Ainda existirem dúvidas sobre a nomeação do francês é uma loucura. No entanto, os adeptos do United devem sentir-se encorajados ao verem Blanc fazer parte da delegação da INEOS que foi vista em Old Trafford na semana passada. Como dizemos, se o United quiser sair desta década de mal-estar, Blanc - na opinião deste colunista - é a única bala de prata.
Ele foi feito para este trabalho. Uma reconstrução. Um renascimento. O despertar de um gigante adormecido. Blanc fê-lo com uma Juventus despromovida. Depois, supervisionou a ascensão do PSG, de um entre muitos, para uma única força dominante no futebol francês. Viu, viveu e saiu do outro lado com a reputação reforçada.
O United seria, talvez, o desafio mais difícil. Embora se possa argumentar que a casa a arder que assumiu na Juve era mais desesperante. É ousado, admitimos, mas para esta coluna, em termos de futebol inglês, Jean-Claude Blanc pode ser tão transformador para o United como Jurgen Klopp foi para o Liverpool - e conseguiria a reviravolta num espaço de tempo mais curto...
Ou, pelo menos, morreria a tentar. Blanc já falou no passado sobre a crise que herdou em Turim. Era tudo sobre aqueles "primeiros 100 dias". Tomar decisões de longo prazo. Estabelecer as bases para o sucesso dentro e fora do relvado.
"Chegas a este ambiente que é necessariamente dinâmico, porque tens uma montanha de problemas para resolver ao mesmo tempo", recordava Blanc há cerca de oito anos, quando ainda dirigia o PSG.
"Praticamente 100 dias são decisivos para o futuro do clube. Se tomarmos uma má decisão nesses 100 dias, está tudo acabado. Depois, seriam precisos 20 anos para regressar. Nesses 100 dias tomámos muitas decisões acertadas".
Portanto, não haverá período de adaptação, não vai querer um. Até porque não há tempo para isso, estarão todos a postos em posições de combate logo desde o início. O tónico ideal para este gigante tropeço.
E eles tropeçam.. até tombam mesmo. O último sábado, em casa, contra o Bournemouth, é prova suficiente disso. É desconcertante. Até enlouquecedor. Mas também é o United. O United moderno. Jogador do Mês em Harry Maguire. Treinador do Mês em Erik ten Hag. Até Alejandro Garnacho levou o Golo do Mês da Premier League. Um sinal claro do excelente mês de novembro que o United teve no campeonato. No entanto, contra os Cherries, foram pobres. Sem vida. Tipicamente Manchester United. Foi mais um falso arranque.
Mas a cavalaria está a chegar... pensamos nós. Sem qualquer palavra por parte do clube ou da INEOS, persiste a dúvida sobre se Blanc vai substituir Richard Arnold como diretor executivo do clube. Mas devia. De facto, nós defendemos que deve. Mas estamos no Manchester United de 2023. E mesmo com um valor seguro como Blanc representa, há ainda a possibilidade de a contratação não acontecer.
No passado, destacámos os sucessos comerciais de Blanc, nomeadamente a supervisão do novo estádio da Juventus. Tendo em conta os planos que o United está a desenvolver para Old Trafford, é mais uma razão para Blanc ser a escolha certa.
Mas a sua experiência chega também ao relvado. Para ser justo, o futebol não foi o primeiro amor desportivo de Blanc, mas cresceu na modalidade. Tal como Sir Jim Ratcliffe, é um desportista. Mas também um homem do futebol. Supervisionou o renascimento da Juve em todos os aspetos - cimentando as bases daquela série de nove vitórias na Serie A. Isto incluiu fazer tudo o possível para convencer Gigi Buffon a rejeitar uma proposta do AC Milan.
"Fizemos uma apresentação para o Gigi na grande sala de troféus. Igual ao que fazemos para convencer um patrocinador a juntar-se a nós. Construímos uma apresentação em torno dele. Porque é que ele era importante na história do clube. Porque é que ele seria o próximo capitão", recordou.
"Porque é que íamos regressar ao topo da Série A e ganhar tudo. Porque é que ele iria jogar outra final da Liga dos Campeões. O lugar de guarda-redes na história da Juve. E porque é que uma pedra basilar no nosso projeto", apontou.
No United, vai estar envolvido em tudo - e está preparado. O dirigente de 60 anos é sempre muito participativo.
"Muito profissionalismo", descreve Blanc a sua abordagem no PSG. "Gerir 350 pessoas, gerir uma marca a nível mundial, receber 1,3 milhões de pessoas por ano nos estádios em Paris. Se amanhã alguém cair nas escadas do Parc des Princes, o responsável sou eu".
Aymeric Mantoux, que trabalhou no departamento de comunicação do PSG, falou do seu antigo patrão: "Ele sabia que o PSG era um clube onde as pessoas estavam sempre à procura de piolhos na cabeça. É uma força invisível, nunca está em conflito ou sob stress. Mesmo nos momentos difíceis, nunca se zangou. Ele sabia que isso era próprio de um grande clube".
Blanc e o Manchester United - ele foi feito para o cargo. Se alguma vez o Manchester United encontrou a sua bala de prata, é Jean-Claude Blanc.