Rui Costa explicou mercado do Benfica: "João Neves não queria sair, mas há números que se tornam inevitáveis"
Estratégia na construção do plantel: "Desde logo criar um planel de qualidade. Curto, e temos mais uma vez, este ano, um plantel de 25 jogadores, um plantel com forte presença da formação, temos oito e podemos ter nove jogadores da formação, se considerarmos que João Rego trabalha com o plantel principal e o da B. Mas um plantel mais equilibrado, financeiramente e desportivamente, preenchendo lacunas do ano passado. Vejo um plantel forte, competitivo com dois jogadores por posição no mínimo. Mas um plantel mais equilibrado do que o do ano pasado. Temos cinco competições para fazer este ano, sabemos da exigência que é representar este clube e procurámos que o plantel estivesse pronto para todas as competições. Acho que nos apetrechámos bem, colmatámos as saídas que tínhamos para colmatar e criámos competitividade diferente no seio do plantel. O trabalho foi bem realizado, agora os resultados vão ditar se foi bem ou mal feito."
As saídas do Benfica
João Neves: "Quando se fala de um jogador da formação, com o carisma do João, é sempre uma dor perder um jogador como este. Fomos rejeitando propostas para ele, de menor volume e que chegaram mais cedo, fomos fazendo subir as propostas e chegámos a valor que para um e outro lados era inevitável. Ele não queria sair, mas há números que para o clube e para ele se tornam inevitáveis. 60 milhões que poderão chegar aos 70 milhões... há que ter em atenção, em primero lugar, um jogador do carisma e do valor do João, todos achamos que ele não tem preço. Mas acontece que temos de olhar para o mercado e ver como ele está a funcionar. Não quero mentir, mas este foi o mercado mais baixo desde 2016/17, o primeiro que não teve transferênias acima dos 100 milhões de euros. A mais cara neste mercado foi de um campeão do mundo que vai para o Atlético de Madrid, por 75 milhões. Na atualidade, e essa é uma das preocupações do mercado, a transferência de 60 milhões mais 10 do João está no top cinco das mais altas e se chegar aos 70 será a segunda mais alta, perdendo apenas por 5 milhões. Não queremos bater recordes, o nosso desejo não é vender, mas é um valor alto e daí termos aceitado. Mas custa sempre ver partir um dos nossos meninos, mas são necessidades que não podemos dizer que não."
Marcos Leonardo: "Foi uma situação diferente. Tem a ver com a estratégia desportiva da formação do plantel. Uma das posições que entendemos reforçar foi a de ponta de lança, com o Pavlidis, que, não querendo puxar o azar, tem justificado e de que maneira a aquisição. Estando projetado jogar com um avançado, foi nossa projeção ficar com apenas dois pontas de lança de área, e mais um que pudesse fazer as duas posições, daí a contratação do Amdouni. Foi por isso que saíram o Marcos (Leonardo) e o Tengstedt. Ficámos com Pavlidis, Arthur Cabral e Amdouni. Fomos evitando as propostas pelo Marcos Leonardo, até que chegou uma de 40 milhões. Sejamos muito claros: apesar de considerarmos toda a margem de progressão do jogador, essas só aconteciam se ele jogasse. Ter uma proposta de 40 milhões por um jogador que não é titular... Era quase inevitável que aceitássemos uma propostas destas por um suplente."
David Neres: "Apesar de toda a sua qualidade e o que de bom fez no Benfca, não deixa de ser um jogador de 27 anos e que oscilou muito na titularidade. Já no ano passado surgiram propostas para ele e houve a ideia dele em mudar de ares. Pensámos que era melhor ficar. Este ano houve mais propostas até chegar a do Nápoles, para um campeonato que a ele lhe agradava e considerámos que em posicionamento de plantel podíamos ter jogadores de outras características. Veio o Kerem (Akturkoglu), que joga nos dois flancos, o Neres gostava mais da direita. Aceitámos a saída do Neres por um valor substancial e para um jogador que não era titular indiscutível no Benfica."
