Final lamentável acaba com empate entre Chaves e Estoril na luta pela manutenção
Recorde as principais incidências do encontro
O momento é quase inenarrável, mas não há outra forma a não ser começar esta crónica pelo final de um jogo de futebol. Um simples jogo de futebol que deveria ter sido apenas isso mesmo, mas que acabou de uma forma impensável em qualquer campeonato, muito mais quando nos referimos ao primeiro escalão do futebol nacional.
Com o Chaves a perder por 1-2, decorriam três minutos de compensação quando um adepto começou por invadir o relvado para pedir satisfações ao guarda-redes do Estoril, Marcelo Carné.
O guardião não ficou apenas a ouvir o adepto do Desportivo de Chaves, ripostou e imediatamente gerou-se uma enorme confusão, com mais adeptos a invadirem o relvado e Pedro Álvaro a reagir com uma joelhada num adepto que corria na direção dos jogadores do Estoril. No banco, Vasco Seabra foi o único a manter a calma, acabando mesmo por tranquilizar um jovem apanha-bolas do Desportivo de Chaves, mas a confusão não parou por aqui.
Já com a polícia dentro de campo, vários adeptos foram detidos e algemados, com Nuno Almeida, árbitro da partida, a tentar levar o jogo até ao fim, apesar dos pedidos de apito final dos jogadores do Estoril Praia. A partida foi, no entanto, retomada, mas não sem antes Carné e Pedro Álvaro verem cartão vermelho. O Estoril ficou sem guarda-redes e reduzido a 9 e deixou fugir dois pontos quando Hélder Morim (90'+20) fez o empate.
Vamos ao jogo
Nunca se sabe que jogo é que pode definir um campo, mas Chaves e Estoril Praia podiam ter traçado o seu destino no que resta da temporada.
A partida do conjunto transmontano foi quase um espelho da época do conjunto orientado por Moreno e por José Gomes, no início da temporada. O Chaves entrou pressionante e aproveitou a forma desligada com que o Estoril arrancou o encontro para criar perigo junto à baliza de Carné.
Com Héctor Hernández muito marcado, João Correia, sobretudo, e Rúben Ribeiro foram os elementos mais procurados no ataque flaviense. A lesão de Tiago Araújo, que obrigou à adaptação de Pina à esquerda, deixou esse espaço ainda mais exposto e os ataques transmontanos acabaram por suceder-se. Num estilo pouco apoiado, mas em jogo direto, a equipa de Moreno começou a ganhar confiança.
A tal pressão flaviense acabou por resultar na perfeição. Depois de Ruberto, guarda-redes do Vizela, ter oferecido um golo ao SC Braga no sábado, Marcelo Carné quis juntar-se à lista dos momentos embaraçosos da jornada e entregou o golo a João Correia (32'), que tem o mérito de ter pressionado o guardião canarinho para abrir o marcador.
Antes de recolher aos balneários, Vasco Seabra apresentava um semblante de preocupação, natural depois de uma primeira parte que até foi dividida, mas cujas oportunidades pertenceram quase por inteiro à equipa da casa.
Com a vantagem no marcador e a obrigatoriedade de somar pontos para sonhar com a manutenção, pedia-se outro espírito a um Chaves que até regressou bem dos balneários - Héctor desviou de cabeça ao lado da baliza de Carné -, mas tal como aconteceu em outros jogos a equipa de Moreno recuou demasiado cedo.
Empurrado por um Estoril que já viu melhores dias (Guitane esteve desaparecido e Rodrigo Gomes só surgiu a espaços), Heriberto Tavares deu o primeiro sinal de mais um final dramático para os quase 3 mil adeptos que estiveram no Municipal de Chaves.
Num caminho que tem sido marcado por curvas e contracurvas, ao bom estilo da Nacional 2 que começa em Chaves e percorre todo o país, a equipa de Moreno espalhou-se ao comprido e deu mais um tiro no pé que pode ser fatal no final da época.
Dois lances de bola parada foram decisivos para o Estoril, que chegou ao empate com um golo na sequência de um canto cobrado por Mateus Fernandes e finalizado por João Basso (58').
Completamente à deriva, o Chaves acabou mesmo por cair quando Fabrício Garcia (71'), que tem estado em destaque nos sub-23 do Estoril, aproveitou a passividade transmontana e o trabalho de Rodrigo Gomes para fazer a reviravolta, com contributo decisivo do guarda-redes Hugo Souza, que acabou por defender para dentro da baliza.
Se os ânimos dos adeptos do Desportivo de Chaves já estava bem acesos, mais ficaram quando Moreno surpreendeu e, a precisar de golos, retirou o melhor marcador da equipa, Héctor Hernández de jogo.
O resultado parecia controlado pelo Estoril Praia, até que a situação mencionada no início da crónica, que preferimos nem repetir, acabou por definir o rumo do jogo. Contra nove e com um guarda-redes adaptado, a equipa da casa aproveitou a situação para resgatar um ponto que pode ter influência nas contas finais do campeonato, quando Hélder Morim, aos 20 minutos de descontos, bateu o guarda-redes João Carlos para fazer o golo do empate.
Irritados, os jogadores do Estoril recolheram aos balneários depois de um dos finais mais surreais da história recente do futebol português.
Homem do jogo Flashscore: João Basso (Estoril Praia)