Liga 2024/25: Cajuda lamenta elite estagnada num eterno triunvirato
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“A luta pelo título será igual ao que já é há muitos anos. Disto não tenho dúvida. Agora, não posso entender como é que se pretende meter três equipas na Liga dos Campeões quando não temos valor para tal. Isto não é criticar, mas mostrar apenas o respeito que tenho pelo futebol português, que merece melhor gestão, maior atenção e audácia para evoluir”, observou à agência Lusa o atual presidente da ex-primodivisionária Olhanense.
O campeão em título Sporting (20 títulos), o Benfica, vice-campeão na época passada e recordista de êxitos (38), e o FC Porto, que encerrou o último pódio e é o segundo mais laureado (30), controlaram 88 das 90 edições da Liga, cujas exceções à regra foram o Belenenses, agora na Liga 3, em 1945/46, e o Boavista, integrado na elite, em 2000/01.
“Muito mais do que a expectativa que possa ter, o meu desejo é que o futebol português melhore, porque os clubes não estão a praticar aquele futebol que o povo gosta e que é caracterizado por golos. A qualidade não tem melhorado e isso reflete-se na descida nos rankings da FIFA e da UEFA. Efetivamente, o futebol português está com táticas a mais. Sendo teoricamente forte, na prática não entusiasma quem tem de pagar bilhetes para ir aos estádios. Por culpa de alguém em sentido lado, a emoção reduz-se a três ou quatro equipas e o resto dos jogos são pouco produtivos, simpáticos ou brilhantes”, reconheceu.
Representado em cada uma das últimas quatro épocas por seis clubes nas competições europeias, Portugal foi ultrapassado pelos Países Baixos na sexta posição do ranking da UEFA e passou a disponibilizar cinco vagas em 2023/24, com efeitos a partir de 2024/25.
“Embora de forma lenta, o país tem evoluído muito (a nível social) e há outras nuances e até outras modalidades que vão chamando à atenção. O público vai-se dividindo e já fica saturado de ver mais do mesmo: uma equipa com percentagem de 70 ou 80 minutos de posse de bola sem emoção, remates à baliza e golos. Todos os anos falamos nisto, mas, de uma vez por todas, o futebol tem de reunir todos os agentes. Não só os jogadores, os árbitros ou os dirigentes, mas também o povo, os jornalistas e os comentadores, fazendo com que se analise se vale a pena continuar assim”, sugeriu Manuel Cajuda, de 73 anos.
A histórica supremacia dos grandes tem tido como principal oponente nas últimas duas décadas o SC Braga, que o algarvio orientou em duas fases (1994-1997 e 1999-2002), antes de os minhotos evoluírem “em infraestruturas e na aproximação ao público”.
“No plano financeiro, pelo menos, justifica-se que seja mais forte. Não me recordo de um investimento tão grande ali como o deste ano. Quem investe, investirá seguramente para ficar melhor. Ninguém gasta dinheiro para comprar coisas que não prestam. Além dessa excelência, ressalvo a teimosia boa do presidente António Salvador, que tem mudado o SC Braga para melhor. É dos poucos emblemas que mais degraus subiu entre o patamar anterior e atual, porque os outros já eram e continuarão a ser grandes”, avaliou.
Os arsenalistas perseguiram Sporting, Benfica e FC Porto em 2023/24, uma temporada depois de terem superado os leões rumo ao quarto pódio da sua história na Liga, meta que o rival Vitória SC, de regresso ao quinto posto pela primeira vez em cinco anos, conseguiu pela derradeira vez já em 2007/08, então sob alçada de Manuel Cajuda.
“Acho que está a ficar longe e tem de se aproximar muito mais do top 4. Entendo que o Vitória SC tem gente suficiente para ser um clube mais ganhador. Dificilmente direi que será campeão nacional, mas pode intrometer-se nessa luta ou até atrapalhar os outros. É pena que não haja mais clubes nesta situação, visto que o futebol teria muito a ganhar se o campeonato não estivesse resumido apenas a Benfica, FC Porto e Sporting. Contudo, há que ser claro: estamos a colher aquilo que temos vindo a cultivar”, salientou.
Com experiências adicionais na Liga por Farense, Portimonense, Belenenses, União de Leiria, Marítimo, Beira-Mar, Naval 1.º de Maio ou Olhanense, Manuel Cajuda não espera inovações “nesta grande luta entre o negócio e o futebol”, mesmo que a modalidade seja “completamente imprevisível” e a centralização dos direitos audiovisuais esteja iminente.
“Partindo do princípio de que as classificações honrosas serão do quinto lugar para cima, dificilmente vejo outra equipa que possa ocupar esse espaço. É difícil, porque os valores económicos estão desfasados e os dinheiros da televisão não são distribuídos de forma mais justa entre todos aqueles que fazem o espetáculo. Há quem gaste com um jogador mais do que algumas equipas fazem com um plantel inteiro. Não é que o dinheiro ganhe jogos, mas dá um conforto extremamente importante em condições de trabalho”, admitiu.