Carlos Coronel, o guarda-redes brasileiro que joga pelo Paraguai: "O objetivo é o Mundial"
Está firmada a conexão entre Carlos Coronel e o Paraguai. Porto Murtinho, na sua mais que centenária história, absorveu costumes paraguaios e também recebe a população do país vizinho.
O guarda-redes, que atua no New York Red Bulls, da MLS, é filho de mãe paraguaia e contou, em entrevista exclusiva ao Flashscore, sobre o seu processo de naturalização e a opção por juntar-se a "La Albirroja". A entrevista aconteceu no centro de treinos da franquia da liga norte-americana, em Whippany, Nova Jersey.
"Eu sempre tive raízes paraguaias. A minha mãe é paraguaia, só que eu nunca tive, não o interesse, mas nunca procurei a seleção porque eu venho agora, fazem quatro, cinco anos, jogando de facto, tendo minutos. Então, se não me engano, o ano passado, eu conversei com o meu tio, que é paraguaio e que vive no Paraguai. Ele tem um amigo na Federação e entrou em contato. Depois, eles entraram em contacto comigo e começamos a fazer o processo (de naturalização)", contou Carlos Coronel, de 27 anos.
Coronel iniciou a sua trajetória no futebol em clubes de Porto Murtinho, a sua cidade natal, chegou a ficar dois anos no Paraná e depois tentou a sorte no São Paulo, onde foi dispensado. Mas o projeto de futebol da Red Bull abriu-lhe as portas em 2011, ainda na base, e a sua vida mudou.
Profissionalmente, ele nunca atuou no Brasil, pois transferiu-se diretamente para o Red Bull Salzburg e cedido por três temporadas ao Liefering, clube satélite que disputava a segunda divisão austríaca à época. Da Europa, ele seguiu no projeto, chegou a disputar Champions League, mas não obteve oportunidades regulares. Acabou emprestado ao futebol norte-americano e depois foi incorporado ao New York Red Bulls, onde é titular desde 2021.
As suas raízes com o Brasil, portanto, são pequenas e a família paraguaia influenciou-o na decisão de "cruzar a ponte" e jogar pelo país ao lado. Além disso, Coronel sabe que suas oportunidades na seleção brasileira eram improváveis devido aos grandes nomes na posição.
"Foi uma decisão minha, um pouco mais do coração também, porque, querendo ou não, nasci no Brasil, mas eu sou da fronteira, a minha família também, tenho raízes paraguaias. No fim, foi uma grande conquista profissional e pessoal poder defender a seleção paraguaia. Sabia que seria difícil também defender o Brasil. Acho que o Brasil tem grandes nomes também. Optei pelo Paraguai pela possibilidade de jogar, de poder mostrar o meu potencial e, claro, porque é o meu país também, o país da minha família, onde me sinto muito familiarizado", declarou o guardião.
Copa América como preparação
A chegada da Copa América representa um importante passo para que o Paraguai se ajuste em busca do principal objetivo traçado pela federação local e também jogadores: a classificação ao Mundial de 2026, nos Estados Unidos, México e Canadá.
O Paraguai não disputa um Mundial desde 2010, na África do Sul. Já são, portanto, três Mundiais de ausência. Com a América do Sul a ter um número maior de vagas para a competição em 2026, a expectativa é grande entre os paraguaios para que essa seca, enfim, acabe.
O conjunto comandado pelo técnico argentino Daniel Garnero, ex-Libertad, ainda tem muito evoluir. Chega como sétimo colocado das eliminatórias Sul-Americanas, com cinco pontos, vaga que lhe garantiria neste momento a presença na repescagem, e só venceu um jogo nos últimos cinco que disputou: um 1-0 sobre a fraca Bolívia, em Assunção.
"Com certeza o objetivo número 1 é apurar o Paraguai para o Mundial. A chance de classificação é muito grande agora, sete se classificam, estamos em sétimo no momento, entraríamos numa repescagem. Mas, é claro, o objetivo é classificar diretamente para o Mundial", reforça Coronel.
"Ficamos sem treinador (o argentino Guillermo Schelotto), agora tem um novo técnico e ele precisa de tempo. Creio que a Copa América será muito importante para o treinador encaixar com a equipa, colocar o seu estilo de jogo, como ele deseja jogar, para podermos chegar mais forte nas eliminatórias no fim do ano. Eu tenho uma expectativa muito boa. Com muito trabalho e sacrifício, vamos conseguir levar o Paraguai para o Mundial de novo", completa o guarda-redes.
