Com "Sons of Revie - Leeds United's Decade of Dominance" (Filhos de Revie - A Década de Domínio do Leeds United), Rocco Dean já conta com cinco livros sobre o Leeds e, apesar de afirmar que precisa de uma pausa, já tem um novo projeto em preparação. Desta vez, não é sobre o Leeds, mas continua intimamente ligado aos "brancos".
"É um livro que segue o Uruguai de Marcelo Biela durante a qualificação e até ao Campeonato do Mundo. Espero que com um final feliz", diz Dean com uma grande risada, ao imaginar o Uruguai a levantar o troféu do Mundial nos EUA em 2026.
O Tribalfootball conversou com Rocco Dean sobre a sua mais recente empreitada no Leeds e ele começou por explicar o significado do título "Filhos de Revie".
"Don Revie foi o treinador do Leeds nos anos 60 e 70 e construiu uma equipa basicamente cheia de miúdos. Nove ou dez jovens passaram por lá, e ele moldou-os numa das melhores equipas que a Grã-Bretanha alguma vez viu. Basicamente, passaram toda a sua carreira como jogadores de um só clube, o que criou um verdadeiro ambiente familiar em Elland Road. Os jogadores eram como seus filhos e toda a equipa era basicamente composta por companheiros que cresceram juntos", afirmou.
Dean escreveu o livro a partir do ponto de vista do seu pai, que acompanhou o clube durante os tempos áureos em que os troféus eram regularmente adicionados ao museu.
"Ele começou a ir a Elland Road em 1961, que foi a primeira época completa de Revie no Leeds. Quis registar todas as suas memórias, bem como as suas opiniões e pequenas histórias sobre os rituais pré-jogo e as suas opiniões sobre determinados jogadores, o que ajuda a dar um toque autêntico", disse Dean sobre o livro que retrata vários jogos importantes ao longo das 10 épocas em que Revie geriu o clube na antiga 1.ª Divisão.
Um recorde fabuloso contra os rivais
Durante este período, Revie construiu um registo excelente contra outros treinadores de topo da época, muitos dos quais ainda hoje são considerados lendas.
"Eu sabia que a equipa de Revie era a equipa dominante dessa época, mas só quando comecei a investigar os factos e as estatísticas é que me apercebi do quão notável era o seu registo. Foi um período em que a Inglaterra ganhou o Campeonato do Mundo e em que havia verdadeiras lendas com estátuas no exterior dos campos até hoje. É preciso lembrar que a equipa de Don Revie era uma equipa fora de moda, que nunca tinha tido sucesso no passado. Com uma série de jogadores jovens e sem gastar dinheiro, conseguiu levar o Leeds do nada para a frente de toda a gente", lembrou Rocco Dean.
"Nas 10 épocas em que Revie esteve na primeira divisão, Bill Shankly e o Liverpool só ficaram à sua frente três vezes. E o Manchester United de Matt Busby enfrentou o Leeds 25 vezes nesse período de 10 anos e só o derrotou três vezes", acrescentou Dean, acreditando que Revie merece muito mais crédito do que recebe atualmente.
"Veja-se o caso de Brian Clough, que ganhou o título com o Derby e o Nottingham Forest, mas este último só ganhou um título e foi-se abaixo muito rapidamente, enquanto Revie conseguiu manter a dinastia durante 10 anos", afirmou.
Mesmo para a época, era surpreendente o pouco dinheiro que Revie gastou durante o seu tempo em Elland Road.
"Depois da promoção à primeira divisão, compraram um jogador nas quatro épocas seguintes. Tinham muitos jogadores jovens a despontar, como Eddie Gray e Peter Lorimer, e Revie fez uma excelente citação durante esse período, quando estava a ser muito pressionado pelos adeptos", explicou.
Durante muitos anos, o Leeds não teve um avançado com provas dadas e os adeptos queriam que ele comprasse alguém, mas Don Revie foi claro: "Se eu for comprar jogadores a torto e a direito sempre que os jovens jogadores mostrarem fraquezas, o que é que isso vai fazer ao desenvolvimento dos jovens jogadores? Acredito que estes jogadores vão colocar-nos no mapa".
Não há limites
Os resultados deram razão a Revie e Rocco Dean não tem dúvidas de que isso reforçou a lealdade dos jogadores.
"Estes jogadores podiam ter ido para outros clubes e ter ganho mais dinheiro, mas Revie estava a apoiá-los, o seu lugar nunca esteve ameaçado, por isso todos se concentraram completamente em conseguir algo como equipa", explicou.
Uma das coisas que o livro realça é a quantidade incrível de jogos que o Leeds United disputou durante este período, chegando a disputar oito jogos em 15 dias, numa altura em que Don Revie tinha em vista todos os troféus imagináveis.
"Jogaram com o Celtic na primeira mão das meias-finais da Taça dos Campeões Europeus na quarta-feira e depois, na quinta-feira, tiveram de ir jogar com o West Ham fora. Revie jogou quase com a mesma equipa e Paul Reaney partiu a perna na primeira parte, numa época em que não eram permitidas substituições. Reduzidos a 10 homens, os jogadores lutaram para conseguir um empate, depois de terem jogado contra o Celtic na noite anterior", cintou Rocco Dean, ainda incrédulo com o calendário louco em que os jogadores de Leeds se viam envolvidos em quase todas as épocas. Muitas vezes, também se viam metidos em muitos sarilhos e ganharam a reputação de serem maus.
"Talvez seja tendencioso, mas estou convencido de que as outras equipas que enfrentavam o Leeds sabiam que tinham a reputação de ser uma equipa difícil e, por isso, vinham preparadas e esperavam uma luta. Além disso, havia equipas que sabiam que não podiam defrontar o Leeds fora do campo e não tinham outra alternativa senão lutar para vencer os jogos. E o Leeds estava sempre pronto para a luta. Como disse antes, eram um bando de irmãos, se começarem a atacar um deles, vão todos para a baliza, sem darem tréguas", explicou.
Apesar de todos os resultados e troféus que conseguiram ganhar, a década sob o comando de Don Revie é igualmente famosa pelo que não ganharam, e Rocco Dean atribui isso à simples questão do congestionamento de jogos.
"Nesses 10 anos, houve apenas duas épocas em que foram eliminados das taças antes das meias-finais e, em ambas as ocasiões, ganharam a liga. Em todas as outras épocas, o clube disputava pelo menos uma dobradinha, mas não conseguia aguentar todos os anos. Era demasiado", afirmou.
"Há um pouco de azar aqui e ali, como na final da Taça de Inglaterra de 73 contra o Sunderland. Mas vendo os jogos, o Leeds teve muito azar em algumas dessas finais. As duas finais europeias, mas também a final do Chelsea em 1970, que é famosa por ser o jogo mais sujo de sempre. O Leeds acertou cinco vezes na trave e foi simplesmente magnífico. Apesar de saber o resultado, fiquei de rastos só de ver o jogo e de ver como não ganharam aquele jogo", assumiu.