todo o respeito pelo Diogo Costa (FC Porto), não vejo igual; hoje, individualmente, pelo desempenho, é o melhor guarda-redes do futebol português e ficamos muito felizes. Agora, acredito que o pessoal vai olhar para o Farense com outros olhos.

- Convido o Pastor a olhar em retrospetiva para a sua carreira: do Elosport até agora. Sente que valeu a pena?

- Valeu a pena acordar às 5 para apanhar o autocarro às 6. Quando penso no que passei e onde cheguei, tudo vale a pena. Consegui realizar o sonho de jogar no futebol português, que é de muita qualidade, e é muito gratificante ver as crianças terem o sonho que eu tive e consegui.

- E quais os sonhos que ainda existem aos 24 anos?

- O que me move é poder chegar ao topo. O Brasil vive uma escassez de laterais direitos; não se vê aquele que é amado e de quem todos falam, como Cafú e Roberto Carlos foram. Ainda sinto esse desejo. Tenho 24 anos e vou alcançar muitas coisas grandes. O meu objetivo é jogar na Champions, a maior competição do mundo, e no Mundial, representando o meu país. Imagina o homem que me levava no autocarro verme lá; seria muito gratificante. E mais... a Seleção portuguesa. Daqui a um ano posso obter o passaporte português e poderia representar as duas seleções. (...) Quero chegar ao topo e ser reconhecido como um dos melhores laterais do mundo.

- Por fim, que mensagem gostaria de deixar para os adeptos do Farense?

- Continuem a acreditar e a dar todo o apoio dentro de campo. O que fazem por nós, podem ter certeza, vamos retribuir com esforço, garra e determinação. Se és de Faro, és Farense. Se vocês acreditam, nós acreditamos juntos. E obrigado!