Da ambição à estagnação: Famalicão com dificuldades a dar o passo em frente
Na metade superior da tabela, a ilusão de que a época do Famalicão podia ser tranquila não passava disso mesmo, uma ilusão. Com quatro jogos consecutivos sem vitórias, a equipa então treinada por João Pedro Sousa encontra-se apenas cinco pontos acima do play-off de descida à Liga 2.
Os 28 pontos conquistados até então fazem do Famalicão uma das equipas com menos vitórias na Liga Portugal. De resto, os famalicenses venceram tantas vezes (seis) como o Portimonense, que ocupa o 16.º lugar do campeonato.
Os números contrastam com a ambição de um clube que sonhava em chegar longe esta época. O próprio João Pedro Sousa, que deixa o Famalicão pela segunda vez na carreira, admitiu isso mesmo no início da temporada e assumiu as próprias responsabilidades caso o cenário fosse diferente.
"Pediram-me o quinto lugar, a final da Taça de Portugal e eu assumi o desafio", disse, no início da época, depois de vencer o Arouca por 1-0 para a Liga Portugal.
O que falhou?
Com o Vitória SC, quinto classificado, à distância de 22 pontos, o primeiro objetivo é mera miragem, enquanto a prestação na Taça de Portugal terminou logo à 4.ª eliminatória, embora aí com a atenuante da deslocação ao Estádio da Luz para defrontar o Benfica.
Mas para a saída de João Pedro Sousa, que os próprios adeptos apoiarão tendo em conta os lenços brancos depois do nulo com o Estrela da Amadora na última jornada, contribuíram outros aspetos.
Para que a temporada do conjunto famalicense volte a ser encarada como uma deceção, um pouco à semelhança do que foi acontecendo nas últimas temporadas, contribuem fatores como o financeiro - o Famalicão voltou a encaixar vários milhões com as vendas de Iván Jaime e Otávio, além dos passes de Ugarte e Pedro Gonçalves - e o desportivo - a equipa surpreendeu na época de regresso à Liga Portugal, falhando a Europa apenas na última jornada.
Será, afinal, o Famalicão refém do próprio sucesso? Nesta fase, a própria direção esperava que o projeto estivesse noutro nível desportivo, com os lugares europeus mais próximos do que os da manutenção, o que não se verifica.
A verdade é que o plantel construído para esta temporada volta a apresentar algumas lacunas, apesar da qualidade invidual que é reconhecida a cada um dos setores (a saída de Otávio causou uma brecha importante no mais recuado).
João Pedro Sousa mencionou várias vezes as dificuldades da equipa no momento de decisão, nomeadamente no setor ofensivo. À 26.ª jornada, o Famalicão tem apenas 24 golos marcados, um registo que só não é o pior da Liga Portugal porque há Casa Pia (23) e Portimonense (24).
O técnico foi procurando alternativas diferentes, variando entre o 3x4x3 e o 4x2x3x1, mas a verdade é que nunca encontrou a fórmula para a consistência, de tal forma que, esta época, o Famalicão nunca venceu dois jogos consecutivos para o campeonato.
Tal como em temporadas transatas, os famalicenses conseguiram potenciar jogadores. Otávio já saiu para o FC Porto, Youssouf tem sido um dos destaques da equipa desde a época passada, Francisco Moura já revelou ser dos melhores laterais do futebol português e Luiz Júnior continua a destacar-se na baliza - já defendeu três penáltis.
Se a nível financeiro pode esperar-se mais um verão lucrativo para o Famalicão, a época 2024/25 volta a ser uma incerteza. Às constantes reformulações do plantel junta-se uma reformulação técnica, que terá forçosamente de começar já esta época de forma a evitar riscos ainda maiores para uma equipa que esperava, nesta fase, estar numa luta acesa pela Europa.
Com jogos frente a FC Porto e Benfica, juntando ainda a partida em atraso frente ao Sporting, o Famalicão não tem um calendário fácil até ao final da temporada e terá de resolver a manutenção nos confrontos diretos, uma vez que defronta equipas como Vizela, Portimonense, Estoril e Chaves.
Por tudo isto, o próximo passo da direção do Famalicão terá de ser certeiro. No mercado de treinadores, o clube vai procurar alguém capaz de trabalhar com a irreverência (e inconsistência) da juventude, mas que consiga conduzir a equipa ao patamar que o clube tinha prometido em 2019/20, precisamente com João Pedro Sousa, mas que, quatro épocas depois, parece mais distante do que já estava nessa altura.