Começa a Premier League 2023/24: História para o City ou ressurgimentos em vermelho?

É certo que tivemos um divertidíssimo Campeonato do Mundo feminino e mais uma janela de transferências frenética para nos ajudar a coçar a comichão deixada pelo futebol durante os meses de verão, mas não há nada como um novo amanhecer da Premier League para aumentar o entusiasmo, fazer com que os debates acalorados fluam mais do que a cerveja no bar e dar-nos algo para fazer no fim de semana.

A jornada de abertura deste fim de semana tem muitos pontos de discussão - alguns ainda sem resposta no momento de escrita - com o Manchester City a receber o Burnley na noite desta sexta-feira e alguns embates intrigantes a acontecer logo na abertura de portas.

Vamos então diretamente aos principais pontos de discussão, a algumas previsões e a algumas opiniões honestas sobre a próxima época da Premier League.

O City quer fazer história

Não é nenhuma surpresa que o Manchester City seja o favorito das casas de apostas para conquistar o título da Premier League novamente este ano. Os conquistadores do histórico triplete do ano passado querem ganhar o quarto título consecutivo e são, mais uma vez, a equipa a bater.

Isto apesar de a equipa de Pep Guardiola ter permanecido relativamente tranquila na janela de transferências deste verão. Apenas Mateo Kovacic e Josko Gvardiol chegaram, mas os dois croatas são contratações astutas e fortes, que acrescentam força a um clube já formidável.

Guardiola ainda não cometeu um erro disparatado no que toca a contratações durante a sua era no Etihad, embora se possa considerar que ter perdido Declan Rice para o Arsenal é um golpe não muito duro.

Estáo a entrar em território desconhecido e não pode ser colocada de lado a hipótese de varrer as competições domésticas. Guardiola foi inteligente ao travar Erling Haaland durante alguns jogos da temporada passada, deixando-o com fome para repetir as façanhas e deixar alguns recordes para o monstro norueguês bater esta época.

Será que o viking de Yorkshire vai conseguir alcançar o recorde de Dixie Dean de 1927/28 e 60 golos numa só época?

Nova luta para o Arsenal

O Arsenal foi sensacional na temporada passada, passando 248 dias no topo da tabela e só perdeu o título no final devido a uma ligeira falta de profundidade do plantel, algumas lesões infelizes e um City feroz.

No entanto, os Gunners estavam a jogar sem grande pressão ou expetativa nessa temporada, enquanto agora estão sentados num barco muito diferente, com todos os olhos postos neles.

Esta época, os Gunners vão ter de disputar a Liga dos Campeões e começam a questionar se fizeram o suficiente no mercado para construir uma equipa capaz de derrubar o domínio doméstico do City.

A chegada de Declan Rice, no valor de por 120 milhões de euros, é, sem dúvida, uma grande contratação e mostra que o clube não está para brincadeiras, além de ter reforçado a posição de guarda-redes e o meio-campo ofensivo.

Mas, até agora, ainda não conseguiram dar um apoio sólido a Gabriel Jesus, que fez muita falta durante grande parte da época passada devido a lesão, e que deve falhar os primeiros jogos desta campanha.

Esta é uma época em que Mikel Arteta tem de dar continuidade à anterior, se quiser que o clube seja considerado mais do que uma maravilha fugaz. Os elementos essenciais estão lá, tal como parece estar a crença, e com um pouco de sorte, estarão preparados para lutar com a turma de Guardiola até ao fim.

Mas também há uma grande hipótese de que um mau começo possa deixá-los fora do ritmo muito cedo nesta temporada, e sem o elemento de surpresa com o qual começaram no ano passado, um final entre os quatro primeiros pode ter que ser suficiente.

O regresso dos reds?

O Liverpool foi surpreendentemente terrível na última temporada e está desesperado para voltar ao caminho certo este ano. A perda de Sadio Mané parece ter prejudicado a equipa, enquanto contratações importantes como Darwin Nuñez e Cody Gakpo demoraram a adaptar-se e não conseguiram dar conta do recado.

No entanto, a equipa tem estado bem na pré-época, e Klopp tomou algumas decisões acertadas no mercado em termos de reconstrução de um meio-campo que simplesmente desmoronou no início do ano passado.

Alexis Mac Allister provou ser um médio de alto nível e está, sem dúvida, pronto para subir de patamar no clube, enquanto a possível chegada de Moises Caicedo do Brighton, restaurar um pouco da solidez no miolo que desapareceu com Fabinho.

Se Trent Alexander-Arnold conseguir fixar um papel no meio-campo, devido às recentes exibições, o Liverpool pode estar de volta ao seu melhor nível competitivo, com um plantel jovem e equilibrado. O Liverpool pode ser considerado um dos favoritos para derrubar o City.

