Tantas vezes figura mal tratada, a profissão de árbitro será, muito provavelmente, a mais ingrata e esquecida do futebol. Se erra, o árbitro é o principal responsável pelo resultado negativo de uma equipa (e mesmo quando não o é, passa a ser), mas se não erra estava apenas a fazer o seu trabalho.
Por isso, a despedida de Nuno Almeida em Moreira de Cónegos tinha de ser o momento flash desta semana.
Natural de Monte Gordo, concelho de Vila Real de Santo António, Nuno Almeida colocou um ponto final numa carreira com mais de 20 anos, marcada pela presença em duas finais - Supertaça de 2019 e Taça de Portugal de 2020/21 -, e fê-lo de uma maneira pouco habitual para os árbitros portugueses e estrangeiros.
Quis o destino que Nuno Almeida, que terminou o curso de arbitragem em maio de 1994, deixasse o futebol exatamente no mesmo estádio onde tinha apitado, pela primeira vez, um jogo da Liga Portugal.
A 3 de novembro 2002, o algarvio foi o árbitro do Moreirense - Vitória FC, que terminou empatado 2-2, no Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas. Quase 22 anos depois, o adeus no mesmo palco, aplaudido por todos, numa situação que raramente terá experienciado ao longo da carreira, bem pelo contrário.
Mais habituado a deixar as quatro linhas debaixo de um coro de assobios e de umas quantas palavras injuriosas pelo meio, Nuno Almeida teve a despedida que merecia e o próprio soube aproveitar esse momento.
Depois de ter sido alvo de cânticos de homenagem de alguns adeptos do Santa Clara no primeiro tempo, o algarvio ainda ofereceu os seus cartões a um jovem adepto do Moreirense, após o apito final, que tinha levado um cartaz com a seguinte frase: "Nuno Almeida, quero agradecer-lhe todos estes anos de dedicação. Um árbitro exemplar para eu sempre respeitar".
Se esses dois momentos por si só foram emocionantes, Nuno Almeida não conseguiu conter as lágrimas quando abandonou o relvado. Junto à linha de fundo, os jogadores das duas equipas, as equipas técnicas e a restante equipa de arbitragem fizeram uma guarda de honra de homenagem a Nuno Almeida, que também tinha a família a assistir de perto, nas bancadas.
"Foi uma emoção muito grande e muito forte. Este jogo não foi diferente da maior parte dos outros. Foi diferente de todos os outros. A emoção foi de tal maneira carregada pela positiva que será inesquecível", admitiu, no final do encontro.
E assim, debaixo de aplausos e palavras de incentivo, Nuno Almeida despediu-se em grande de um futebol que soube respeitar, mesmo que por vezes não tenha recebido esse respeito do outro lado.
Um belo cartão de despedida para o árbitro algarvio!