João Mário: "O João foi dos jogadores, dos homens mais extraordinários que encontrei no futebol. Deu-nos muito, influentíssimo no ano do título, mas houve um elo de ligação que se partiu. Nós e o jogador entendemos que era melhor seguirmos caminhos diferentes. Como foi visível, houve alguma coisa que se partiu pelo meio."
Morato: "Um jogador formado por nós, que nos deu bastante, no ano passado até foi muitas vezes sacrificado a jogar numa posição que não era a sua, e cumpriu sempre. Mas eu gostava que as pessoas percebessem... Com a continuidade de Otamendi, a afirmação de António Silva e a ascensão do Tomás Araújo, arriscávamos ter o Morato como quarto central, que num plantel faz mais bancada do que banco. Há dois anos, Morato tinha outra projeção, mas entendemos não desvalorizar o ativo e prejudicar a carreira do jogador, ao ficar como quarto central. Era provável ter poucos minutos durante a época, daí a saída. Ficaram os três centrais, mais um da formação, o Bajrami."
Paulo Bernardo: "À imagem do que fizemos com o Jota, com o mesmo clube, deixando uma percentagem futura para o Benfica. Não prendemos as pernas aos jogadores e deixámo-los prosseguirem as suas carreiras."
As entradas do Benfica
Pavlidis: "Há que referir uma coisa: ele fez mais golos na pré-temporada do que tem feito agora nos jogos oficiais, mas tem mostrado muita qualidade e exibido sempre espírito de sacrificio em prol da equipa. A sua contratação surgiu dentro da estratégia de contratar um ponta-de-lança com uma média de golos mais elevada do que os avançados do ano passado, com características diferentes. Já estava referenciado há muito tempo mas por valores de mercado não tínhamos conseguido fechar o negócio antes. Estamos muitos satisfeitos com ele, tínhamos muita convição do seu valor."
Beste: "Um dos problemas idenficados no ano passado foi nas laterais. Ficámos com o Carreras, que está a afirmar-se cada vez mais, era preciso mais um para essa posição, e vimos em Beste o jogador ideal, um lateral muito ofensivo. Pena que teve uma lesão, que o tem condicionado, mas temos muita confiança nele e tem as características certas."
Akturkoglu: "Foi nos últimos instantes do mercado mas não deixa de ser jogador já visto muito antes. Só chega no último dia por causa das novas leis da imigração, mas entronca muito no que acabei de dizer do David Neres. Perdemos um criativo que privilegiava jogar pela direita e precisávamos de um jogador com maior preponderância, ao jogar em várias posições. Nos três jogos que fez deixou marca nos três, esperamos que continue assim, mas vai ao encontro do equilíbrio do plantel. Sentíamos que do lado esquerdo tínhamos menos criadores. Assim, libertámos o Aursnes para outras posições e queremos apostar no Schjelderup e Prestianni, jovens muito talentosos mas que ainda não devem ter a responsabilidade de serem já os abre latas da equipa. Confiamos muito neles e é a prova que temos equipa para o presente mas também para o futuro"
Leandro Barreiro: "Acabámos a época com três médios de raiz e já o conhecemos há muito tempo. Ia ficar livre, conseguimos antecipar o mercado e tivemos facilidade em contratá-lo. O Leandro queria muito vir para o Benfica, porque tem raízes portugueses. É um jogador de plantel, vem complementar a zona de meio-campo, era uma lacuna que entendemos que poderíamos melhorar."
Amdouni: "Era um jogador que já estava referenciado, depois ele optou por ir para Inglaterra. Aproveitámos o facto de a sua equipa ter descido. É um jogador muito forte, que pode fazer várias posições. Era o jogador ideal. Ainda agora no Bessa entrou para o lado esquerdo, tem muita presença na área e pode fazer as quatro posições da frente. Ainda está a entrosar-se. Vai ser importante esta época. Tem um empréstimo com opção de compra, não conseguimos trazê-lo por inteiro."
Kaboré: "Precisávamos de mais alguém para a direita, onde só tínhamos Bah. Temos de ter paciência, é um jogador muito jovem, mas que já fez um ano inteiro no Marselha, um ano inteiro na Premier League, sei que não entrou da melhor forma no primeiro jogo, fruto de muito nervosismo, também não estava um jogo fácil. Temos de ter paciência, é muito jovem."
