Kiko Navarro, ex-treinador de Alcaraz: "Paris era o nosso sonho"
Navarro, de 38 anos, ainda dá aulas de ténis no clube de El Palmar, em Múrcia, no sudeste de Espanha, onde o fenómeno de 20 anos nasceu e cresceu.
Navarro esteve com o seu antigo aluno no ginásio antes de este voar para Roland Garros, onde joga na "super meia-final" de sexta-feira contra Novak Djokovic.
"Vou vê-lo aqui em casa", diz à AFP por telefone. "A não ser que amanhã vá lá de improviso...", acrescenta com sentido de aventura.
Navarro vê o seu pupilo a conquistar o título em Paris no domingo: "Fiz uma aposta com o pai dele em como ele ganharia Barcelona, Madrid e Roland Garros, já ganhei dois em três. Vai ganhar ao Djokovic, a não ser que aconteça alguma coisa estranha, mas ele está muito bem fisicamente, por isso não me parece que se vá lesionar".
- Como jogava em criança?
- "Se vires um vídeo dele em criança, verás que ele joga como agora. Foi um prodígio técnico, nesse sentido a sua evolução não foi espectacular.... O forehand, o drop shot e o vólei são inatos, os drop shots que ele também jogava quando era miúdo. Melhorou o seu serviço e o seu backhand era um pouco difícil para ele. De vez em quando, embora só por alguns dias, pensámos em mudá-lo para uma só mão... A sua evolução foi física: receávamos que fosse pequeno, mas tem uma boa altura e é uma fera".
- Já partiu algumas raquetes?
- "Aos 10 anos, era um miúdo muito inocente, próximo, sem maldade dentro ou fora do campo, muito alegre. Mas não gostava nada de perder, era muito competitivo. Comigo partia muitas raquetes, saía do campo a chorar e eu tinha de o deixar relaxar antes de conversar com ele. Era muito mau a perder, também queria ganhar no padel, no jogo da velha e nas cartas. Mas para ser o número um é preciso ser assim".
Adolescência e sucesso
"O segredo foi que, quando tinha 13 ou 14 anos, percebeu que isto era muito sério. Tinha um jogo alegre e vistoso, onde quer que fôssemos, éramos o centro das atenções, tanto em Espanha como na Europa. Ele já era muito conhecido, estava a bater os recordes do Rafa Nadal... Por isso, tivemos de trabalhar muito a cabeça, a motivação e a humildade.
Eu sabia que, pela sua maneira de ser e pelo seu ténis, ele ia chegar às pessoas, ainda mais do que o Rafa, que é mais sério. O Carlitos transmite mais alegria. Nas muitas horas que passámos no carro ou no avião, dei-lhe sempre conselhos para manter os pés no chão. E sinto-me muito orgulhoso dele. Ele sabe de onde vem, as suas origens e quem é o seu povo. Não é fácil tornar-se uma estrela mundial tão rapidamente".