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Sofia Silva: "Não tive vergonha de pedir ajuda, hoje estou muito feliz numa liga incrível"

Sofia Silva assinou pelo Valência
Sofia Silva assinou pelo ValênciaValencia CF
Sofia Silva é uma das muitas portuguesas que participam na presente edição da Liga F, a principal prova feminina de futebol em Espanha. A central portuguesa abraçou o projeto do Valência e está pronta para mostrar as suas credenciais no país vizinho.

Acompanhe a Liga F no Flashscore

Pause. Stop. Start! A ainda curta carreira de Sofia Silva dava um livro. Um daqueles que inspiram quem um dia sonha em chegar ao patamar de futebolista profissional.

A jovem central passou por uma lesão grave no joelho aos 18 anos, numa altura em que estava a afirmar-se na equipa principal do SC Braga, e desenvolveu um sentimento de frustração pela forma como tudo foi tratado. As datas estão frescas na memória.

Sofia chegou a duvidar de si, mas teve a "coragem" de pedir ajuda e reergueu-se. Hoje está no Valência e na Liga F, um dos melhores campeonatos do Mundo. Uma história de superação contada na primeira pessoa, em exclusivo ao Flashscore.

Sofia Silva estreou-se na Liga ao serviço do SC Braga
Sofia Silva estreou-se na Liga ao serviço do SC BragaValencia CF/Opta by Stats Perform

"O futebol sempre foi prioridade para mim"

- Qual é a primeira memória que tem relacionada com o futebol?

- A primeira memória é de começar a jogar na rua com família, amigos e vizinhos, apenas por entretenimento. O bichinho começou a crescer nesses pequenos momentos. Lembro-me de jogar com o meu tio e irmão e esfolar os joelhos no chão (risos).

- Quando surge a primeira oportunidade de entrar em contexto clube?

- O treinador do clube do meu irmão era o meu professor de educação física e como ele via que eu gostava de dar uns toques incentivou-me a ir com o meu irmão aos treinos.

- E quando percebe que dava para ser profissional?

- O primeiro impacto foi quando fui à Seleção pela primeira vez. Eu jogava com os rapazes e achava que ia chegar a uma determinada altura em que não ia poder dar continuidade. Nem sequer sabia que havia feminino nas seleções. Quando aconteceu foi do género: 'Uau, isto é incrível'. Também era a primeira vez que estava a ser paga, era pouco, claro, mas foi aí que pensei que dava para fazer isto como profissão.

- A Sofia atinge esse primeiro patamar e depois qual é o pensamento? É preciso continuar nesse nível...

- Quando somos mais novos, jogamos futebol pelo prazer, mas se tivermos de escolher entre o futebol e outra coisa qualquer, talvez optamos por outra coisa qualquer... Mas para mim o futebol sempre foi prioridade. Escolher entre uma festa de anos e ir a um jogo ou a um treino? Nem sequer havia essa questão. Naquela idade pensava futebol 24 horas por dia.

- Acaba por entrar neste mundo numa fase de completa mudança no feminino. Ao contrário do que acontecia no passado, em que as jogadoras entravam com 13-14 anos para uma equipa sénior, a Sofia já teve a oportunidade de passar por equipas de formação 100% femininas.

- Posso dizer que fui uma sortuda. Mal saí do Vilaverdense, estive na equipa B do SC Braga e depois acabei por subir para a equipa A muito cedo, mas isso ainda eram algumas dores de crescimento por falta de crescimento na formação. Nos meus 14-15 anos se não estivéssemos numa equipa profissional, podíamos não ter tanta competitividade, mas também ainda não estávamos preparadas para ser peças fundamentais numa equipa sénior. Psicologicamente é difícil e algumas jogadoras acabam por perder-se aí. Hoje já não acontece, porque a formação está a melhorar bastante.

Sofia Silva assinou contrato de dois anos com o Valência
Sofia Silva assinou contrato de dois anos com o ValênciaArquivo Pessoal

"Estive parada 18 meses, foi um processo doloroso..."

- O SC Braga abriu-lhe a porta da Liga, mas também foi onde passou uma das piores fases da sua carreira, devido a uma lesão grave num dos joelhos. Como descreve esse período?

- Consegui afirmar-me e ganhei o meu espaço na equipa B e depois integrei a equipa A. Foi um salto grande, mas tínhamos um grupo incrível e começamos a época a ganhar títulos. Tive muita sorte com o grupo, treinador e tudo o que envolvia o clube. Foram anos incríveis, mas veio a lesão e foi, sem dúvida, o momento mais baixo da minha carreira, mesmo a nível pessoal... Difícil. Não só pela lesão, mas pela forma como tudo se desenvolveu.

- A Sofia ainda tinha 18 anos. Como foi viver tudo isso tão jovem?

- Acho que foi um conjunto de coisas que fez com que a lesão fosse pior do que já era. Era o meu último ano de contrato e ia ficar a época toda sem jogar, por isso era normal pensar no futuro. Isso trouxe-me preocupações. Para explicar muito por alto o que aconteceu, eu lesionei-me, mas não tive os sintomas de rotura do ligamento cruzado (LCA). Andámos no vai e não vai, sempre num impasse...

Os próximos jogos do Valência
Os próximos jogos do ValênciaFlashscore

- Estamos a falar em quanto tempo até ter esse diagnóstico?

