Luís Neto: "Rúben Amorim disse que se não ganhássemos nada, algo terminava"
Balanço: "Esta foi uma época de tudo ou nada. Tivemos muitas conversas na época passada. Aparentemente não, mas nós tínhamos um bom grupo. Tivemos um grupo muito saudável também. Toda a gente tinha boa relação, mas estava a faltar alguma coisa. Tivemos conversas muito marcantes entre todos. O miste também teve mensagens que repetiu várias vezes, que se nós não ganhássemos nada, algo terminava. Poderia existir um fecho de ciclo. Mas toda a gente deu uma grande resposta. Conseguimos, no desconforto, voltar a criar todas as condições para ganhar. Principalmente, a resiliência do grupo. A consistência e o facto de conseguirmos passar a mensagem que todos os três pontos eram importantes. Ou seja, eu lembro-me de jogar em Faro, aí na sétima ou oitava jornada e nós praticamente já dizermos que 'Ganhamos hoje e somos campeões'. Irmos ao Bessa e dizermos 'ganhamos hoje e somos campeões'. Ou seja, aquilo já não era jogo a jogo. Aquilo era quase... 'Se ganhamos hoje, somos campeões'. E aquilo criou-se mesmo em todos os jogadores estrangeiros, a malta toda que veio este ano, imbuída nesse espírito. Falávamos em inglês para passar todas as mensagens, ninguém ficou de fora. Existiu uma crença enorme, uma fome enorme."
Exibições: "A nível exibicional, toda a gente com prazer a jogar uns com os outros, o nosso sistema, as nossas posições... O passar de um jogo para o outro, o nível de exigência, ou seja, o percebermos que durante... Podemos ter 10 vitórias seguidas, mas tivemos os nossos rivais a ganhar 10 jogos seguidos. Tivemos que ganhar o 11.º, não há empates, não há nada. Não há dias de folga. É exigente a nível físico, é exigente a nível mental, porque depois coloca-se a Liga Europa, coloca-se a Taça de Portugal, a Taça da Liga. Lutar por tudo. Depois de três em três dias, muitas vezes a jogar ao terceiro dia, com pouco tempo de recuperação, com pouco tempo de treino, muito vídeo. E mesmo assim, a malta conseguiu aguentar-se muito tempo sem se queixar, conseguiu aguentar-se muito tempo sem pedir folgas, conseguiu aguentar-se muito tempo a passarmos mesmo todos os dias na academia. 'Malta, é mais um, é mais um'. A malta que não jogava, a treinar como se não houvesse amanhã. E eu acho que muito disto foi a chave deste ano."
Rúben Amorim: "Acho que posso dizer que quando o mister chegou, existia uma ilusão muito grande do que estava a ser a época. Pensava-se o que é que o mister podia trazer de diferente para nós, que já não tivesse sido testado ou que já não tivesse sido tentado para que as coisas corressem bem. E depois o Rúben Amorim trouxe muita exigência, própria dele e também aquilo dele dizer e se corre bem? que é um bocadinho o passar a mensagem de 'E se ganhamos no Sporting? E se nós fazemos diferente?'
Primeiro título: "Nas nossas primeiras vitórias fomos sentindo que existia algo de especial, depois tínhamos tipo aquele backup de miúdos da formação, também cheios de fome, a darem muita qualidade ao treino, a darem leveza àquilo que é o lutar para ser campeão, porque é muito exigente em ermos emocionais e físicos, o dia a dia, de 3 em 3 dias, mesmo até depois do choque que foi o não termos entrado na Liga Europa e depois logo duas vitórias seguidas fora, com a Covid, o início com muito ruído, mas foi uma caminhada incrível, mesmo as nossas relações, nós ainda falamos uns com os outros, eu falo com o Palhinha, com o Tabata, com o Jovane, ou seja, foi algo muito especial
Sporting: "O Sporting é um clube diferente, é um clube especial, com características muito particulares, é um clube que gosta de ter certos valores, que gosta de ganhar bem, gosta de ganhar justo, em campo, sem qualquer tipo de subterfúgios, ou seja, sem qualquer tipo de desculpas, e é um bocadinho, talvez até a história deste campeonato nosso, acho que o maior garante daquilo que conquistámos foi as palavras dos treinadores com quem jogámos, as palavras dos adversários, as palavras de uma série de gente que disse que o Sporting foi melhor. Acho que as vitórias do Sporting são muito assim. Vamos percebendo que é possível ganhar de maneira diferente. É possível ganhar com os nosso valores e acho que é talvez isso que levo mais daqui, não fugir do caminho, a mesma equipa e a mesma estrutura que não ganha e que fica em quarto lugar é possível a mesma ganhar e ficar em primeiro lugar, é possível saber ganhar, é possível fazermos a festa que fizemos no Marquês, sem qualquer tipo de incidência. É um bocadinho isto do que significa o Sporting, de geração em geração, toda esta Juventude que respira Sporting. Talvez no início não tivesse a noção desta dimensão do que é que abrange o Sporting, não só a nível desportivo, mas também a nível de sociedade civil e agora no final com as festas que tivemos, com tudo que tive de a nível institucional, tudo que visitei, tudo o que conheci, o museu , é história incrível de um clube tão grande como os maiores da Europa."
Lesão grave: "Acredito que seria uma época mais positiva para mim a nível desportivo. E eu acredito que iria dividir muitos jogos com o St. Juste. Acho que até estava, talvez, no meu melhor momento de Sporting, a nível desportivo e exibicional. Que tinha terminado muito bem a época anterior, a que ficámos em segundo lugar e depois recomeçámos com esta. Eu tinha feito uma boa segunda parte em Frankfurt, a primeira vitória na Alemanha de Sporting, a nível de competições europeias. E depois tenho uma lesão mesmo estranha e tenho esse azar de perceber que algo estava errado e na altura até tive algum receio que fosse uma lesão ainda mais grave do joelho. Mas contra tudo que é clínico, contra tudo que é médico, acabo por na fase final da recuperação do meu joelho, a faltar pouco mais de duas semanas, acabo por ter a infelicidade do pneumotórax, que me roubou muito tempo. Roubou-me muito a nível mental, a emocional e físico. Perdi a forma, emagreci. Cheguei a pesar 64 kg. Eu já sou alguém robusto. E tive que me readaptar a tudo, ir à Academia só praticamente para fazer fisiorespiratória, em que não podia ter outro tipo de exercícios."
Família: "Foi realmente um período com muitos desafios. A minha família passou o inferno comigo porque depois, associado a isso, a época desportiva não estava a correr bem. Só pensamos em ultrapassar os timings para poder voltar, para poder ajudar e as coisas não andam. É preciso obedecer a tudo que é os procedimentos normais para o regresso. E eu ainda tinha o joelho para voltar. Trouxe-me a mim também uma grande confusão mental. O que mais me custou também foi o estar longe. Lembro-me da equipa estar a festejar e eu não tive boas sensações no campo. Acaba por ser um caminho muito solitário. Nós vamos a horas diferentes para a academia."
Regresso: "Quando o resto da equipa operacional vai treinar, nós estamos a fazer tratamento. E era algo que eu tinha que estar constantemente a fazer raio-x a perceber como é que estava o meu pulmão, se estava já em condições, se poderia. Sempre por fase, sempre por fase. Isto é uma competição muito feroz. Tivemos também um reforço em janeiro a nível defensivo (Diomande), que me fez perder espaço, naturalmente. O regresso contra o Santa Clara com as palmas da bancada que ali deram-me um sinal que algo de bom ainda havia"