Inter Miami: equipa de Messi é sensação nos EUA, mas desconhecida entre os fãs
Messi não esteve em campo. Lesionado, o jogador ainda recuperava de um problema muscular, mas isso não afastou o público, que se dirigiu ao estádio para enfrentar um tempo hostil, com uma chuva persistente durante quase todo o dia, para ver outras estrelas do futebol mundial como Jordi Alba, Busquets e Suárez.
O trio ex-Barcelona não conseguiu impedir que a sua equipa sucumbisse diante de um organizado New York Red Bulls, comandado pelo alemão Sandro Schwarz, ex-Mainz, Dinamo Moscovo e Hertha Berlin. Os nova-iorquinos golearam a equipa da Flórida por 0-4.
Mas o que importa essa derrota? Basicamente nada para os adeptos da equipa de David Beckham.
O Inter Miami é um sucesso. Don Garber, comissário da MLS, disse ao The Athletic recentemente que a Adidas anunciará em breve que a camisola de Lionel Messi é o produto mais vendido da empresa em todos os desportos.
Em setembro do ano passado, a camisola do astro argentino tornou-se a mais vendida da MLS. E Messi, diga-se de passagem, estava há apenas três meses na liga.
Um mês depois, o The New York Times informou que a Adidas recebeu quase 500 mil pedidos de lojas e fornecedores pela camisola de Messi no Inter Miami nos primeiros dias após o bombástico anúncio da sua transferência para o futebol norte-americano.
A marca Messi é um importante e valioso bem que a MLS tem tentado explorar para ampliar a sua popularidade no competitivo mercado futebolístico mundial. Mas, a bem da verdade, o que se constata numa rápida conversa com adeptos é que pouca coisa se sabe, de facto, sobre a equipa da Flórida além de ser, obviamente, a equipa de Messi.
Quem?
Drake Callender, guarda-redes do Inter Miami, por exemplo, tem vindo a ser chamado para defender a seleção norte-americana e é o titular da equipa. Mas quem é mesmo Drake Callender?
"Sinceramente, eu não faço a mínima ideia", declarou Bryan Lewis, que colocou a sua camisola rosa com o número 10 de Messi nas costas e partiu para a Red Bull Arena para ver a equipa do seu ídolo em ação, em entrevista ao Flashscore no intervalo da partida contra os Red Bulls.
Alguma ideia de quem já usou a camisola 10 do Inter Miami antes de Messi? "Também não sei", respondeu Bryan, que não sabia, como era esperado, que Higuaín havia passado pela equipa e utilizou o número 10 na última temporada.
No fim, o jovem adepto acertou sobre Beckham como um dos donos da equipa e admitiu que era apenas um fã de Messi. Compreensível.
As mesmas perguntas foram replicadas para outros adeptos presentes na Red Bull Arena naquele sábado e o resultado foi o mesmo. Alternando entre um e outro acerto pontual. A equipa de futebol mais conhecida dos Estados Unidos é, também, um desconhecido para muitos.
Uma equipa com privilégios
A transição de David Beckham para a gestão de uma equipa de futebol já era algo programado. Afinal de contas, foi-lhe dada a opção de comprar uma equipa da MLS por US$ 25 milhões (23 milhões de euros) no momento da sua transferência para os LA Galaxy, em 2007.
A chegada do britânico, que, na altura, deixou o Real Madrid, fez com que todas as equipas da MLS pudessem ter o direito de registar três jogadores "designados", ou seja, cujo salário excedia o teto estabelecido pela liga norte-americana. O princípio mantém-se até hoje.
Beckham, quando se retirou, passou a procurar oportunidades de expandir os seus negócios e aliou-se aos bilionários irmãos Jorge e Jose Mas, ambos de origem cubana, além de outros sócios, na aquisição do clube de futebol que lhe foi garantido.
O alvo de Beckham foi Miami, na Flórida, uma cidade multicultural, com uma comunidade latina e fanática por futebol. Em 2018, nascia o Club Internacional de Fútbol Miami. Os herons, como são apelidados, fizeram a estreia na MLS, dentro do projeto de expansão da liga, no dia 1 março de 2020, com uma derrota frente aos Los Angeles FC por 1-0.
Com a presença do inglês e os biliões dos seus sócios, o Inter Miami descolou, recebendo apoio imediato das autoridades de Miami, que concordaram com um arrendamento de 99 anos para revitalizar um campo que pertencia à cidade e transformá-lo numa propriedade privada onde seria erguido um estádio de futebol, escritórios, um parque público e espaços comerciais.
