Entrevista Flashscore a Jorge Silva: "Eslovénia? É uma montra, uso isto como um trampolim"
- Começou no Salgueiros, depois salta para o Leixões, tem uma viagem até à academia do Sporting, regressa ao Leixões, passa pelo Paços de Ferreira e termina no Olimpija Ljubljana. Conte-nos um pouco do seu trajeto...
- Primeiro obrigado pelo convite. A minha carreira começou nas camadas jovens do Salgueiros. Estive lá três anos. Depois fui para o Leixões, onde fiz toda a formação até ao último ano de júnior, em que fui para o Sporting. No Sporting fiz a última época de júnior e a primeira de sénior na equipa B, que era comandada por João de Deus. Foi uma experiência diferente, estava longe de casa e o primeiro ano custou um pouco a adaptação. No segundo ano foi mais fácil, já tinha a minha casa e foi uma época melhor. Decidi regressar ao Leixões porque sentia que estar longe ainda fazia muita diferença. Foram três anos de muito crescimento e saí um jogador muito diferente. Saí para o Paços de Ferreira, onde comecei bem e tive fases boas, mas foram quatro anos muito dolorosos fisicamente e emocionalmente. Em termos emocionais tive de gerir duas lesões grandes praticamente seguidas e é muito complicado para qualquer jogador. O Olimpija é um projeto muito diferente, é a segunda vez que estou longe de casa. Muitos podem desconfiar, mas a experiência está a ser muito boa e o país muito diferente do que se pensa. Para já está a correr muito bem.
- Não fossem essas lesões mais graves, o Jorge Silva podia estar numa equipa a lutar por outros objetivos? Acredita que podia ter chegado mais longe se não fossem esses infortúnios?
- Na altura em que tive as lesões já se falava de algumas coisas. Em 2020/21 fiz dois jogos quando regressei de lesão. Na época seguinte comecei a jogar e tive a segunda lesão. Nunca iremos saber se podia ter ido mais longe ou não, mas também foi por isso que vim para este projeto: estamos na Europa, a lutar por outros objetivos, é outra montra. Uso isto como um trampolim, sendo que o Olimpija é um clube que me tem surpreendido bastante pelas condições que tem e pelo quão está a crescer.
- É dos poucos jogadores - à semelhança dos seus companheiros - que, numa temporada, já jogou partidas a contar para as três competições da UEFA (apuramento da Liga dos Campeões, playoff da Liga Europa e Liga Conferência). Isto mexe muito convosco?
- Está a ser novo para toda a gente. Jogámos todas as competições e tem sido muito bom, ao mesmo tempo cansativo porque são jogos atrás de jogos. Tem sido complicado, mas todos querem estar nestes palcos e nestas competições.
- Se pudesse comparar o Olimpija Ljubljana a um emblema português, quem escolhia?
- É muito difícil comparar assim um clube. O campeonato em Portugal é muito bom e aqui está em crescimento. Acho que seria uma equipa para lutar do meio da tabela para cima. É uma equipa com muita qualidade, está a melhorar de ano para ano e melhores jogadores virão para cá.
- A escolha de ir para Ljubljana teve a ver com o João Henriques - com quem já tinha trabalhado?
- Claro que sim. Trabalhei com o mister João Henriques seis meses, no Leixões, antes da ida do mister para o Paços de Ferreira. Vinha de lesões muito complicadas e irmos para uma equipa em que o treinador quer o jogador é muito diferente. O treinador deu-me confiança. Percebo alguma desconfiança dos clubes face às lesões e sendo que o treinador me conhece, eu tinha que aceitar.
- Até ao momento, tem 18 jogos e soma cinco assistências. Está a correr bem...
- São números bons. Hoje em dia o jogador vive de números, essa é a realidade. Estando a fazer estes números é bom.
- A relação com os outros portugueses que tem no plantel facilitou a adaptação? Como é o dia a dia aí?
- Claro. Vir para um país que não se conhece é sempre mais complicado. Quando temos pessoas que falam a nossa língua, ajuda sempre a integrar. Ajudaram-me bastante e continuam a ajudar. O dia a dia aqui é igual a qualquer outro clube. Treinamos de manhã, às vezes à tarde, e maior parte das vezes estamos juntos. Quando te queres exprimir e não é a tua língua, é sempre mais difícil. Temos muitos colegas portugueses e isso facilita bastante o trabalho.
- O objetivo (do Olimpija) é ser campeão outra vez?
- Claro. O objetivo de uma equipa que ganha o campeonato é revalidar o título, como assim tem que ser.
- Estão a alguma distância dos primeiros lugares, mas nada que hipoteque o que vocês pretendem...
- Sim. Como disse estamos a ter jogos de três em três dias, é desgastante. Estamos a quatro pontos da liderança, mas acredito que vamos conseguir o nosso objetivo porque o campeonato é longo e faltam muitos jogos. Acredito que vamos dar a volta por cima.
- O Jorge está a jogar num campeonato que se considera periférico na Europa. Sente que tem os olhos postos em si e que isso possa ser importante para o evoluir da sua carreira?
- Sim. É um campeonato periférico, que está em crescimento e que precisa de algumas infraestruturas. Sinto que em termos qualitativos é bastante competitivo. Os jogos não têm sido fáceis. Vim para cá a olhar para a minha carreira, que precisava de ser relançada. Jogando uma Liga Conferência, que tem sempre muita gente a ver, é bom para relançar a carreira.
- Pensa num regresso a Portugal ou quer apenas cumprir contrato e esperar?
- Tento focar-me no presente porque sei que se fizer as coisas corretas de dia para a dia, as coisas no futuro vão acontecer. Não sei se o futuro vai passar por Portugal ou outro lugar. Estou feliz aqui, as coisas estão a correr bem e estou focado no campeonato e na fase de grupos da Liga Conferência. As coisas vão aparecendo naturalmente.
"O Paços de Ferreira vai dar a volta por cima"
- Voltando a Portugal, surpreende-o ver o Paços de Ferreira em dificuldades depois de ter descido à Liga 2?
- O Paços de Ferreira é um clube muito grande em Portugal. Atrás dos grandes é o clube com melhores condições, melhor estrutura e com melhores pessoas a gerir. Este ano está a ter mais dificuldades. O ano passado foi doloroso, tanto para o Paços como para mim. Acredito que o Paços vai conseguir dar a volta por cima.
- A Liga 2 está cada vez mais competitiva e este ano há muitas equipas candidatas à subida...
- Já na minha altura era uma competição bastante equilibrada. Agora com a criação da Liga 3 cada Liga vai ficando mais competitiva. A Liga 2 tem vários candidatos a subir à Liga e vai ser disputada até ao fim.