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Diretor do Rio Ave explica parceria com a Nordensa: "Eles têm o trabalho praticamente feito"

Triball Football c/Hugo Filipe Martins
Nuno de Almeida, diretor desportivo do Rio Ave, abordou parceria com plataforma de scouting
Nuno de Almeida, diretor desportivo do Rio Ave, abordou parceria com plataforma de scoutingProfimedia
Na terceira parte da entrevista com Nuno de Almeida, o diretor desportivo do Rio Ave explica como funciona a parceria entre o clube vilacondense e a Nordensa, uma plataforma de scouting que já é utilizada por clubes espanhóis, belgas, austríacos e húngaros.

- Como diretor desportivo, como é que ter a Nordensa ajuda o seu trabalho?

- Desde que sou diretor desportivo entendi uma coisa: temos mais ou menos 12 ou 13 jogadores que serão titulares, numa equipa de 27 jogadores, depois temos seis ou sete jogadores que podem competir para serem titulares ou suplentes utilizados, e temos cinco ou seis jogadores jovens. Comecei a olhar para as outras equipas da Liga Portugal e a perceber que este caminho para os jovens de potencial não existe. Só construímos uma equipa com os jogadores que gostamos e não com intenção para o futuro. Neste espaço, comecei a olhar para os nossos sub-23 e sub-18 para ver quais é que podem ter a possibilidade de ser promovidos à equipa principal. Normalmente, temos um problema para analisar e trazer os melhores jogadores de Portugal. Temos o Benfica, FC Porto, Sporting e SC Braga. Depois disso, o Famalicão e o Vitória SC cresceram e nós estamos a competir com seis clubes de topo, por isso vamos ficar com a nossa terceira ou quarta escolha. 

(...)

- Aqui, a Nordensa pode ajudar-me bastante porque fazem um trabalho de scout mundial, têm perfis que não temos em Portugal e ao mesmo tempo, sendo parceiro deles, será uma win-win situation. Posso dizer que perfis precisamos nos sub-18 e sub-23 para dar o passo seguinte para a equipa principal. Outra coisa importante, é que normalmente olhamos para a equipa principal e temos de perceber que espaço é que temos para apoiar o desenvolvimento dos jogadores. Para mim, é a única forma de ajudar os jogadores que treinam, mas precisam de um local para competir. A Nordensa enquadra-se bem neste processo porque me permite ter perfis diferentes sem que eu tenha de gastar qualquer cêntimo. 

Rio Ave pode voltar a contratar em janeiro
Rio Ave pode voltar a contratar em janeiroRio Ave

- A Nordensa deu-nos uma oportunidade que ninguém deu. Deu-nos a oportunidade, sem a intenção de conseguir dinheiro pelos jogadores. Têm a intenção de os ajudar a dar o passo certo, de subir na carreira e ver a luz ao fundo do túnel que muitas vezes eles não veem. Entre os 17 e os 23 anos, há muitos jogadores com qualidade que não têm a oportunidade de dar o passo seguinte ou, por exemplo, sair de África e vir para Portugal e ganhar uma experiência diferente. Na maioria das vezes, os jogadores vêm, vivem num sítio que não é bom para eles, gastam muita energia e depois esperamos que os jogadores estejam bem nos treinos? Para mim também é importante que a Nordensa tenha o orçamento, possa pagar a casa, a comida e ao mesmo tempo dar um salário ao jogador, dando apoio de um psicólogo, de um treinador, para ajudar o jogador a entender o caminho que deve seguir para estar no seu melhor. É isso que, na maioria das vezes, os clubes não conseguem dar aos jogadores, por isso acho que todos ganham com esta cooperação.

- Já tem alguns jogadores da Nordensa em mente?

- Estou todas as semanas a falar com o scouting da Nordensa. No último ano tivemos um problema no Rio Ave, estivemos duas janelas de transferências sem conseguir contratar, mas nesta janela (de janeiro) já conseguimos. Estou a olhar para os sub-23 e para os sub-18 para perceber que tipo de jogadores podem fazer sentido. Nos sub-18 temos um perfil de um avançado africano, que vai nas costas, é fisicamente forte, bom nos duelos. Na nossa liga de sub-19, temos um bom jogo posicional, mas não usamos muito as transições e é uma idade em que precisamos que o físico dos jogadores tenham impacto no jogo. Este físico pode ajudar-nos a ganhar, mas também a ter um estilo de jogo diferente, ler o jogo, usar o espaço. Não é só para melhorar a equipa, mas também para darmos uma estrutura diferente e melhorar o nosso modelo de jogo.

Luís Freire deve deixar o clube no final da época
Luís Freire deve deixar o clube no final da épocaRio Ave

- Há a possibilidade de haver uma chegada já em janeiro através da Nordensa?

