Momento Flash da semana: João Neves, ou a definição de mística em duas palavras
A 11 de dezembro de 2022, estávamos nós a viver as emoções do Mundial-2022, no Catar, e João Neves, um jovem franzino de 18 anos, estreava-se na equipa principal do Benfica, num particular com o Sevilha, no Algarve, que marcava a primeira derrota do Benfica de Roger Schmidt.
Dez meses depois, a 16 de outubro deste ano, João Neves estreava-se pela Seleção Nacional AA, diante da Bósnia, por entre rasgados elogios de Roger Schmidt, que alguns até acharam exagerados.
A verdade é que João Neves já é mais do que apenas um jovem médio promissor do futebol português. É, neste momento, e com 19 anos, a alma do Benfica. E quem tira a alma a alguém, tira-lhe tudo. Desviar João Neves para uma ala é como tirar um motor a um carro e esperar que ele continue a ir na mesma direção. Não vai. Pára. E, se estiver a descer, vai mesmo recuar. Foi isso que sucedeu ao Benfica, com João Neves a ala direito, com a equipa em 3x5x2.
Diz-se que foram os próprios jogadores a pedir a Roger Schmidt para regressar ao esquema habitual. Verdade ou não, o treinador alemão regressou às origens no dérbi de domingo, com o Sporting, no Estádio da Luz.
Na época passada, a do título de campeão do Benfica, João Neves foi absolutamente decisivo na reta final do campeonato, quando a águia começava a perder gás, qual gasolina premium num carro que já clamava por uma revisão - leia-se descanso, porque Roger Schmidt usou e abusou de um onze-base até perder Enzo Fernández em janeiro.
Foi a 21 de maio de 2023, já com o Benfica na reta da meta para festejar o título, que João Neves marcou o primeiro golo pela equipa principal do Benfica. Onde? Em pleno Estádio José Alvalade, no dérbi com o Sporting. Minuto? 90+4, garantindo um ponto para os encarnados, na penúltima jornada, antes de selar a festa do título na 34.ª ronda, diante do Santa Clara (3-0).
Esta temporada, João Neves também já marcou um golo. Onde? Em pleno Estádio da Luz, no dérbi com o Sporting. Minuto? 90+4, abrindo caminho a uma reviravolta absolutamente épica, que entra diretamente para a lista dos dérbis lisboetas com maior emoção da história. E sim, é este o Momento Flash da semana.
Está visto que João Neves não é um médio qualquer.
"Eu acho que o João Neves nasceu para jogar futebol. Nasceu para jogar na seleção. Vi um jogador muito natural, que está a desfrutar cada minuto. Gosto muito da sua energia, do seu profissionalismo e confiança. Não acho que mostra ser o primeiro estágio e isso é um sinal de um jogador de um potencial muito grande, a nível mundial", elogiou Roberto Martínez, selecionador nacional, em conferência de imprensa, repetindo os elogios numa entrevista.
"Quando um jogador chega pela primeira vez a uma Seleção é um momento impactante. Só se tem uma oportunidade para a primeira impressão e o impacto do João Neves... É um futebolista que vai dar que falar a nível mundial. Vive o futebol, tem 19 anos, ganhou o campeonato pelo Benfica e a sua conduta e comportamento na Seleção mostra que nasceu para isso. É um jogador que joga melhor como médio defensivo, capacidade tática acima dos jogos que jogou com a idade que tem. Acho vai ser influente no futebol europeu nos próximos 10 anos, sem dúvida", disse o selecionador nacional, numa entrevista em Espanha.
João Neves não é, ainda, a alma da Seleção Nacional. Mas já é a alma do Benfica. Uma alma de apenas 19 anos, mas quase todos eles vivendo, por dentro, o dia a dia do clube encarnado, onde chegou em 2012, ou seja, há 11 anos.
“Adesão arrebatada, passional, a uma doutrina, a uma ideologia, a um clube." É esta a definição de mística no dicionário de Língua Portuguesa da Texto Editora. Talvez fosse mais fácil resumir a mística a um clube em duas palavras: João Neves.