O Paraguai é bicampeão da Copa América. O último título, todavia, foi conquistado em 1979. A Albirroja chegou a uma final do torneio pela última vez em 2011, na Argentina, quando perdeu para o Uruguai, por 3-0. Aquela foi a famosa Copa América onde o Paraguai derrubou o Brasil nos quartos de final, com a seleção canarinha a perder quatro penáltis e o Paraguai avançar com apenas dois acertos na marca da cal.
Em 2015, na última vez que foi a uma meia-final de Copa América, o Paraguai voltou a apanhar o Brasil nos quartos, eliminando o conjunto canarinho novamente nos penáltis após um 1-1 persistente em Concepción, no Chile. A seleção da casa seria campeã daquele certame.
Desta vez, o encontro entre Brasil e Paraguai está marcado para o dia 28 de junho, no Allegiant Stadium, em Las Vegas, pela segunda jornada do Grupo D.
Copa América pode trazer visibilidade para a MLS
Carlos Coronel é um dos grandes guarda-redes da MLS. Figura carimbada do New York Red Bulls, a sua presença é essencial para a equipa, que se classificou 24 vezes para os playoffs, o maior número de aparições na pós-temporada da história da liga.
Apesar do futebol não ser o desporto número 1 nos Estados Unidos, o guarda-redes brasileiro-paraguaio acredita que competições como a Copa América e também o Mundial-2026 podem trazer a visibilidade necessária para o desenvolvimento da liga. Ele também cita a presença de grandes jogadores no torneio, uma lista que tem Lionel Messi, no Inter Miami, como principal figura.
"Eu tenho quatro anos na MLS, então creio que tenho bastante autoridade para falar que a liga melhorou muito. Acredito que em questão de nível, nós estamos a melhorar a cada ano. A chegada de grandes jogadores, principalmente na temporada passada, mostra o interesse de muitos atletas na MLS. Acho que isso contribui muito para a Liga. Sabemos que o futebol não é o desporto número 1 no país, mas agora, com a Copa América, vamos ter o Mundial também, isso talvez possa trazer o público um pouco mais para esse esporte. Vejo de uma maneira muito positiva o crescimento do futebol e da Liga também nos Estados Unidos e em todo mundo", salienta o atleta.
"A MLS é subestimada em vários países, não só no Brasil, no Paraguai, na Europa. Eles não conseguem perceber o nível na MLS, mas eu acho que com a chegada de grandes jogadores, da forma como estamos a jogar e tudo o que nós temos feito, especialmente falo do Messi, que abriu as portas para todos olharem para a liga, isso mostra também o nosso nível", acrescenta Carlos Coronel.
O futuro de Carlos Coronel
Com um longo contrato dentro do projeto da Red Bull, iniciado ainda nas categorias de base do Red Bull Brasil, Coronel também falou sobre o seu momento dentro da franquia de Nova Iorque e o futuro da carreira. Ele possui mais um ano de contrato com o clube da MLS, mas existe a opção de renovação por parte dos dirigentes.
"Sobre a minha importância no clube, tenho quatro anos, tenho feito um bom trabalho. Começamos a temporada muito bem este ano, acho que tenho contribuído bastante também. Não só nos jogos, mas no dia a dia também, que é o mais importante. Estou sempre à procura de ajudar a equipa, que é jovem, e quero tirar o melhor possível dos meus companheiros", destacou o arqueiro.
"Apareceram algumas possibilidades numa janela ou outra, mas nada concreto, nada que fosse interessante para mim e para o clube. Acho que pelo meu tempo aqui, pela gratidão que eu tenho com o clube também, se for acontecer qualquer tipo de transferência, tem que ser bom para mim e tem que ser bom para o clube também. Mas, até então, nada de concreto, até porque eu tinha um contrato muito longo com a Red Bull, agora estou no último ano, mas o clube ainda tem a opção (de renovação). É ver o que vai acontecer, mas a verdade é que estou muito feliz aqui, tenho me dedicado, minha família gosta de Nova Iorque. O meu foco é total aqui porque acho que tem grandes coisas por vir", finalizou Carlos Coronel.