Renato Sanches: "Nem foi preciso apresentar-lhe a casa. Com a saída do João Neves, houve necessidade de trazer outro jogador. Nos últimos anos, o Renato não teve o mesmo fulgor, mas acreditamos nele. Tem uma fome muito grande de vestir esta camisola e voltar a ser o Renato. Acredito que esta é a casa ideal para recuperar e para nos dar muito, sei do sentimento com que ele joga com esta camisola."
Análise do mercado
Balanço financeiro: "Vendemos mais do que comprámos, 114,7 milhões de receita e 40 milhões de investimento, sendo que poderão acrescer jogadores que vieram com opção de compra. Tivemos um resultado negativo nas contas acima dos 30 milhões e não vou embelezar, não é isso que pretendemos fazer, mas as pessoas têm de perceber que o timing da venda influencia muito. Podia estar aqui, facilmente, com um resultado positivo, mas optámos, de forma racional e pensada, em prescindir do resultado e trabalhar muito melhor em termos económicos. Perdemos muitos milhões de euros por vender muito mais cedo ou à pressa. O mercado começou muito tarde, fruto do Campeonato da Europa e da Copa América, e não fizemos nenhuma venda até 30 de junho, daí o resultado negativo acima dos 30 milhões. Se tivesse aceitado a primeira proposta do João Neves tínhamos um resultado positivo. Digo isto para tranquilizar os sócios do Benfica, não estamos aqui sem saber o que estamos a fazer. Preferimos alongar o mercado."
Fair-play financeiro: "O Benfica não tem problemas com o fair-play financeiro, os sócios podem estar descansados."
Comissões: "É sempre um tema que suscita muitas dúvidas e discussão e faço questão de explicar de forma a que as pessoas percebam. As indicações da FIFA são para pagar 10% nas vendas, finalizámos com 8,9%. Essas comissões estão contratualizadas e não conseguimos ter jogadores de qualidade sem que os seus agentes tenham direito a receber esses valores. Nas entradas pagámos 0% novamente, é uma política que seguimos. O resto que pagámos é nos contratos dos jogadores, os agentes têm direito a uma percentagem mas isso acontece em todo o mundo."
Bruno Lage depois do mercado: "Bruno Lage chegou depois do mercado, não teve influência. Quando se faz um plantel, faz-se para um treinador, neste caso para Roger Schmidt, mas, ao mesmo tempo, conhecendo na perfeição o Bruno Lage e reconhecendo-lhe qualidade, sabia que este plantel se moldava ao treinador. Eu sei como ele gosta dos plantéis montados, trabalhámos anos suficientes para ter esse conhecimento e esse plantel podia ter sido construído por ele, pelo que são as caraterísticas dos jogadores. Agora é dar rendimento ao mesmo e acho que está a conseguir dar."
Futuro do clube e AG
Objetivos: "Não é preciso uma carta escrita do que é preciso num clube como o Benfica, quais são os objetivos: é lutar por todas as competições para vencê-las. O Bruno (Lage) está preparado para isso, sabe da exigência deste clube, conhece bem o Benfica e os seus objetivos."
Assembleias-Gerais: "A primeira, dos estatutos, era uma premissa minha e as coisas estão encaminhadas. Deixo um reparo e um lamento sobre o que aconteceu, a demissão do Dr. Fernando Seara. Lamento profundamente, sei o sentimento que ele tem pelo Benfica e tenho muita pena que tenha acontecido isto. Deixo-lhe um grande abraço e agradecimento por tudo o que deu ao clube. A proposta global foi aprovada, agora quero que seja discutido tema a tema, não só para o atual mas para o futuro presidente do Benfica, para que vá ao encontro do que são as necessidades do clube e dos sócios. A próxima AG é diferente, espero uma AG à Benfica, com o respeito e dignidade que este clube tem. Cá estarei para ouvir a crítica mas, também, dentro do respeito a que este clube obriga."