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Jimmy Burns explica como a Premier League se tornou a melhor do mundo

Pep Guardiola venceu a Premier League seis vezes com o Manchester City
Pep Guardiola venceu a Premier League seis vezes com o Manchester CityOli Scarff / AFP
"Não era desconhecido que os jogadores organizavam competições para ver quem comia mais antes e depois do jogo, sendo que o recorde de nove refeições pertencia a Steve Bould. Alguns dos jogadores entravam em campo ainda a arrotar", recordou um dia Dennis Bergkamp, ainda perplexo, sobre os seus tempos no Arsenal.

Por muito louco que pareça, isto não aconteceu na idade das trevas, mas sim nos primórdios da Premier League, e é uma das muitas pepitas que se podem encontrar em "The Premier - Big Business and Great Football". É o mais recente livro do jornalista, autor e OBE Jimmy Burns. Um olhar divertido sobre o gigante em que se tornou a Premier League ou, como o próprio Burns diz ao Tribal Football.

"É uma visão muito pessoal sobre a forma como vivi a Premier League ao longo dos anos e como a vejo atualmente, através de uma série de vinhetas quase coloridas. É uma tentativa de recordar às pessoas como era o futebol em Inglaterra antes da Premier League, como surgiu e as personagens coloridas que povoaram a história da Premier League".

Burns foi inicialmente abordado por uma editora espanhola devido ao imenso interesse pela Premier League, mesmo em Espanha.

"De facto, as audiências televisivas mostravam que havia mais pessoas a ver os jogos da Premier League do que os da La Liga, o que é extraordinário, tendo em conta a história da grande rivalidade entre o Real Madrid e o Barça."

A Premier League é um produto "bem pensado"

Nascido em Espanha e criado em Inglaterra por uma mãe espanhola e um pai inglês, Burns tem um pé em cada campo, por isso porque é que acha que a Premier League atingiu uma audiência tão global?

"Há mais do que um fator, mas o primeiro, que é uma resposta bastante cínica mas verdadeira, é que a Premiership foi, quase desde o início, um enorme projeto comercial. Foi muito bem pensada e, com a televisão por satélite, expandiu-se para um público global que chegou a lugares distantes como a Ásia e os Estados Unidos, que não levavam o futebol muito a sério. Ao mesmo tempo, tentou-se manter a ideia de que a Inglaterra está no centro da história do futebol, com uma base de adeptos histórica que se manteve fiel aos seus clubes em todos os momentos e que deu paixão ao que, de outra forma, teria sido uma aposta comercial bastante fria e clínica", atirou.

"Outro fator é a decisão Bosman. A Premier League foi incrivelmente bem-sucedida em termos de atrair talentos estrangeiros, tanto a nível de jogadores como de dirigentes. Por último, e não menos importante, atraiu muito dinheiro de proprietários estrangeiros. Obviamente, esse dinheiro avultado colocou a Premier numa posição de vantagem competitiva em termos de compra de jogadores, construção de grandes estádios e alcance em todo o mundo. E o resultado é o que temos", diz Burns, antes de apontar algumas histórias dos últimos anos que ajudaram a atrair uma enorme atenção para a Premier League.

"Tivemos a história de David contra Golias, quando o Leicester City venceu a Premier. Estes pequenos jogadores enfrentam os grandes e ganham. Depois, há o fenómeno da rivalidade entre Pep Guardiola e Jurgen Klopp, que foi como um mega circo global. Estes dois tipos quase se imitaram a si próprios em termos de desempenharem o seu papel de treinadores muito carismáticos em frente às câmaras, criando muita paixão e estabelecendo uma ligação com os seus adeptos".

The Premier - Big Business and Great Football
The Premier - Big Business and Great FootballPitch Publishing

Roman, o perturbador

Essa rivalidade em particular tem sido uma grande atração para a Premier League nos últimos anos, acredita Burns.

"Mas não esqueçamos os períodos anteriores em que tivemos as grandes equipas do Manchester United de (Sir Alex) Ferguson. Tivemos o que chamo de Revolução Francesa, que foi a chegada de Arsene Wenger ao futebol inglês. Ele transformou as mentalidades e a forma como os ingleses viam o seu próprio jogo".

O Manchester United e o Arsenal partilharam entre si nove títulos da Premier League antes de o Chelsea interromper o duopólio sob a alçada de Roman Abramovich. Ninguém resumiu melhor o seu tempo em Stamford Bridge do que o escritor de futebol Jim White, como Burns alude no seu livro.

"O clube acumulou 19 troféus importantes no seu tempo. A conclusão inevitável é que ele sabia o que estava a fazer."

Terá sido Abramovich o catalisador do tipo de propriedade que vemos hoje na Premier League?

"Bem, o Chelsea era muito bem-sucedido e ninguém questionava a propriedade de Abramovich. Os adeptos adoravam-no. Ele era um herói. Sempre que havia um jogo em Stamford Bridge, via-se sempre Abramovich como mais um no meio do público. Mesmo depois da invasão da Ucrânia e de o governo ter criticado duramente a propriedade de Abramovich, os adeptos do Chelsea cantavam o seu nome e gritavam pela Rússia", explica Burns, um pouco perplexo.

Um hino à solidariedade humana

Por falar em cânticos polémicos, Burns recorda também o momento em que os adeptos do Liverpool cantaram "só há um Harold Shipman" contra os adeptos do Manchester United, em referência ao talvez mais prolífico assassino em série da história moderna inglesa.

"Mas, para ver o lado positivo, dedico bastante espaço no livro ao que considero ser um dos mais belos e totémicos hinos do futebol, que é o You'll Never Walk Alone. É um hino cantado não só pelos adeptos do Liverpool, mas também pelos adeptos do Celtic e do Dortmund, para citar apenas alguns locais. É um hino incrível à solidariedade humana, com o qual me identifico".

Adeptos do Liverpool com cachecóis
Adeptos do Liverpool com cachecóisPeter Powell / AFP

A maioria das pessoas simpatizou quando Olivia Pratt-Korbel, de nove anos, foi vítima inocente de um crime com arma de fogo em Liverpool, em 2022. Uma tragédia que ficou marcada pelo Liverpool e pelo Everton, num dérbi de Merseyside em que todo o estádio se levantou e aplaudiu em unidade ao nono minuto. Não é uma cena que se veja num dérbi de Madrid entre o Real e o Atlético.

"De certeza que não. Penso que, em termos de dérbis de grandes cidades, o dérbi entre o Everton e o Liverpool é bastante singular. Há uma solidariedade subjacente pelo simples facto de se ser de Liverpool. E depois há toda a história dos Beatles. O Atlético contra o Real Madrid é uma proposta totalmente diferente", afirma Burns, que ainda divide o seu tempo entre Inglaterra e Espanha.

Em "The Premier - Big Business and Great Football", Jimmy Burns aborda, entre outros temas, o hooliganismo, a cultura da bebida, os "underdogs" e até o conceito de "WAGs". O livro já foi lançado pela Pitch Publishing e pode ser adquirido em diversas livrarias ou aqui.