Exclusivo com Ryan Bennett: "Wolves com Jota, Moutinho, Patrício e Rúben Neves foi espetacular"

"A melhor experiência foi no Wolves, a pior no Leicester"

- Norwich, Wolves, Leicester... Quais foram as melhores experiências, Ryan - e também as mais difíceis?

- O Wolves foi de longe a minha melhor experiência. A altura em que fui para lá coincidiu com o investimento no clube. Com os jogadores que foram contratados, é possível ver como essa época foi emocionante. Nunca esperei chegar ao nível a que chegámos e foi uma época fantástica com uma equipa e jogadores fantásticos. O clube era fantástico e digo sempre que foi o clube que mais prazer me deu a jogar.

O mais difícil seria o Leicester, pois foi um empréstimo de curta duração, em que fui para lá para permitir que um rapaz ganhasse alguma experiência, por isso estava lá basicamente para treinar e dar cobertura. Acabei por fazer alguns jogos lá e isso foi dificultado pela era covid, com o prolongamento do empréstimo, por eu estar a viver fora e não poder ficar em hotéis, comer, etc., porque estava tudo fechado, por isso tornou-se um sítio difícil para viver e jogar.

- Nuno (Espírito Santo), Brendan Rodgers, Paul Lambert: jogou com grandes treinadores que gostavam da bola no chão...

- São todos diferentes. Uns mais complicados do que outros, outros mais calmos do que outros. Todos tinham um bom espírito de liderança e, obviamente, um grande conhecimento do jogo e das táticas que pretendiam implementar. Também se pode ver pelo sucesso que tiveram que são muito bons no seu trabalho. Cada um deles acrescentou algo diferente ao meu jogo e aprendi com todos eles.

- Quebrou um recorde no Wolves, tornando-se o primeiro inglês desde Matt Jarvis, em 2012, a marcar um golo na Premier League...

- Na verdade, nunca soube disso, mas é óbvio que foi uma grande sensação e o jogo acabou por ser um sucesso! Foi um grande momento para mim, pois disse que não esperava voltar a estar a esse nível e ter essa oportunidade. Por isso, fazer isso e marcar aquele golo foi uma sensação fantástica.

- E os seus colegas de equipa? Diogo Jota, Adama Traoré, James Maddison. Quem é que diria que se destacou?

- Como disse, são todos grandes jogadores, todos com atributos diferentes. Mas gosto sempre de dizer que é evidente para toda a gente as qualidades futebolísticas que têm, mas gosto de me concentrar mais na forma como são como pessoas. Todos os que menciona são pessoas humildes e terra a terra, com uma grande atitude em relação ao jogo e à vida. São pessoas fantásticas que trabalham arduamente para serem o melhor que podem ser diariamente. No entanto, Adama era um pesadelo para treinar, pois o seu ritmo, poder e agressividade tornavam-no muito difícil de lidar.

"Rúben Neves é uma pessoa extraordinária"

- Falou da equipa do Wolves com Jota, João Moutinho, Rui Patrício e Rúben Neves. Como é que foi essa experiência?

- Foi espetacular. Desde o primeiro minuto que não tinha a certeza de como iria correr o tempo, com muitos jogadores estrangeiros a entrarem no grupo. Mas foi fantástico, embora ao mesmo tempo pudesse ser visto como um risco, uma vez que se tratava de um plantel jovem e sem grande experiência do campeonato quando chegaram.

Também trouxeram uma série de funcionários que, sinceramente, foram fantásticos. O ambiente dentro do clube era algo que eu nunca tinha visto. O profissionalismo, a atitude e a simplicidade de todos os jogadores no balneário eram incríveis, comíamos juntos todos os dias e todos seguiam na mesma direção todos os dias!

Fez-me perceber porque é que estas seleções europeias estão a ter tanto sucesso, porque a atitude e o profissionalismo destes rapazes com capacidades incríveis era incrível. A vontade de ganhar a cada segundo era intensa e espantosa. Os resultados que obtivemos como grupo estão à vista de todos, mas os momentos que vou recordar sempre serão os do balneário e a humildade destes jogadores de classe mundial.

- Rúben Neves trocou o Wolves pelo Al Hilal. O que é que achou disso?

- Foi uma transferência fantástica para ele e para a família, sobretudo do ponto de vista financeiro, imagino. Ele não merece nada menos do que isso, pois é uma pessoa extraordinária que costumava convidar-nos a nós, rapazes ingleses, para irmos a casa dele cozinhar algumas das refeições que fazia tradicionalmente no seu país natal. Espero que ele volte à Europa e especialmente à Premier League para que possa ser reconhecido pelo jogador e pela pessoa que é.

