Entrevista Flashscore a Vítor Vinha: “Sinto-me completamente preparado para qualquer desafio”
- Depois de uma carreira de jogador de quase 20 anos, quando surgiu a ideia de ser treinador? Era algo que já despertava interesse quando era jogador?
- O sonho surgiu ainda em tenra idade. Devia ter uns 17 anos. Cresci a ver o Mourinho no FC Porto, com todo aquele ambiente de vitória e com o seu carisma. Então, desde essa altura que tenho este sonho. Ao longo do tempo fui procurando conhecer o jogo nas mais diversas áreas, fui falando com vários treinadores, tirei os cursos de treinador e, desde 2021, sou UEFA PRO, que é o nível máximo. O sonho foi crescendo.
- Passou por Académica, Tourizense, Estrela da Amadora, Nea Salamis, Aves, Olhanense, Gil Vicente, Beira-Mar e Famalicão. Quem foram as suas principais influências, como treinadores?
O facto de ter passado por alguns clubes permitiu-me ter vários treinadores e aprender com todos eles. No entanto, Sérgio Conceição pelo seu espírito competitivo; Vitor Oliveira e Nelo Vingada pela relação humana que tinham com os jogadores; João de Deus, que é adjunto do Jorge Jesus há vários anos, pelo conhecimento do jogo, foram os treinadores que mais me influenciaram.
- Começou a carreira como adjunto na Académica. Como surgiu essa possibilidade?
- Ainda não tinha, verdadeiramente, decidido deixar de jogar, mas comecei a colaborar com o treinador Miguel Carvalho nos juniores da Académica. Pouco tempo depois, fui contactado pelo então director desportivo, que mais tarde viria a ser presidente, Pedro Roxo, para ser treinador adjunto na secção de futebol e, passados seis meses, para ser treinador adjunto na equipa principal da Académica. Não hesitei. Decidi terminar a carreira de jogador e ir em busca deste sonho. Como tal, aceitei a proposta. Começar como adjunto numa equipa como a Académica, na segunda liga, com objectivos de subida de divisão, pareceu-me excelente e assim foi.
- Trabalhou durante várias épocas com Luís Freire. Como o define como treinador?
- A maior qualidade do Luís é a busca pelo conhecimento do jogo. Quer ter as respostas todas para todos os problemas. Essa busca faz dele um treinador ganhador, como o seu percurso assim o demonstra. É muito determinado naquilo que são os seus objetivos. Tem uma equipa técnica muito competente e, não tenho dúvidas, vai chegar a patamares superiores. Só tenho a agradecer-lhe pelo tempo que trabalhámos juntos e desejar-lhe a maior sorte para o futuro.
- Deixou a equipa técnica do Rio Ave na última temporada, precisamente com essa ideia de se lançar como treinador principal, correto? Como surgiu essa decisão?
- Sim, correto. O desejo de ser treinador principal é algo que sempre tive bem presente. É algo que sinto fortemente. Com toda a experiência e conhecimento que fui adquirindo ao longo dos anos, o facto de ter o quarto nível do curso de treinador, com o incentivo de muitos dos jogadores do Rio Ave, com a subida de divisão e a manutenção na primeira liga, com todo o contributo que dei neste tempo de sucesso, falei com a minha família e chegamos à conclusão que esta seria a altura certa. Falei com o Luís e transmiti-lhe a minha decisão. Saí pela porta grande.
- Já recebeu algumas abordagens. Qual o projeto que pretende para a estreia como treinador principal?
Sim, já recebi abordagens e já tive, inclusive, reuniões com clubes. Não existem projetos perfeitos, mas gostava de começar num clube que me dê a possibilidade de lutar pela vitória em todos os jogos ou, pelo menos, na grande maioria. Adjacente a esta procura pela vitória está uma forma de jogar bem vincada. Para isso é necessário um leque de bons jogadores, seja de que idade for, relativas boas condições de treino e de trabalho. Um clube com mentalidade de crescimento e de vitória, onde juntos possamos alcançar os objetivos.
- Poderíamos ver Vítor Vinha no Rio Ave, com Luís Freire pronto para dar o salto para outro patamar?
- Essa pergunta tem de ser feita à presidente do clube, Alexandrina Cruz. No entanto, aquando da minha saída, falámos e disse-lhe que a próxima vez que trabalhasse no Rio Ave seria como treinador principal. Vamos ver se algum dia se concretiza.
- Há vários jogadores que têm destacado o nome de Vítor Vinha como alguém que teve impacto nas suas carreiras. Como olha para esses elogios?
