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A vida de Jorginho deu uma volta e fez história no Luxemburgo: "Merecemos ser campeões"

Jorginho vive época de sonho no Differdange
Jorginho vive época de sonho no Differdange@jessicacarmoph/Flashscore
Jorginho levantou bem alto a bandeira de Portugal no Grão-Ducado do Luxemburgo. Na sua primeira aventura no estrangeiro, o avançado português sagrou-se campeão ao serviço do Differdange, um marco histórico na história do clube, e contribuiu com mais de duas dezenas de golos.

O futebol esteve sempre muito presente na vida de Jorge Monteiro, conhecido no meio apenas por Jorginho. De geração em geração, a família conta com forte ligação ao CD Celeirós e o bichinho apanhou também o caçula.

Ele "sempre" acreditou que tinha qualidade para "singrar no futebol" e foi traçando o seu percurso pela formação do Merelinense, Celeirós e SC Braga, até encontrar as dificuldades naturais do futebol sénior. Depois foi vida a ser vida. Surpreendente.

Após cinco anos no Campeonato de Portugal sem conseguir dar o salto para as provas profissionais, Jorginho começou a preparar o "Plano B", que passava por juntar um trabalho das 6:00 às 14:00 numa empresa de qualidade em Braga ao futebol, e não é que foi nesse ano que fez a melhor época de sempre, com 17 golos em 25 jogos no Pevidém.

Os convites de divisão superior apareceram, mas nada que justificasse a saída do "outro" trabalho. Até que o telefone deu sinal de notificação de uma mensagem no instagram. Era o adjunto do Differdange e o resto é história. Campeão e melhor marcador do campeonato luxemburguês.

Jorginho com muitos motivos para celebrar
Jorginho com muitos motivos para celebrar@jessicacarmoph - FC Déifferdeng 03

"O que se ganha no CP não é dinheiro para a vida"

- O que o levou a optar por outra solução no estrangeiro? Estava resignado com a sua situação em Portugal?

- Eu não estava bem resignado, nem conformado, pois não sou uma pessoa assim. Mas a verdade é que a vida não espera por ninguém e aos 25 anos o que se ganha no Campeonato de Portugal (CP) não é dinheiro que vá ajudar para a vida. Tinha de começar a olhar para outros lados para ter outra fonte de rendimento...

- Estava à espera que lhe aparecesse uma proposta do Luxemburgo?

- Tinha a noção de que ia receber boas ofertas depois da época que fiz. Fui o melhor marcador do CP e ia sempre abrir algumas portas, mas também tinha a consciência de que podia não ser bom o suficiente para deixar de trabalhar e voltar ao plano A. Estava a ponderar até que recebi uma mensagem no Instagram de um dos adjuntos (André Mendes) que esta cá no Differdange e que tinha jogado contra mim - eu no Pevidém e ele no Merelinense.

Differdange sagrou-se campeão do Luxemburgo pela primeira vez
Differdange sagrou-se campeão do Luxemburgo pela primeira vezFlashscore

- Não houve possibilidade de dar o salto em Portugal?

- Eu tive alguns contactos de Liga 3, mais que isso confesso que não tive, mas nada era bom o suficiente para abdicar do trabalho aos 25 anos. Se tivesse 20-21 anos ainda valeria a pena, mas aos 25, a meio da carreira, era demasiado arriscado para os benefícios que podia ter.

- Passa de uma realidade em que conciliava o futebol com outro trabalho para estar no banco num jogo das competições europeias (Liga Conferência)?

- Pode parecer arrogância da minha parte, mas se queremos alguma coisa no futebol temos de acreditar e confiar que temos condições para jogar em qualquer lado. Eu tentei olhar com naturalidade para a situação, porque era algo que eu queria muito e não podia estar deslumbrado. 

- O Luxemburgo e o Differdange foram ao encontro do que esperava?

- Mais ou menos. É sempre uma surpresa. Tinha noção que o futebol do Luxemburgo não é o melhor futebol do mundo, até porque o futebol é praticamente secundário atendendo às outras áreas, mas apanhei mais qualidade do que esperava, e apanhei melhores condições do que esperava. Outras não são tão positivas, mas foi melhor do que eu estava à espera.

