Entrevista Flashscore a Jorge Silas: "Dificilmente o Benfica perderá em casa"
Jogador com uma vasta carreira nacional (236 jogos no principal escalão, em que representou União de Leiria, Marítimo e Belenenses) e com passagens internacionais (jogou no Elche, Wolverhampton, AEL Limassol e na Índia), Jorge Silas conta também já com experiência como treinador. Ao serviço de Belenenses, B SAD, Sporting e Famalicão orientou 77 partidas no principal escalão português.
Seguidor atento das competições nacionais, acedeu ao convite do Flashscore para fazer uma análise à reta final da temporada e analisou as decisões que ainda faltam conhecer nas provas profissionais do futebol português.
- O campeonato está ao rubro, vamos para a última jornada ainda sem campeão definido, que leitura é que faz?
- Eu acho que já temos campeão. Sinceramente, dificilmente o Benfica perderá em casa, e mesmo que empate, o FC Porto terá de ganhar por 11 e o próprio Vitória de Guimarães quer ainda ficar no quinto lugar e não em sexto. Contudo, fico surpreso porque há um mês diria que o Benfica ia ser campeão e não havia hipótese nenhuma de alguém os apanhar, mas o FC Porto volta a provar que nunca desiste e chega à última jornada ainda com hipóteses, se bem que é muito difícil, ou quase impossível, na minha opinião. Não deixa de ser uma surpresa grande, tendo em conta que o Benfica tinha 10 pontos de avanço, mas ao mesmo tempo é bom para o nosso campeonato, porque mesmo o próprio SC Braga, que há duas jornadas ainda podia ser campeão, mostra que a Liga está a crescer.
- O Benfica, a ser campeão, é justo?
- Na minha opinião, sim. Toda a gente dizia que o Benfica era um justo vencedor, depois teve uma quebra, mas a verdade é que o os outros andaram sempre a oscilar e os encarnados estiveram num nível muito alto, portanto era consensual. Até ao clássico com o FC Porto toda a gente dizia que o Benfica era campeão e um justo vencedor. Foi também a equipa que praticou melhor futebol, na maior parte do tempo. Ainda que, contra as outras equipas grandes, sobretudo nos jogos com o FC Porto, em que acho que os dragões foram melhores. Mesmo no primeiro jogo, que o Benfica ganha, em que existe uma expulsão, eu acho que o FC Porto foi melhor, mas nos outros jogos não conseguiram ser tão regulares. O SC Braga jogou bem, mas não ao nível do que o Benfica jogou e o Sporting andou nos alto e baixos.
- Surpreende a campanha do SC Braga, que consegue regressar à Liga dos Campeões e vai disputar a terceira pré-eliminatória?
- Não me surpreende. Nas últimas duas décadas, talvez nesta de forma mais acentuada, conseguiu aproximar-se muito (dos três grandes) e já luta por títulos. Esta época não consigo dizer que não esteve na luta pelo título, porque acho que lutou, e vai disputar a final da Taça. Nos últimos anos tem estado a este nível. O Artur Jorge tem muito mérito, mas os treinadores têm saído e o SC Braga mantém um nível muito bom, conseguem segurar grande parte do plantel e isso é muito importante. É a estabilidade que o Rúben Amorim falou há pouco tempo e que no Sporting se ressentiram. Dá a possibilidade aos treinadores de fazer algo diferente. Podemos ver o exemplo do Arouca, que sobe de divisão e mantém o plantel, aliás, o Arouca e o Casa Pia são boas referências para isto. Conseguiram arrancar bem e depois há sempre uma boa almofada para cada jogo e os empates passam a ser bons. A estabilidade é boa para um treinador, já se traz muita coisa trabalhada do passado e isso ajuda.
- Em contraciclo temos o Santa Clara e o Paços de Ferreira, com inconstância no comando técnico e aconteceu o que muita gente previa que ia acontecer...
- Tiveram muitas alterações. No caso do Paços de Ferreira surpreendeu um pouco mais, a equipa técnica já vinha do ano passado, não esperava que tivesse tantas mexidas no plantel e acabaram por pagar um pouco por isso. O Santa Clara já tinha tido instabilidade no ano passado, mudou a administração. Essa instabilidade acaba por se pagar. Pode correr bem uma ou outra vez, mas por norma corre mal.
- Na Liga 2, o Moreirense e o Farense vão subir e vamos ter o play-off com o Estrela da Amadora a desafiar o Marítimo pela última vaga na Liga. Isto pode cair para que lado?
- Em geral, a história recente diz-nos que a equipa da Liga desce. No ano passado foi o Moreirense, há dois anos o Rio Ave. Neste caso, o Marítimo começou muito mal, mas não está a acabar assim tão mal, numa dinâmica de recuperação. Aconteceu o contrário ao Rio Ave, com a ida à Liga Europa, uma campanha boa, mas depois entra numa dinâmica negativa. O Marítimo está a recuperar com o mister José Gomes e vai ser importante para o play-off. No ano passado achava que o Moreirense ia descer, pela dinâmica negativa, mas quanto aos madeirenses acho que estão bem posicionados para se manterem.
- A última competição vai ser a final da Taça de Portugal, entre FC Porto e SC Braga. Duas equipas que se conhecem bem. O que se pode esperar?
- É um jogo importante. No caso de o SC Braga ganhar é uma festa, mas a derrota não é tão impactante como para o FC Porto. Até podem aceitar o segundo lugar, que é o mais provável, mas vir com uma taça é uma coisa, vir sem uma taça é outra. Mesmo para o próprio Sérgio Conceição, para a exigência diária que ele coloca, ficar em segundo lugar, mas com a Taça de Portugal e a Taça da Liga muda completamente a perspetiva da época para o FC Porto. Vencer esta prova é um marco importante no clube e os próprios adeptos vão olhar para a época de uma maneira diferente. Em caso de derrota, o segundo lugar ganha um destaque mais negativo. É muito mais importante para o FC Porto do que para o SC Braga.