Dean Saunders lembra Paul McGrath: "Ele não treinava e nós aceitávamos porque era muito bom"
"Eu estava no duche ao lado dele e disse-lhe: 'O que achaste de jogar contra o Alan Shearer?' e o Paul respondeu: 'Nunca joguei contra o Alan Shearer'. Eu digo: 'Ele era o número nove deles esta noite' e o Paul diz: 'Não me tinha apercebido que era o Shearer'. Ele não fazia ideia!", começa por dizer
Dean Saunders partilhou três épocas com Paul McGrath no Aston Villa e ainda se ri ao recordar o seu antigo colega de equipa. Como recentemente descrito no maravilhoso livro Nobody remembers Second, McGrath gozou de alguns privilégios extraordinários em Villa Park, que Saunders viu em primeira mão.
"Ele nunca treinava. Se treinava, o joelho inchava. Chegava, fazia uma sessão de bicicleta, só para ficar sem fôlego e mexer um pouco as pernas para as manter fortes. Se fizesse alguma torção no campo de treinos, o joelho inchava. Então, os treinadores diziam para ele não treinar, e todos nós aceitávamos que ele tinha regras diferentes, porque era um jogador muito bom", conta Saunders em entrevista exclusiva ao Tribalfootball.
Dean Saunders passou por 12 clubes durante a carreira, mas foi pelo Aston Villa que disputou o maior número de partidas. Embora não chegue ao ponto de dizer que foi a melhor época da sua carreira, é um período que recorda com muita alegria.
"Sei que parece piroso, gostei de jogar futebol em todo o lado, mas foi uma época brilhante no Aston Villa, sob o comando de Ron Atkinson. A minha função era marcar golos e tive uma boa parceria com o falecido e grande Dalian Atkinson, de quem todos sentimos falta. Penso nele o tempo todo", diz Saunders, comparando-o a um atacante atual da Premier League.
"A melhor maneira de o descrever é a seguinte: imaginem o Haaland a fazer um bom jogo, era assim que o Dalian jogava. Ele conseguia fazer uma exibição daquelas, mas não o conseguia fazer todas as semanas, porque havia semanas em que não lhe apetecia jogar futebol. Ron Atkinson adorava Dalian, mas quando ele não jogava bem, arrancava os cabelos. Ou melhor, arrancava a peruca", diz Saunders com um grande sorriso sobre o treinador que levou o Aston Villa ao segundo lugar na Premiership em 1993.
Essa foi a segunda vez que o Villa ficou em segundo lugar em quatro temporadas e o fez com uma equipe brilhante.
"Tínhamos Ray Houghton na direita, Dwight Yorke jogava na esquerda e tínhamos Kevin Richardson e Garry Parker no meio-campo. O Gary Parker costumava fazer-me aparecer de todo o lado. Ele era subestimado. Tínhamos o Andy Townsend, o Sean Teale, o Earl Barrett e o Steve Staunton na defesa esquerda. Todas as semanas, quando começávamos a jogar, tínhamos melhores jogadores em todos os adversários", diz Saunders, que gostava do futebol que o treinador Atkinson impunha à sua equipa.
Não me lembro de ele ter dito: "Dêem um passo atrás, rapazes, deixem-nos chegar ao meio-campo antes de começarmos a tentar fechá-los". Era sempre com o pé na frente. Não os deixem jogar fora, eles não vão jogar fora contra nós, os defesas não vão ter tempo para a bola. Por isso, fomos para cima das equipas".
Ainda não são candidatos ao título
Big Ron Atkinson era um personagem vistoso que também conseguiu alguns bons resultados durante sua longa carreira, mas não por causa de grandes análises táticas, de acordo com Saunders.
"Nunca tive um treinador que desse grandes orientações tácticas à nossa equipa. Na altura, eles não nos diziam grande coisa. Joguei com Ian Rush durante a maior parte da minha carreira no País de Gales e não falávamos sobre quantos golos íamos marcar, mas sim sobre quem era o pior jogador com bola para o nosso adversário na defesa. Se não perseguíssemos os laterais, o nosso treinador ficava louco. Fazia parte do trabalho de um avançado e resolvemos isso entre nós".
Depois de ter sido um dos candidatos ao título no Aston Villa, Dean Saunders consegue imaginar a atual equipa do Villa a cair para a Premier League em breve?
"Não, acho que eles ainda não estão prontos para ganhar o campeonato. Quando se analisa a equipa, para ganhar o campeonato é preciso começar a pensar: será que eles entram na equipa do Manchester City? Entrariam na equipa do Liverpool? Na equipa do Arsenal? Quando começamos a dizer 'sim' a seis ou sete jogadores, temos uma hipótese de ganhar o campeonato", afirma Saunders, sem deixar de elogiar Unai Emery: "Pensei que Steven Gerrard os levaria a um lugar diferente, mas foi Emery quem o fez. Ele tem um plano de jogo do qual Ollie Watkins está a beneficiar. Quando Gerrard era treinador, ele nunca sabia quando a bola estava a chegar. Agora sabe que estão todos à procura dele. O treinador está a fazer um trabalho brilhante com aquele grupo de jogadores, mas ganhar a liga, penso eu, pode ser um passo demasiado longe."