Tão português como espanhol: o renascimento do Arouca impulsionado por dupla diabólica
A primeira vitória do Arouca na Liga Portugal aconteceu logo na primeira jornada. Mujica, conhecido dos portugueses pelo que fez na época anterior, apontou o primeiro golo dos arouquenses no campeonato. Cristo González, contratação de verão, apresentou-se com um dos golos frente ao Estoril Praia.
Depois desse triunfo, a equipa na altura treinada por Daniel Ramos só venceu quase quatro meses depois para a Liga Portugal e já sem o mesmo comandante no banco. À 12.ª jornada, uma goleada no Bessa (0-4) voltou a colocar a equipa agora treinada por Daniel Sousa na rota dos triunfos. Em relação ao jogo inaugural, Cristo González (bis) e Mujica foram denominadores comuns na lista de marcadores. Jason Remeseiro, outro espanhol a dar que falar em Arouca, juntou-se aos compatriotas.
Se, dois meses depois daquela vitória, podemos falar agora de um Arouca muito mais tranquilo e confiante, no 8.º lugar da Liga Portugal, com os mesmos pontos do que o Farense, 7.º classificado, os espanhóis merecem grande parte dos louros.
Goleador de créditos (con)firmados
Quando chegou a Arouca, em 2022/23, depois de ter terminado contrato com o Las Palmas, o currículo de Rafa Mujica impressionava mais do que os próprios números.
O espanhol passou pela formação do Barcelona, teve contrato com o Leeds e jogou na equipa principal do Las Palmas, mas os registos ofensivos não garantiam que a Serra da Freita ia receber um goleador capaz de deixar marca.
No entanto, o espanhol marcou ao segundo jogo pelo Arouca e voltou a fazê-lo ao terceiro. Ao longo da época, foi somando golos e revelou-se decisivo para o apuramento da equipa de Armando Evangelista para as competições europeias, mesmo quando o seu companheiro de ataque, Dabbagh, ficou de fora da equipa.
"É um jogador inteligente, compreende os espaços, o ataque à profundidade. É um avançado muito inteligente, finaliza bem com o pé direito e com o pé esquerdo", caracterizou Armando Evangelista, na época passada.
Os 14 golos com que acabou a temporada foram, de longe, o melhor registo da carreira, mas Mujica não ficaria por aqui.
Ao contrário do Arouca, o avançado entrou com tudo em 2023/24 e apontou quatro golos nos primeiros cinco jogos. Claro que o espanhol também sentiu as dificuldades encontradas pela equipa para marcar golos - já esteve cinco jogos consecutivos sem marcar -, mas Mujica é, nos dias de hoje, um dos avançados mais letais da Liga Portugal.
Com quatro golos nos últimos três jogos, o jogador do Arouca já ultrapassou a marca da época passada, entrou para o pódio dos melhores marcadores do campeonato e na lista dos bons avançados espanhóis que passaram por Portugal nos últimos anos.
Para contextualizar, se no ano passado fez 14 golos e uma assistência em 32 jogos, esta época leva já 15 golos e 3 assistências... em 26 partidas.
"Cristo, vem cá ver isto"
É esse sucesso espanhol em terras portuguesas (Ivan Jaime, por exemplo, foi o jogador revelação da época passada) que tem motivado vários jogadores a passar a fronteira para rumar à Liga Portugal. Muitas vezes, essa decisão revela-se certeira.
Depois de Mujica, chegaram outros espanhóis a Arouca. Cristo González, que chegou a jogar pela equipa principal do Real Madrid, era, à partida, o nome mais entuasiasmante. Em campo, o extremo justificou o entusiasmo.
Uma das revelações da primeira volta, Cristo teve entrada em grande na Liga Portugal. Além do golo frente ao Estoril, marcou mais duas vezes nas quatro primeiras jornadas, um dos golos frente ao FC Porto, no Estádio do Dragão.
Tal como aconteceu com Mujica, o extremo também sentiu o pior momento do Arouca, que lhe valeu inclusivamente duas presenças no banco de suplentes, mas o talento do jogador de 26 anos fez com que o melhor Arouca passasse pelos pés do inconformado Cristo González.
Com 11 golos e cinco assistências esta época (oito golos e quatro assistências para a Liga Portugal), Cristo é o jogador que mais vezes tenta visar a baliza adversária e um dos que mais acerta. Assim como Mujica, Cristo González é já uma certeza do futebol português.
Uma parceria de sucesso
Com seis espanhóis no plantel, tanto como jogadores portugueses, o Arouca tem forte representatividade do país vizinho. Se Mujica e Cristo são as jóias da coroa, há também que destacar o papel de Javi Montero, na defesa, e de Jason Remeseiro, no ataque.
Ambos com passagem pelo futebol da LaLiga - Resemeiro tem 116 jogos no principal campeonato espanhol, Montero fez nove pelo Atlético Madrid - os dois têm sido importantes para a boa época da equipa do distrito de Aveiro.
"O Cristo, o Jason, o Mujica, o Puche, que não teve muitos minutos... Tentámos ir buscar jogadores com irreverência para a frente, com entendimento de jogo, criatividade. Já seguia (o Cristo) há dois anos, não consegui trazê-lo, veio agora", contou Daniel Ramos, na altura ainda treinador do Arouca, em conferência de imprensa após o jogo com o Vizela (2-2).
Em boa altura chegaram estes espanhóis à Serra da Freita. Zona tranquila e de bons petiscos, a vila arouquense tem-se revelado o espaço ideal para afirmação ou até recuperação de jogadores, veja-se o caso de Alan Ruiz na época passada.
Daniel Sousa dá máxima responsabilidade atacante aos craques da frente, Remeseiro, Mujica e Cristo, como atestam os números. Até onde pode ir este Arouca de sotaque espanhol? É caso para dizer que tudo está "nas mãos de Cristo"... e companhia.