Os adeptos do Differdange
Os adeptos do Differdange@jessicacarmoph - FC Déifferdeng 03

"Superou as expectativas, mas não supera o sonho"

- O objetivo sempre foi o de ser campeão?

- Não, não, nunca foi, até há bem pouco tempo. O meu objetivo pessoal é ganhar sempre (risos), mas o clube é realista. É um clube com apenas 20 anos de história, que nunca tinha vencido um campeonato, então o nosso objetivo principal era garantir um lugar europeu, depois quando começou a dar começamos a pensar de forma diferente. 

- O registo de 19 vitórias, oito empates e uma derrota é mesmo de uma equipa campeã. Então como se explica?

- Primeiro de tudo e não há que enganar, o nosso grupo de jogadores é incrível. Mesmo perante a dificuldade das línguas, porque temos várias nacionalidades, criámos uma envolvência muito grande. Quando íamos lá para dentro a língua era a do 'vamos ganhar'. Depois a equipa técnica preparava-nos muito bem para os jogos e contamos com o apoio da direção e os nossos adeptos também foram incansaveis. Não houve uma única vez em que não nos puxassem para cima. Merecemos muito isto.

- Em termos individuais: 24 golos no campeonato e mais três na Taça. Superou as expectativas?

- Superou as minhas expectativas, mas não supera o sonho. Tenho de pensar sempre que faço 40 golos (risos). Pareço lunático, mas é a minha forma de me motivar. 

- Com esse registo acredito que passou a ser bastante acarinhado pelos adeptos...

- Sim, sim. Recebi muito apoio deles e estou muito grato. 

A forma recente do Differdange
A forma recente do DifferdangeFlashscore

- Como foram os festejos?

- O jogo foi duro, mas um momento muito especial. Sentíamos mesmo as coisas a acontecer e quando o dia chegou foi correr, saltar, gritar... Tive o privilégio de ter cá a minha família para este jogo - os meus pais e uma tia - e um amigo de infância que está cá em Differdange também veio ver. Foi tudo ainda mais especial.

- Houve lágrimas?

- No início não, mas quando os meus pais chegaram à minha beira foi difícil conter.

- Nada arrependido da decisão?

- Nada mesmo, nem há tempo para isso. Se na vida já não há tempo, então no futebol há menos. Se corresse mal vinha para casa já a dar uns toques no francês, com experiência no estrangeiro de um ano e com algum dinheiro junto, felizmente, e novas histórias e aprendizagens. Nunca ia perder. 

- Se soubesse o que sabe hoje, talvez tinha tomado a decisão mais cedo, não?

- Se tivesse a oportunidade, sim... Em Portugal é complicado. Quando se entra no círculo de estar 4-5 anos no CP vais ficar por lá, na Liga 3 é igual. Há muita qualidade em Portugal, então os jogadores são sempre os mesmos. Só com alguma sorte, e com mérito, claro, é que se dá o salto. Às vezes é preciso vir para fora para poder voltar melhor um dia.

Jorginho vive dias felizes no Luxemburgo
Jorginho vive dias felizes no Luxemburgo@jessicacarmoph - FC Déifferdeng 03

 "Acredito que isto me pode abrir boas portas"

- O que se segue?

- É dificil dizer. Tenho sonhos, mas o mais importante é viver o momento. Tenho contrato aqui, acredito que isto pode abrir boas portas, mas eu quero é viver o momento. Vamos ver o que será melhor para o meu futuro.

- E um regresso a Portugal?

- Não me acredito. Só se tivesse uma oportunidade muito boa. Mas muito dificilmente... Eu gostava de ir para casa, pois Portugal será sempre a minha casa, mas eu nem digo que sou emigrante. Sou um português que veio jogar para fora.

Os últimos jogos do Differdange no campeonato
Os últimos jogos do Differdange no campeonatoFlashscore

- O Luxemburgo também tem muitos portugueses...

- Differdange é das maiores comunidades. Em 50 pessoas, 30 são portuguesas (risos). Isso torna a adaptação muito fácil. Eu vou ao supermercado e tenho sempre uma pessoa portuguesa e nos cafés e restaurantes é igual. Ao início entrava num sítio e dizia bonjour (n.d.r: bom dia em francês) e eles respondiam com um bom dia (risos).

Fotografias gentilmente cedidas por: @jessicacarmoph

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