Enquanto isso, o Manchester United está a preparar-se para uma verdadeira batalha e pode muito bem ser uma força a ter em conta. As contratações substanciais em praticamente todas as posições colocam Erik ten Hag numa posição formidável no início da temporada.

Os detratores de David de Gea foram silenciados, já que a chegada de André Onana devolveu um pouco de confiança - pelo menos por enquanto - ao homem entre os ferros, enquanto a iminente saída de Harry Maguire parece ser um alívio para os adeptos dos Red Devils.

Mason Mount chega com muito para provar depois de uma temporada desanimadora no Chelsea, enquanto Rasmus Hojlund, apesar de ser um talento em estado bruto, é uma opção interessante para substituir Marcus Rashford, que parece estar a melhorar cada vez mais com a importância que lhe é dada.

Depois da época positiva no ano passado, os adeptos do United têm motivos de sobra para estarem optimistas e estão tranquilamente confiantes de que podem aproximar-se muito mais dos rivais da cidade esta época.

Vida depois de Kane

Depois de um verão de "será que vai, será que não vai?" no norte de Londres, parece que (no momento de escrita) a permanência de Harry Kane no Tottenham chegou ao fim.

E não podia chegar em pior altura para o clube, que está novamente em estado de transição com o novo treinador, Ange Postecoglou, obrigado a fazer uma reforma no plantel. Sem os golos de Kane na época passada, quem sabe onde o Tottenham poderia ter acabado.

O recém-coroado recordista de golos fez 30 remates certeiros muito importantes, tendo em conta que os Spurs acabaram no 8.º e ficaram fora do futebol europeu. Mas pode a saída ser um bênção disfarçada, tendo em conta que a equipa vai começar a assumir um estilo Angeball rápido e intenso?

Teoricamente, os Spurs gastaram bem na última temporada, mas muitos dos seus jogadores  não se conseguiram afirmar sob o comando de Antonio Conte, para desgosto do italiano.

Há espaço para melhorias em todos os setores: Richarlison parece ser o tipo de jogador que pode sair da sombra de Kane e marcar os golos que se esperam do avançado titular do Brasil, enquanto Heung-min Son deu sempre conta do recado na ausência de Kane e sente que tem algo a provar depois de uma longa fase inconsistente na última temporada.

Yves Bissouma é outro a ter em conta no meio-campo, cuja época anterior foi reduzida por inúmeras lesões, enquanto os reforços na defesa e um novo guarda-redes poderão proporcionar uma espinha dorsal mais sólida para os talentosos avançados da equipa.

A chegada de James Maddison, vindo do Leicester, também pode ser uma contratação importante que passou um pouco despercebida.

Qualquer coisa será melhor do que a época passada, mas o presidente Daniel Levy não ficará satisfeito por ter perdido o impulso financeiro das competições europeias duas épocas consecutivas. Por isso, tudo o que não seja um lugar entre os seis ou sete primeiros será considerado um desastre e o ciclo pode recomeçar.

Mudança de ares no Chelsea

Não é segredo para ninguém que o Chelsea foi uma abominação na última temporada. Enormes gastos com transferências, três treinadores e apenas 38 golos marcados no campeonato - há muito a melhorar para os Blues nesta campanha.

No entanto, o clube fez uma grande reforma no plantel, cortando muitos pesos mortos e talentos envelhecidos da campanha anterior.

A hierarquia do clube substituiu essas estrelas por praticamente todos os jogadores de elevado potencial que se podem encontrar num jogo de Football Manager e, em seguida, contratou o melhor treinador possível para trabalhar com um grupo de miúdos: Mauricio Pochettino.

O que o argentino precisa agora é de tempo para implementar o seu estilo de futebol de ataque direto e de alta pressão, o que pode levar tempo, possivelmente até meia época ou mais.

Quem garante que, se no Natal o Chelsea ainda estiver a meio da tabela, a direção não voltará a carregar no botão de pânico e não dará início a mais um ano de miséria?

Esta é uma época importante para o clube da zona ocidental de Londres: é quase o "vai ou racha" em termos da sua posição no futebol inglês para os próximos anos. O clube está a fazer contratos muito, muito longos e bem elevados com estes jovens, e pode ficar numa situação muito complicada se não conseguir chegar a bom porto em breve.

De big six a big seven

Na época passada, o Newcastle surpreendeu toda a gente com a sua ascensão, antes do previsto, aos mais altos lugares da Premier League. Eddie Howe fez muito com pouco, utilizando praticamente o mesmo plantel que herdou paratrazer de volta o bom ambiente a Tyneside e transformar os Toon numa equipa a ser temida.

O fair play financeiro impede-os de se tornarem na besta em que, eventualmente, vão evoluir, mas o regresso à Liga dos Campeões e algumas contratações de renome, como Sandro Tonali e Harvey Barnes, devem permitir manter a dinâmica do ano passado.