- E o que dizer de Jota agora no Liverpool? Consegue ver o seu antigo colega de equipa no palco da Bola de Ouro no futuro?

- Mais uma vez, o Diogo tem tido um desempenho fantástico, estava destinado a isso desde o momento em que chegou a Inglaterra, os seus movimentos, o seu cérebro e a sua tenacidade são incríveis, a sua capacidade no jogo aéreo também é subestimada. O Liverpool exerce uma pressão incrível e espera resultados e ele sempre cumpriu. Marcar golos e criar golos, tenho a certeza de que os adeptos do Liverpool o adoram; a Bola de Ouro é sempre difícil, porque há jogadores fantásticos no mundo, mas ele é, sem dúvida, um dos futebolistas de elite a nível mundial."

- Admite que o Leicester foi uma experiência difícil, mas o que achou de trabalhar com Brendan Rodgers no clube?

- Foi uma grande experiência, mudar para um clube com o pedigree de ganhar a Premier League com jogadores que já tinham estado lá e feito isso. Também estavam a lutar por um lugar na Liga dos Campeões, por isso a pressão era grande e intensa. A Covid dificultou as coisas, e foi uma experiência muito diferente quando lá estive, não podendo estar juntos nos balneários, distanciamento social, treinar sozinho, etc. Foi difícil. Trabalhar com um treinador que já tinha tentado contratar-me quando eu era mais novo, no Swansea, também foi brilhante.

Brendan era uma ótima pessoa e dava sempre o seu melhor pelos jogadores. Preocupava-se mesmo. Diria que o Wolves foi uma experiência melhor para mim, porque tivemos muito sucesso e foi um período fantástico numa cidade movimentada."

"Nuno Espírito Santo? É bom vê-lo de volta a Inglaterra"

- O que dizer de Nuno Espírito Santo, atualmente no comando do Nottingham Forest?

- É bom vê-lo de volta a Inglaterra, ele e a sua equipa são excelentes pessoas, com o seu planeamento e consciência tática do que é necessário para ter um bom desempenho a este nível. Ele teve um excelente começo de vida em Nottingham e vejo-o a progredir com os jovens jogadores que lá tem.

- O que achou do Jamie Vardy como colega de equipa no Leicester?

- Ele teve uma carreira fantástica no Leicester e fez coisas fantásticas lá. É uma excelente pessoa e o facto de estar em forma e ser capaz de atuar a este nível na sua idade é uma prova do seu profissionalismo. Vai ser uma época difícil para eles este ano, mas espero que façam o suficiente para se manterem na liga."

- Também jogou com James Maddison no Norwich e no Leicester antes de ele ir para o Tottenham...

- Ele é um jogador de topo. Cria muitas oportunidades e mantém a equipa a funcionar, tem uma vontade incrível de jogar e de ganhar. Fiquei um pouco desiludido por as oportunidades dele em Inglaterra terem sido limitadas, porque acho que ele podia ser um jogador muito criativo para a seleção nacional e dar o toque necessário.

- E você, Ryan? Alguma vez teve a oportunidade de jogar no estrangeiro?

- Tive a oportunidade de ir para os Estados Unidos no final da minha carreira, mas não era algo que me interessasse muito, os meus filhos estavam a estudar no Reino Unido. Quem me dera que o saudosismo tivesse acontecido uns anos antes, porque agora parece-me uma opção muito boa...!

- E quanto à Premier League desta época?

- É um campeonato aberto, o Rodri vai falhar para o Man City, o que pode tornar o campeonato mais apertado este ano, o que será emocionante. Há sempre altos e baixos ao longo do caminho, por isso vai ser um campeonato fantástico e emocionante de ver.

- Antes de terminarmos, tem alguma escolha para o cargo de selecionador de Inglaterra a tempo inteiro?

- Para mim, a Inglaterra é um país difícil de observar, para ser sincero. Temos jogadores fantásticos, mas, por uma razão ou outra, isso não parece traduzir-se numa grande equipa, o que acontece há anos. Tenho esperança de que isso possa mudar em breve, mas veremos. Gostaria de ter um treinador inglês que se concentrasse nos resultados, em vez de alguém que se candidatasse a ser um candidato perfeito para a FA. Eddie Howe (Newcastle) é alguém que eu gostaria de ver em algum momento (a comandar a Inglaterra).