- Sim, eles sabem que estou a falar com a direção. Normalmente este tipo de contratações não é tão habitual em Portugal. Como é que fazemos aqui? Fazemos o nosso trabalho de scout e tentamos trazer esses jogadores que estivemos a observar. Ao mesmo tempo, temos relações com agentes que trabalham connosco há muito tempo e usamo-los para trazer os jogadores. Ao mesmo tempo, a Nordensa pode acrescentar uma nova forma de trazer jogadores e de os observar porque não preciso de pôr muita pressão no meu departamento de observação para avaliar os jogadores. Na maioria das vezes, o ponto mais importante é que a Nordensa avalia os jogadores, já falou com o agente, conhece as condições e está praticamente feito. Este processo é difícil. Eles têm o trabalho praticamente feito. O que tento fazer agora é convencer a nova direção do Rio Ave a ficar com esta parceria, pelo menos para ver como funciona durante uma ou duas épocas porque se não tivermos essa experiência não sabemos como funciona. 

(...)

- A maioria dos treinadores e jogadores portugueses adaptam-se bem quando vão para fora, mas também temos de nos lembrar de uma coisa que é difícil e a Nordensa está a fazer muito bem. Na maioria das vezes, o acordo que eles querem são contratos de dois anos porque o primeiro ano é muito exigente. Eles têm uma desvantagem comparada com os jogadores que já estão cá, que já têm 10 ou 12 anos a trabalhar com esta metodologia. É um processo de aprendizagem e muitas das vezes não se sentem confortáveis para mostrar o que mostraram no país de origem e chamou a atenção dos olheiros. Quando trabalhei no FC Porto, queríamos um extremo que fizesse muitas corridas no espaço, não tínhamos e trazíamos. O nosso treinador, passado um mês, mudava o jogador e colocava-o com as mesmas características do jogador que nós já tínhamos. Então porque é que trouxemos este jogador se é para o tornarmos nos mesmos jogadores que já temos? Temos de respeitar as características dos jogadores e ter uma equipa a ajudar o jogador. A Nordensa está a fazer isso muito bem e deixa-me confortável.

Jacob Hansen em conversa com Nuno de Almeida
Jacob Hansen em conversa com Nuno de AlmeidaFlashscore

- Como funciona o processo de recrutamento?

- Algo que temos de ter sempre em mente é que queremos trazer jogadores para a equipa principal. Neste caso, tenho de ver aquilo que vamos precisar nos próximos dois ou três anos, entender o espaço que tenho disponível e tentar olhar para os jogadores que não temos. Por exemplo, agora não temos um lateral esquerdo nos sub-19, nem nos sub-23. Mandei as minhas necessidades à Nordensa e ao mesmo tempo eles dão-me as soluções que têm para essas necessidades. Normalmente, nas posições que recrutamos, têm o físico que procuramos - alto, forte, explosivo, que jogue com o corpo. Estamos a entender os mercados e é por isso que, pelos sítios de onde trazem jogadores (África e América do Sul), têm jogadores com características que não encontramos em Portugal. Já temos jogadores para jogar em espaços curtos, futebol organizado, entre linhas, mas o que precisamos? Extremos que desequilibrem os jogos, avançados que possam correr, ganhar duelos aéreos e precisamos de centrais para a esquerda. Normalmente, é difícil encontrar esses jogadores. Sei que, no futuro, mais do que melhorar o modelo de jogo, tenho um diamante que todos estão à procura.

(...)

- Temos de entender quais são os jogadores mais valiosos nas Ligas e em que posições é que jogam. Hoje, no futebol mundial, um central para a esquerda que jogue na Primeira Divisão, por exemplo, em Portugal, custa mais de 20 milhões de euros. Se custa mais, tenho de encontrar um jogador que, no futuro, possa ser um substituto para essas equipas grandes em Portugal e prepará-lo no nosso contexto. Por isso é que digo que não tenho de melhorar apenas a minha equipa, mas olhar também para as equipas de topo do meu país, que podem comprar jogadores ao meu clube, e perceber quais as necessidades deles no futuro. Isso já aconteceu no Rio Ave. Tivemos a nossa melhor época de sempre em 2020/21 e no final da época vendemos o ala esquerdo ao Sporting, o avançado ao FC Porto, um central ao Vitória SC e um médio ao SC Braga. Perdemos cinco jogadores, por isso é que depois descemos, é difícil substituir estes jogadores, estamos a falar de jogadores que jogam na Liga dos Campeões. Este é o nosso mercado. Temos de ter esta fábrica dentro do nosso clube para tentar preencher as necessidades dos clubes maiores.