No espaço estará o Miami Freedom Park, o futuro estádio da equipa, que conta com investimento direto da Ares Management, que já injetou, desde 2021, mais de 210 milhões de euros no Inter Miami. A expectativa é que o estádio próprio do clube, que atualmente joga no Chase Stadium, em Fort Lauderdale, seja inaugurado em 2025 e tenha capacidade para 25 mil pessoas.
Desequilíbrio na balança
Antes da chegada de Messi, que conduziu o Inter Miami ao primeiro título da sua história, a conquista da Leagues Cup no ano passado, a equipa da Flórida era, de facto, um amontoado de jogadores. Em 2020, na sua temporada de estreia, o clube iniciou com cinco derrotas em cinco jogos e Beckham teve de reforçar o plantel.
Antes mesmo do fenómento Messi, o Inter Miami contou com o francês Blaise Matuidi, campeão mundial com a França em 2018, e o avançado argentino Gonzalo Higuaín, como recorda o jornalista Gustavo Guimarães, do Território MLS, site especializado na cobertura do futebol norte-americano.
"O Inter Miami já nasceu a contratar dois jogadores de renome mundial, só que isso aconteceu na época da pandemia, que foi a primeira temporada deles, em 2020. Eles contrataram o Gonzalo Higuaín e o Matuidi. Mas o problema do Inter Miami é que eles sempre se focaram em grandes estrelas do futebol mundial, mas a equipa é extremamente desequilibrada. Sempre foi assim", analisou Gustavo Guimarães.
Essa corrida por reforços de impacto imediato gerou problemas para o Inter Miami. A equipa foi punida após uma investigação da MLS concluir em 2021 que houve violação das diretrizes orçamentárias em pelo menos cinco acordos referentes aos contratos dos jogadores Blaise Matuidi, Andres Reyes, González Pirez, Nico Figal e Julian Carranza. A franquia foi punida com uma multa de dois milhões de euros (1.8 milhões de euros) e perdeu 2.14 milhões de euros em dinheiro de alocação.
Jorge Mas, sócio de Beckham, também foi multado em 233 mil euros pela assinatura dos contratos irregulares, enquanto o inglês foi poupado, já que nenhum indício apontava para a sua participação nos acordos.
Neste cenário turbulento e que contrasta com o frissom atual, a equipa da Flórida conseguiu apenas uma qualificação para os playoffs da MLS. E, antes de Messi, nunca havia vencido uma partida por quatro golos ou mais.
Nesse período de vacas magras, Beckham e companhia tiveram dificuldades para encontrar um treinador. O primeiro foi o uruguaio Diego Alonso. Depois vieram Phil Neville, o interino Javier Morales, que permaneceu no comando por apenas 26 dias e é atualmente auxiliar da equipa, e o argentino Tata Martino.
"Eles já estão no quarto treinador da história em quatro anos, ou seja, não é uma equipa que dá continuidade em trabalhos, além de sido gozada pelo que fez durante a pré-temporada, sendo goleado, por exemplo, pelo Al-Nassr, de Cristiano Ronaldo, por 6 -0", salienta Gustavo Guimarães.
Com a experiência de Tata Martino, que levou o Atlanta United à conquista da MLS em 2018, o objetivo do Inter Miami nesta temporada é óbvio: estar nos play-offs da MLS, procurando o título da competição, e avançar o máximo que possível nos restantes torneios, especialmente os continentais. A conquista da Liga dos Campeões da CONCACAF poderá colocar Messi e companhia no Mundial de Clubes.
Em 2023, nem mesmo a presença do camisola 10 conseguiu salvar o Inter Miami da vergonha de nem sequer conseguir o apuramento para os play-off da MLS. Antes de Messi e as chegadas de Busquets e Alba, a equipa registou incríveis 11 jogos sem vencer na MLS, o que comprometeu completamente a temporada.
Além de Messi, Busquets, Alba e Suárez, que equipa é esta?
Apesar do veterano quarteto ex-Barcelona, o Inter Miami é uma equipa com uma média de idade baixa - 24.5 anos. Muitos dos investimentos recentes da equipa concentram-se em jovens valores do mercado sul-americano, além de jovens formados no clube. O Flashscore apresenta alguns dos jogadores do plantel à disposição de Tata Martino.
Drake Callender
Guarda-redes, de 26 anos, está na equipa desde dezembro de 2019. A sua estreia na equipa principal ocorreu em 2022, atuando em 24 partidas naquela temporada. Chegou, inclusive, a ter o seu nome entre os finalistas ao prémio de guarda-redes do ano. Apesar de não ter jogado, integrou a convocatória dos Estados Unidos da América que venceu a Liga das Nações da CONCACAF recentemente.
