Boavista SAD avança para auditoria forense à anterior gestão de Vítor Murta
"Importa referir que a gestão anterior estava centrada única e exclusivamente na figura do antigo presidente, sendo que a minha saída do anterior conselho de administração (no qual era administrador não-executivo) foi uma consequência direta da falta de transparência e da concentração de poder numa única pessoa, algo que, como se percebe, causou danos significativos a esta sociedade", explicou o dirigente, em declarações à agência Lusa.
Impedidas pela FIFA de inscrever novos jogadores há quatro janelas de transferências seguidas, devido a dívidas, as panteras passaram a ser lideradas em maio pelo ex-avançado senegalês Fary Faye, que era administrador com atuação exclusiva na área do futebol e encabeçou a única lista aos órgãos sociais formalizada pela Jogo Bonito, sociedade controlada pelo investidor hispano-luxemburguês Gérard Lopez e detentora de uma posição maioritária no capital axadrezado.
"Ainda hoje recebemos mais dois pedidos de insolvência de ex-jogadores, relacionados com acordos incumpridos datados de 2021. Estes pedidos de insolvência, bem como as penhoras constantes, ajudam a perceber, de forma clara, as consequências diretas da má gestão do anterior presidente, que continuam a provocar enormes dificuldades ao normal funcionamento da SAD", apontou Carmelo Fraile, integrado nos novos corpos sociais por indicação de Gérard Lopez, após ter renunciado ao anterior cargo em divergência com Vítor Murta.
No início do mês, a sociedade financeira BTL recebeu autorização do Tribunal Judicial do Porto para executar durante as férias judiciais uma dívida original de 5,2 milhões de euros (ME) do clube - que, com juros, ascende a 6,8 ME e já tinha sido solidariamente assumida pela SAD axadrezada -, através da venda de passes de jogadores na atual janela de transferências de verão.
Em comunicado enviado ao jornal A Bola, Vítor Murta, que não foi convidado por Gérard Lopez para fazer mais um mandato na SAD e atualmente preside ao clube, garantiu que o Boavista "está a negociar o pagamento de uma das muitas dívidas" referentes ao tempo de construção do Estádio do Bessa, inaugurado em dezembro de 2003, no Porto, mas advertiu que, quando Fary Faye lhe sucedeu, esses compromissos "estavam maioritariamente negociados (com os credores), os salários dos atletas e funcionários regularizados e a equipa em condições de competir".
"É positivo que o anterior presidente da SAD continue a falar sobre o seu trabalho, como na sua recente declaração que fez sobre a situação da BTL, pois expõe claramente os seus atos de gestão, que contribuíram para a atual situação delicada da SAD. Está claro para todos que os problemas que enfrentamos são um reflexo da sua gestão danosa, sendo que esta tentativa de desviar a atenção revela o seu desespero para escapar das suas responsabilidades", contrapôs Carmelo Fraile.
À procura de saldar dívidas para levantar as restrições da FIFA em tempo útil, o Boavista, nono classificado da Liga, com três pontos, em duas jornadas, vendeu o lateral direito Pedro Malheiro aos turcos do Trabzonspor, embolsando dois milhões de euros fixos, mais 500 mil euros por objetivos, e o defesa central nigeriano Chidozie aos norte-americanos do Cincinnati, por 700.000 euros, 500.00 dos quais fixos.
"As recentes declarações do anterior presidente da SAD servem também para desviar a atenção de um assunto muito grave. É incompreensível que uma pessoa que foi condenada pela justiça desportiva por alegado assédio sexual ainda continue na presidência do clube. A sua permanência no cargo é um desrespeito para com todos os associados e uma mancha grave na reputação do Boavista", finalizou Carmelo Fraile, em alusão à condenação recentemente proferida pelo Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), da qual Vítor Murta já recorreu.