Exclusivo com Jimmy Burns: Porque é que a Premier League é a maior e a melhor do mundo
Por muito louco que pareça, isto não aconteceu na idade das trevas, mas sim nos primórdios da Premier League e é uma das muitas pepitas que se podem encontrar em "The Premier - Big Business and Great Football".
É o mais recente livro do jornalista, autor e OBE, Jimmy Burns. Um olhar divertido sobre o gigante em que se transformou a Premier League.
"É uma visão muito pessoal sobre a forma como vivi a Premier League ao longo dos anos e como a vejo atualmente, através de uma série de vinhetas quase coloridas. É uma tentativa de recordar às pessoas como era o futebol em Inglaterra antes da Premier League, como surgiu e as personagens coloridas que povoaram a história da Premier League", explica Jimmy Burns ao Tribalfootball.
Burns foi inicialmente abordado por uma editora espanhola devido ao imenso interesse pela Premier League, mesmo em Espanha.
"De facto, as audiências televisivas mostravam que havia mais pessoas a ver os jogos da Premier League do que os da LaLiga, o que é extraordinário, tendo em conta a história da grande rivalidade entre o Real Madrid e o Barça", explicou.
"A Premier League é um produto comercial bem pensado"
Nascido em Espanha e criado em Inglaterra, por uma mãe espanhola e um pai inglês, Jimmy Burns tem um pé em cada campo. E porque acha que a Premier League atingiu uma audiência tão global?
"Há mais do que um fator, mas o primeiro, que é uma resposta bastante cínica mas verdadeira, é que a Premier League foi, quase desde o seu início, um enorme projeto comercial. Foi muito bem pensada e, com a televisão por satélite, expandiu-se para um público global que chegou a lugares distantes como a Ásia e os Estados Unidos, que não levavam o futebol muito a sério", explica.
"Ao mesmo tempo, tentou manter a ideia de que a Inglaterra está no centro da história do futebol, com uma base histórica de adeptos que se mantiveram fiéis aos seus clubes em todos os momentos e que deram paixão a algo que, de outra forma, teria sido uma aposta comercial bastante fria e clínica", acrescenta.
"Outro fator é a decisão Bosman. A Premier League foi incrivelmente bem-sucedida em termos de atrair talentos estrangeiros, tanto a nível de jogadores como de dirigentes. Por último, e não menos importante, atraiu muito dinheiro de proprietários estrangeiros. Obviamente, esse dinheiro avultado colocou a Premier numa posição de vantagem competitiva em termos de compra de jogadores, construção de grandes estádios e alcance em todo o mundo. E o resultado é o que temos", diz Jimmy Burns, antes de apontar algumas histórias dos últimos anos que ajudaram a atrair uma enorme atenção para a Premier League.
"Tivemos a história de David contra Golias, quando o Leicester City venceu a Premier. Estes pequenos jogadores enfrentam os grandes e vencem. Depois, há o fenómeno da rivalidade entre Guardiola e Klopp, que foi como um mega circo global. Estes dois tipos quase se imitaram a si próprios em termos de desempenharem o seu papel de treinadores muito carismáticos em frente às câmaras, criando muita paixão e estabelecendo uma ligação com os seus adeptos", refere.
Roman, o perturbador
Essa rivalidade em particular tem sido uma grande atração para a Premier League nos últimos anos, acredita Jimmy Burns.
"Mas não esqueçamos os períodos anteriores, em que tivemos as grandes equipas do Manchester United de Ferguson. Tivemos o que chamo de Revolução Francesa, que foi a chegada de Arsène Wenger ao futebol inglês. Ele transformou as mentalidades e a forma como os ingleses viam o seu próprio jogo", explica.
O Manchester United e o Arsenal partilharam entre si nove títulos da Premier League, antes de o Chelsea interromper o duopólio sob a alçada de Roman Abramovich. Ninguém resumiu melhor o seu tempo em Stamford Bridge do que o escritor de futebol Jim White, como Jimmy Burns alude no seu livro.
"O clube acumulou 19 troféus importantes no seu tempo. A conclusão inevitável é que ele sabia o que estava a fazer", afirma.
Abramovich foi o catalisador do tipo de propriedade que vemos hoje na Premier League?
"Bem, o Chelsea era muito bem-sucedido e ninguém questionava a propriedade de Abramovich. Os adeptos adoravam-no. Ele era um herói. Sempre que havia um jogo em Stamford Bridge, via-se sempre Abramovich como mais um no meio do público. Mesmo depois da invasão da Ucrânia e de o governo ter criticado duramente a propriedade de Abramovich, os adeptos do Chelsea cantavam o seu nome e gritavam pela Rússia", explica Burns, um pouco perplexo.
Um hino à solidariedade humana
Por falar em cânticos polémicos, Burns recorda também o momento em que os adeptos do Liverpool cantaram "só há um Harold Shipman" contra os adeptos do Manchester United, em referência ao talvez mais prolífico assassino em série da história moderna inglesa.
"Mas, para ver o lado positivo, dedico bastante espaço no livro ao que considero ser um dos mais belos e totémicos hinos do futebol, que é o You'll Never Walk Alone. É um hino cantado não só pelos adeptos do Liverpool, mas também pelos adeptos do Celtic e do Dortmund, para citar apenas alguns locais. É um hino incrível à solidariedade humana, com o qual simpatizo", refere.
A maioria das pessoas simpatizou quando Olivia Pratt-Korbel, de nove anos, foi vítima inocente de um crime com arma de fogo em Liverpool, em 2022. Uma tragédia marcada pelo Liverpool e pelo Everton num dérbi de Merseyside em que todo o estádio se levantou e aplaudiu em unidade ao nono minuto. Não é o que se vê num dérbi de Madrid, entre o Real e o Atlético.
"De certeza que não! Penso que, em termos de dérbis de grandes cidades, o dérbi entre o Everton e o Liverpool é bastante singular. Há uma solidariedade subjacente pelo simples facto de se ser de Liverpool. E depois há a questão dos Beatles. O Atlético contra o Real Madrid é uma proposta totalmente diferente", afirma Burns, que continua a dividir o seu tempo entre Inglaterra e Espanha.