David Ruiz
Formado no Inter Miami, o hondurenho David Ruiz, de apenas 20 anos, é uma das promessas da equipa comandada por Tata Martino. O técnico argentino tem vindo a utilizar o médio com certa frequência. Em 2024, já são sete partidas com uma assistência.
Franco Negri
Formado no Quilmes, o argentino Franco Negri, de 29 anos, é um dos homens de confiança de Tata Martino, podendo atuar como um lateral-esquerdo ou no meio-campo. Está no clube desde o ano passado e possui larga experiência no futebol argentino, onde defendeu, além do Quilmes, clubes como Newell's Old Boys e Godoy Cruz.
Tomás Avilés
Avilés chegou ao Inter Miami com apenas 19 anos de idade. Quando se fala do desequilíbrio do plantel, muito deste desnivelamento também se dá pela aposta da equipa em jovens jogadores que carecem de experiência. Como foi o caso deste defesa argentino, contratado ao Racing. Disputou o último Mundial Sub-20 pela seleção argentina e estava na primeira temporada como profissional no Racing, onde fez 20 partidas pelo clube - quatro delas na Libertadores - antes de rumar ao Inter Miami.
Diego Gómez
O médio paraguaio Diego Gómez, de 21 anos, chegou ao clube no ano passado. Formado pelo Libertad, jogava com relativa regularidade na equipa principal da equipa paraguaia e disputou 51 partidas como capitão da seleção sub-20 do Paraguai e quatro pela seleção principal antes de se transferir para o Inter Miami.
Julian Gressel
Aos 30 anos, o médio é um dos jogadores mais veteranos do plantel do Inter Miami e possui ampla experiência na MLS. Desde 2017 na Liga, acumulando passagens no Atlanta United, DC United, Vancouver Whitecaps e, mais recentemente, no Columbus Crew, é bicampeão, tendo faturado um título sob a batuta de Tata Martino em Atlanta. Na última temporada, sagrou-se campeão novamente com o Columbus Crew.
Leonardo Campaña
O avançado, de 23 anos, foi lançado pelo Barcelona de Guayaquil, do Equador. Antes de chegar ao Inter Miami, rodou em clubes como o Famalicão. Em 2022, no seu primeiro ano na equipa norte-americana, marcou 11 golos em 26 partidas. Na temporada passada foram nove tentos em 26 jogos.
Pelo seu porte e explosão, tem sido convocado pela seleção equatoriana e também se destaca por outro detalhe. É sobrinho do presidente equatoriano Daniel Noboa e a sua família possui uma fortuna estimada em mais de mil milhões de euros. Ou seja, nem precisaria do futebol para viver.
Mas Leonardo sempre foi muito fã de desportos, influência também do seu pai, Pablo Campaña, ex-tenista e político no Equador.
Leo Afonso
O atacante brasileiro, de 22 anos, assinou recentemente o seu primeiro contrato e marcou o seu primeiro golo como profissional no empate do Inter Miami com os Colorado Rapids por 2-2, na última jornada da MLS.
Afonso foi formado no Inter Miami e brilhou no futebol universitário norte-americano, defendendo a Universidade da Virgínia. Ao todo, fez 59 partidas na carreira universitária, com 22 golos e oito assistências.
Benjamin Cremaschi
A grande jóia do Inter Miami é Cremaschi, um médio ofensivo formado no clube. Cremaschi ganhou destaque com a chegada de Messi no ano passado. Fez algumas boas apresentações durante a campanha do título da Leagues Cup, e tem sido constantamente convocado para as seleções jovens dos Estados Unidos. Aos 19 anos e com dupla nacionalidade, argentina e norte-americana, é, sem dúvida alguma, o jogador mais valioso no que toca a possíveis vendas.
Federico Redondo
Como ficou notório, o Inter Miami é composto por muitos argentinos. Recentemente, o clube anunciou a chegada de mais um. Federico Redondo, de 21 anos, assinou com o clube até 2027, com opção de renovação por mais um ano. Foi um dos principais jogadores do Argentinos Juniors durante a última Libertadores. Em comunicado, o Inter Miami apontou que a chegada de Redondo seria, inicialmente, para a equipa sub-22, mas o médio já foi utilizado pela equipa principal.
Robert Taylor
O avançado finlandês Robert Taylor, de 29 anos, é o jogador com mais jogos pelo Inter Miami, com 86 partidas. Está na equipa desde 2022 e acumula experiência internacional com as convocatórias recorrentes para a seleção do seu país. Na temporada passada, marcou quatro golos e fez seis assistências em 27 partidas. Atualmente encontra-se lesionado.