O Newcastle pode não conseguir ficar entre os quatro primeiros outra vez - embora, sem dúvida, tem essa capacidade -, mas é possível que consiga uma boa participação na competição de elite da Europa. Um lugar entre os seis primeiros no campeonato é provável e será uma base suficiente para que o Newcastle comece a dar as cartas no futebol inglês no próximo verão.

Esperança para os recém-chegados?

Na temporada passada, as três equipas promovidas, Fulham, Bournemouth e Nottingham Forest, garantiram a manutenção.

O Nottingham Forest conseguiu-o por um triz, mas o Fulham, de Marco Silva, fez uma campanha positiva, na metade superior da tabela durante a maior parte da época, enquanto o Bournemouth encontrou a sua melhor forma sob o comando de Gary O'Neil.

A turma de Marco Silva parece, teoricamente, preparada para mais uma época tranquila a meio da tabela, apesar da possibilidade de perder o talismã Aleksandar Mitrovic antes do fim do mercado. Já os Cherries e o Forest antecipam dificuldades.

Especialmente tendo em consideração a qualidade que o Burnley e o Sheffield United trazem consigo da promoção, particularmente os Clarets de Vincent Kompany, que estão confiantes em repetir os exemplos de Fulham, Brighton e Brentford nas últimas temporadas, solidificando o estatuto no topo da pirâmide.

Depois há o Luton Town que é um enigma. Foi surpreendentemente promovido através dos play-offs, mas os favoritos a descer de divisão (pelas casas de apostas) têm o elemento surpresa e o facto de não terem nada a perder.

Não é inédito que as equipas mais pequenas da Liga tenham uma primeira época sólida na Premier - basta pensar no que Bradford, Hull, Huddersfield e até Wigan conseguiram no passado. Pode correr de qualquer forma, mas se tiveram uma boa folga em dezembro, podem conseguir manter-se à tona.

Os adeptos de Everton, Wolves e, possivelmente, até mesmo West Ham, campeão da Liga Conferência do ano passado, devem estar preocupados.

Sean Dyche admitiu abertamente que os Toffees "falharam os alvos principais", enquanto o Wolves acabou de perder o salvador da temporada passada, Julen Lopetegui, que terá deixado o clube por causa da péssima política de transferências.

Os Hammers também perderam o seu melhor jogador para o Arsenal e estão a deixar para trás a possibilidade de trazer caras novas. Os londrinos podem muito facilmente encontrar-se numa situação semelhante à da época passada: a lutar pela salvação ao mesmo tempo que disputam jogos europeus. 

Supremacia no meio da tabela

Fora dos lugares principais, a segunda mini tabela da Premier parece estar completamente em aberto. O Aston Villa quer continuar o mesmo caminho depois da excelente temporada passada, sob o comando de Unai Emery, e está a mostrar todas as qualidades de um clube em ascensão.

Conseguiu manter os seus melhores jogadores, como Emiliano Martinez, Jacob Ramsey e Ollie Watkins, e ainda acrescentou mais profundidade com soluções como Pau Torres e Moussa Diaby.

Os Villans serão uma equipa a ter em conta este ano - tanto a nível interno como no regresso à Europa - e não devemos descartar a possibilidade de serem os únicos a perturbar o status quo na parte superior da tabela.

Os Spurs podem ser arrastados para meio da tabela à medida que se adaptam à vida sem Kane, e talvez acabem por meter as fichas todas na Taça de Inglaterra ou na Taça da Liga se chegarem às fases mais adiantadas. Ganhar um troféu logo após a saída de Kane pode ser um bom tónico para os adeptos.

Para além do Fulham, que pode estar por perto lá, há o Brighton, o Brentford e o Crystal Palace, que procuram capitalizar o vazio deixado pelo despromovido Leicester.

Os três clubes estão em boa forma - o Palace embarca para o 10.º ano consecutivo na Premier League e conta com uma série de jovens talentos no ataque.

Os adversários estão mais cientes da ameaça apresentada pelo Brighton esta época e os Seagulls merecem um maior respeito - é difícil conteste o trabalho que Roberto De Zerbi e os proprietários fizeram na costa sul. Ninguém discute a política de transferências do clube, mesmo que não atinja o mesmo nível do ano passado.

O mesmo pode ser dito do Brentford, que teve uma temporada um pouco mais fraca, mas sem dúvida fará mais uma campanha sólida, com o objetivo de chegar à metade de cima da tabela. A única coisa relevante é que cada uma das equipas perdeu figuras importantes da época passada.

O Palace não pode contar com Wilfried Zaha, o Brighton não terá Mac Alliser e o Brentford não conta com o castigado Ivan Toney. Será interessante ver o impacto que isto terá em cada um deles - especialmente nas fases iniciais - mas cada clube deve sentir-se confiante para o primeiro jogo.