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Ainda se lembra do pontapé e kung-fu de Cantona? A época 94/95 da Premier League deu um livro

Caos, controvérsia e aquele pontapé de kung-fu
Caos, controvérsia e aquele pontapé de kung-fuPitch Publishing
Quando Eric Cantona bateu com o pé no peito de um adepto, nas bancadas de Selhurst Park, a história ficou imediatamente escrita.

Embora tenha sido um momento incrível, está longe de ter sido a única coisa invulgar a acontecer durante a época de 94/95, em que o lendário George Graham foi expulso do Arsenal. Houve despedimentos sem fim, o estilo de jogo insanamente ofensivo de Ossie Ardiles no Tottenham, liderado pelas madeixas esvoaçantes de Jurgen Klinsmann, e houve futebol durante dias a fio.

No meio de tudo isto, o Blackburn conquistou o seu primeiro e único título da Premier League, afastando a concorrência do Manchester United de Alex Ferguson.

Não é de admirar, portanto, que alguém tenha pensado em escrever um livro sobre essa temporada lendária. Esse alguém é Rob Fletcher, que admite prontamente que o projeto quase ficou fora de controlo.

"Comecei por pensar que o livro teria cerca de 55 a 60 mil palavras. Acabou por ter mais de 80.000 porque havia muito para escrever à medida que o ia escrevendo. E provavelmente poderia ter sido ainda maior do que foi", ri-se a partir da sua casa adotiva, na zona de Liverpool. O livro, lançado agora pela Pitch Publishing, chama-se "Chaos, Controversy and THAT Kung-Fu Kick" (Caos, Controvérsia e Aquele Pontapé de Kung-Fu), e dos dois últimos não há dúvidas. Mas onde entra o caos?

"O futebol inglês, tanto a antiga Primeira Divisão como a Premier League, como se tornou, sempre pareceu um pouco primitivo de certa forma. Essa época começou a ser um caos em termos de transferências, gastava-se dinheiro, as equipas mudavam a sua forma de jogar. O mês de novembro, por exemplo, foi absolutamente caótico, com os treinadores a serem despedidos a torto e a direito. De dia para dia, era despedido outro treinador. Outro foi contratado. Outro treinador perdeu o emprego e apareceu noutro clube", explica o autor.

"Muito do que aconteceu foi realmente caótico e quase desorganizado. Atualmente, a Premier League é conhecida como um produto muito corporativo que é partilhado por todo o mundo para que todos vejam. Mas, na época de 94/95, havia tanta coisa a acontecer que não parecia corresponder à forma como a liga se queria ver a si própria", acrescenta.

Caos, controvérsia e aquele pontapé de kung-fu
Caos, controvérsia e aquele pontapé de kung-fuPitch Publishing

Prime Shearer e King Eric

Não prejudica a história da época de 94/95 o facto de não ter sido ganha por um dos "suspeitos do costume". A equipa do Blackburn, liderada pelo primeiro Alan Shearer, conseguiu sagrar-se campeã pela terceira vez na sua história.

"O Blackburn tinha uma equipa muito boa. É óbvio que gastaram muito dinheiro para chegar a esse ponto, o que acontece com todas as equipas. Há sempre um mito em torno das equipas que são criadas do nada e que ninguém gasta dinheiro. Na realidade, isso não acontece. O Blackburn precisou de gastar jogadores para melhorar", explica.

"Fizeram-no com Chris Sutton, que lhes custou 5 milhões de libras. E acho ótimo que o próprio Manchester United também tenha mudado bastante depois desta época. Especialmente depois de 1993/94, parecia que o United ia dominar e dominou durante muito tempo após essa época. Esta equipa do Manchester United era tão boa, mas mesmo trazendo Andy Cole do Newcastle, que tinha marcado imensos golos nas duas épocas anteriores, não conseguiu ultrapassá-la por causa do que aconteceu a Cantona. O Blackburn teve de jogar muito bem para conquistar o título", prossegue.

Por falar em Cantona, aquele pontapé de kung-fu continua a ser um momento de cair o queixo.

"Acho que o incidente com Cantona é uma daquelas coisas em que o futebol começou a ser notícia de primeira página e também de última página. Esta época foi praticamente notícia de primeira página durante todo o tempo. Mas o incidente com Cantona manteve-o na primeira página. Devia ser banido para o resto da vida e nunca mais ser autorizado a entrar em campo, e assim por diante. Depois, começaram a ser divulgadas informações sobre a vítima, Matthew Simmons, e ele e Cantona estavam a disputar as primeiras páginas dos jornais", explica.

Se não fosse por Cantona, o caso mais polémico da época poderia facilmente ter sido a expulsão de George Graham de Highbury. O homem que transformou o Arsenal num clube que conquistou um título tinha levado uma pancada e deixou o Arsenal com pouca escolha, a não ser mostrar-lhe a porta. Não terá sido o único treinador a fazer o mesmo?

"Não, e penso que o que resultou da investigação a George Graham foi que havia provavelmente muitas outras pessoas a fazer coisas muito semelhantes. Falou-se de dirigentes que se encontravam com agentes em parques de estacionamento, em estações de serviço, em auto-estradas, levando envelopes castanhos com dinheiro. Penso que alguns dos treinadores já se tinham reformado, pelo que a liga não deu seguimento a alguns desses casos. Brian Clough, obviamente, foi um dos mais famosos que foi investigado posteriormente. Para George Graham, foi o fim da era que ele teve no Arsenal. Foi ele que foi chamado à atenção para o facto de que 'temos de mostrar que isto vai acabar. Estamos a ser duros com isto. Não aceitamos mais isto'", lembra.

Ataque total em White Hart Lane

Por incrível que pareça, George Graham foi o único treinador a ser expulso por ter recebido uma pancada nas costas, o que também intriga Rob Fletcher.

"O facto de, passado um ano, voltar à Premier League e treinar o Leeds e depois o Tottenham mostra-me que o mundo do futebol o aceitou de novo, porque já toda a gente o fazia. Se fosse muito, muito mau, nunca mais o teríamos de volta, seria banido para sempre ou um presidente não o nomearia treinador. Mas acho que as pessoas se aperceberam de que ele já tinha tomado uma atitude", afirma.

De um ponto de vista mais positivo, uma coisa que muita gente recorda dessa época é o futebol muitas vezes arrebatador praticado pelo Tottenham, liderado pela dupla letal Jürgen Klinsmann e Teddy Sheringham. Na realidade, os Spurs não se saíram muito bem naquele ano.

"Eles eram muito promissores. No papel, pensámos, uau, trazer Klinsmann, Popescu e Dimitrescu e eles já tinham Teddy Sheringham, Darren Anderton, Nick Barmby. Pensamos que estamos entre os três primeiros, talvez até entre os dois. Mas Ardiles decidiu que cinco avançados em campo ao mesmo tempo, constantemente a atacar, seria uma boa ideia. Talvez fosse para as pessoas que pagavam para ver os jogos no estádio, mas para os torcedores do Spurs provavelmente não era tanto assim", diz Rob Fletcher, com um sorriso.

O Tottenham terminou em 7.º lugar, 10 pontos atrás do Newcastle, em 6.º, e Klinsmann ganhou o título de Jogador do Ano da FWA, marcando 20 golos contra 18 de Sheringham. Klinsmann nunca mais foi visto na Premier League, e o Tottenham teve de esperar até 2015 para entrar no top 3.