- Há uma frase que diz: “Se queres saber alguma coisa acerca de um treinador, pergunta aos jogadores”. É com orgulho e sentido de responsabilidade que encaro essas opiniões. Como treinador tenho a possibilidade de influenciar, positivamente, a vida e a carreira de um jogador, sem nunca esquecer que estamos em alta competição e que o fundamental é o rendimento. Com base numa relação de verdade, proximidade, respeito e disciplina, tento criar um ambiente onde todos se sintam parte de algo e a trabalhar para algo. Só assim se pode render o máximo e, por conseguinte, alcançar grandes feitos.
- Trabalhou no Rio Ave com Costinha, por exemplo. É jogador para um grande?
- O Costinha tem um potencial enorme, é um verdadeiro atleta e está a melhorar aquilo que, na minha opinião, é fundamental na evolução dele. Está um jogador muito mais calmo na hora de decidir e, por conseguinte, tem-se destacado. Está um jogador mais maduro e a tomar cada vez melhores decisões. Prova disso é a tremenda influência que tem tido no Rio Ave, esta época. Se continuar desta forma, certamente, chegará a um grande.
- O que pode ter o Vítor Vinha de diferente de um treinador português em início de carreira?
- Movido por uma enorme paixao pelo jogo, confianca e determinacao, caracterizo-me por ter uma mentalidade vencedora. Podem esperar um Vitor Vinha capaz, trabalhador, resiliente e persistente na procura de vencer jogos. Passo a passo, tenho as maiores expectativas e objetivos para a minha carreira de treinador.
- As suas ideias de jogo diferem, por exemplo, das de Luís Freire? Em que pontos?
- Ambos queremos muito vencer jogos. Temos pontos convergentes e, também, pontos divergentes, mas não quero entrar em comparações. Apenas posso falar das minhas ideias. É minha convicção ter um modelo de jogo de desenvolvimento e valorização do individual através de um modelo coletivo, que valorize a bola, a iniciativa e a criatividade. Ter uma equipa que seja protagonista, que os jogadores sejam protagonistas. Uma ideia assente numa posse de bola em progressão com o objetivo de marcar o maior número de golos. Defensivamente ter um comportamento agressivo para recuperar a bola o mais rápido possível. Em suma, uma equipa extremamente competitiva e com uma mentalidade vencedora.
- A experiência como jogador pode fazer a diferença no papel de treinador?
- Ter sido jogador ou ser treinador pela via académica, por si só, não é uma garantia de sucesso. No entanto, acredito que ter sido jogador, é uma mais-valia. Convivi com imensos treinadores, jogadores, staff e diretores. A vida de jogador, ao longo do tempo, deu-me muitas aprendizagens e conhecimento que, enquanto treinador, são fundamentais na relação com os jogadores e com o balneário. Essa experiência ajuda-me a tomar melhores decisões.
- O conhecimento do balneário pode ser, por exemplo, essencial na resolução de conflitos?
Sem dúvida. Temos de ter princípios orientadores bem definidos. Temos de ter um conjunto de regras que fomentem o espírito de equipa, mas ao mesmo tempo, sensibilidade e flexibilidade para avaliar cada situação. Ter vivido o balneário por dentro ajuda-me a entender melhor certos comportamentos. É essencial agregar todos em prol de um bem comum. Todos os intervenientes são responsáveis por criar um ambiente propício ao máximo rendimento desportivo.
- O facto de não ter experiência como treinador principal tem sido um entrave à sua estreia?
- Para mim, a questão da experiência é uma não questão. Estou no futebol desde os 11 anos. Tive uma carreira enquanto jogador profissional e fui internacional. Tive treinadores que foram campeões nacionais ou que trabalham ao mais alto nível. Conheci muitos balneários. Como adjunto, trabalhei com vários treinadores de sucesso. Tenho ideias bem vincadas e sinto-me completamente preparado para qualquer desafio. Portanto, é uma questão de oportunidade, de acreditarem e apostarem em mim. Tenho confiança em mim e nas minhas ideias.
- Poderemos ver o Vítor Vinha a começar por baixo, num clube semi-profissional, ou por exemplo num projeto lá fora?
- Gostaria de começar o mais acima possível. Tenho capacidade para isso. No entanto, o mercado é que dita. Há que ter humildade e consciência de que é uma profissão extremamente competitiva, portanto se tiver de começar num clube semi-profissional ou então emigrar, que seja.
- O facto de o campeonato português ter, neste momento, apenas dois treinadores estrangeiros, confere um grau de confiança ao técnico português?
- O treinador português tem muito valor. Estamos entre os melhores do mundo. Ter treinadores estrangeiros no campeonato nacional ajuda os portugueses a evoluírem ainda mais. Há um confronto de ideias, modelos de jogo e comunicação que obriga o treinador português a refletir e a evoluir. Assim sendo, aumenta ainda mais a confiança e o valor do treinador português.