Momento Flash: Uma vénia aos Soldados da Paz
Lembraram-se deles. É sempre assim. Ano após ano, assim que o mapa de incêndios começa a ficar cada vez mais preenchido e a falta de meios é tema em cada canal televisivo, as pessoas lembram-se deles. Os Bombeiros. Soldados da Paz. Voluntários. Esquecidos.
2024 parecia um ano mais calmo dos que os anteriores neste aspeto, mas chegou setembro e tudo mudou. Não se sabe ao certo onde, como, nem quem começou (a eterna questão), mas o primeiro grande incêndio deu lugar a muitos mais e as sirenes voltaram a tocar. Lembravam-se do som?
Albergaria-a-Velha, Nelas, Mangualde, Tábua, Vila Pouca de Aguiar, Oliveira do Hospital, terras também elas esquecidas durante quase todo o ano começaram a ser o centro de mais uma operação delicada. Em estado grave e com muitas perdas pelo meio, Portugal voltou a sobreviver. Mas a que custo?
Uma vez mais na frente de todo o combate, os bombeiros tentam salvar pessoas, casas, animais. Dão a vida pelos outros, literalmente. Paulo Santos, 38 anos. Susana Carvalho, 44 anos. Sónia Melo, 36 anos. Três bombeiros. Três pessoas que perderam a vida no combate às chamas, no concelho de Tábua.
Que não se esqueçam deles!
Sete pessoas morreram, 177 ficaram feridas e arderam mais de 124 mil hectares. Os estragos são, ao dia de hoje, incalculáveis. Sabe-se pouco, da mesma forma como se sabe pouco do que será feito para evitar cenários idênticos e dar mais condições às corporações de bombeiros que voltaram a dar a vida em troco de muito pouco.
Perante tudo isto, o futebol, a coisa mais importante das coisas menos importantes, voltou a ser um exemplo de união e, acima de tudo, ação. As homenagens da Liga Portugal aos bombeiros em todos os jogos da competição servem, acima de tudo, para dar visibilidade a uma profissão que precisa de ser lembrada (e homenageada) ao longo do ano, mas o futebol foi muito além dos minutos de silêncio - nesse aspeto, permitam-me destacar o Rio Ave-Estoril Praia, um exemplo do que deve ser um minuto de silêncio.
Além da utilização de capacetes e casacos para honrar os bombeiros, a iniciativa da Liga Portugal e Fundação do Futebol deve ser enaltecida, especialmente porque foi traduzida em aspetos práticos - a jornada seis motivou a plantação de 4.000 árvores.
A D. Maria Elvira
Além das várias homenagens aos bombeiros nos jogos da Liga Portugal, houve ainda espaço para uma outra iniciativa, neste caso com o Estádio de Alvalade como epicentro do que também deve ser o futebol.
Uma reportagem da RTP com Maria Elvira, residente em Albergaria-a-Velha, de 82 anos, que conseguiu salvar "o seu Sporting" fez com os que os adeptos leoninos solicitassem apoio imediato e o clube não tardou a reagir.
Convidada para marcar pela primeira vez presença no Estádio de Alvalade, onde assistiu ao jogo com o AVS, a D. Maria Elvira foi a personagem principal antes da partida: "Isto parece um sonho, nem parece ser realidade", disse, aos canais do clube.
Recebida pelos adeptos, jogadores e equipa técnica, Elvira viveu um dia que irá lembrar eternamente, esquecendo por alguns momentos o que viveu naqueles dias: "Até me esqueço da aflição por que passei, onde estive metida no fogo praticamente. Nem dá para lembrar. Isto é totalmente diferente".
Além da visita a Alvalade, onde viu o "seu Sporting" vencer por 3-0, já foram angariados mais de 15 mil euros para ajudar Maria Elvira a recuperar do incêndio que deixou a sua casa reduzida a cinzas.
O que nos leva a uma constatação há muito sabida e sempre repetida: "não é - nunca é - só futebol".