- Dois meses, à volta disso... Olho para trás e... Psicologicamente, foi difícil. Parei 18 meses... Muito tempo. Se as coisas não têm acontecido da forma como aconteceram, poderia ter voltado mais cedo. Posos dizer que foi um desafio muito grande na minha carreira.

- Foi fácil dar a volta por cima?

- Inicialmente, não dei a volta por cima. Como as coisas não correram bem, sempre tive uma frustração à mistura e acho que só agora é que estou a largar e a deixar isso para trás. Há pessoas que dizem que uma semana é pouco, mas para um atleta não treinar uma semana já afeta muito. Imaginem 18 meses. (...) Vir para o Valência foi como começar de novo. Agora posso dizer que estou a conseguir superar a 200%.

- Infelizmente, o feminino ainda está um pouco aquém do masculino na identificação e tratamento de algumas lesões. 18 meses é mesmo muito tempo, sobretudo numa fase tão precoce e vital na carreira de uma jogadora...

- As minhas colegas dizem-me que eu sou muito nova, mas eu sinto que desde os meus 19 anos não fiz nada de jeito na vida. Foi basicamente o tempo que estive lesionada. Olhando para trás não foram os melhores anos da minha vida, nem de perto nem de longe, mas foi um processo doloroso que me fez crescer muito. 

Claro que gostava que tivesse sido de outra maneira, mas trouxe-me também coisas boas para a minha vida. Trouxe-me a oportunidade de ir para o Sporting e isso fez muita diferença na minha carreira. Apesar de ter estado apenas uma ano e pouco, posso dizer que foi uma experiência que me enriqueceu bastante.

- Sente que se estivesse noutro nível do ponto de vista físico, as coisas poderiam ter sido diferentes no Sporting?

- A verdade é que a lesão trouxe coisas boas e quero acreditar que essa foi uma delas. Se não me tivesse lesionado, acredito que talvez continuasse no Braga mais tempo e não tinha a oportunidade de ir para o Sporting. Foi um azar que trouxe uma coisa boa.

Sofia Silva recuperou a confiança no Marítimo
Sofia Silva recuperou a confiança no MarítimoCS Marítimo

- Acaba por ir para o Marítimo, por empréstimo do Sporting, onde começa a ter a oportunidade de jogar de forma regular. Que importância teve para si esta mudança?

- Como é óbvio, é completamente diferente jogar no SC Braga ou no Marítimo. Quando jogava no SC Braga, a expectativa era ganhar todos os jogos. Já no Marítimo, sendo realista, lembro-me de que quando jogamos contra o Benfica, eles tinham acabado de empatar com o Barcelona, a melhor equipa do mundo. Vamos ser realistas, eram contextos diferentes. Mas eu precisava disso - precisava jogar e de competitividade. No Sporting, eu não teria esse espaço, por todos os motivos e mais alguns. Vinha de uma lesão e não tinha confiança para me afirmar no Sporting. Se a treinadora me desse a oportunidade de jogar uma final, tenho a certeza de que não estaria preparada, psicologicamente falando. Ir para o Marítimo foi uma forma de aliviar a pressão que eu colocava em mim mesma, crescer, ganhar ritmo e confiança. Foi fundamental.

- Sentia-se uma Sofia completamente diferente no final dessa época (2023/24)?

- Sim, com mais confiança e mais preparada para jogar.

- Ou seja, se a chamassem agora para jogar a tal final já se se sentia mais confiante? 

- Sim, muito diferente. Neste momento, se tivesse de jogar uma final, sentiria-me capaz. Olho para trás e vejo que, há uns meses, eu era uma Sofia completamente diferente. Estava realmente mal a todos os níveis por causa da lesão.

Dou sempre o exemplo do meu irmão, que infelizmente deixou de jogar. Ele era central e jogava no SC Braga. Teve uma infelicidade, a oportunidade não surgiu e ele teve dificuldade em sair por cima. Teve colegas que não tiveram nem metade das oportunidades que ele teve e conseguiram dar a volta por cima. Hoje, o meu irmão não joga, enquanto muitos desses colegas estão a jogar no alto nível. O Costinha (Olympiacos), por exemplo, jogou com meu irmão e foi dispensado. Ou seja, ele destacou que as dificuldades tornam-nos mais fortes e precisamos de passar por elas para nos tornarmos melhores.

Sofia Silva (à direita) acompanhada pela empresária Raquel Sampaio
Sofia Silva (à direita) acompanhada pela empresária Raquel SampaioArquivo Pessoal

"Valência? Nem pensei duas vezes"

- Depois de tudo o que passou, aqui está a Sofia no Valência. Como recebeu o convite?

- Foi imediato. Sendo muito honesta, a minha empresária, quando falou comigo, disse: 'Pensa, mas na minha opinião, não há muito o que pensar'. E realmente não havia. É uma liga muito boa, um país incrível e uma equipa que me oferece todas as condições para melhorar. Foi um choque de realidades a todos os níveis - treino, condições, tudo. (...) Aceitei no próprio dia, nem pensei duas vezes.

- Ao encontro do que esperava ou ainda melhor?

- Houve coisas que foram ainda melhores. Só pelo facto de treinar todos os dias num relvado maravilhoso. As pessoas podem achar banal, mas faz toda a diferença, até para o meu joelho. Eu superei a lesão, mas é algo que preciso continuar a cuidar. E é completamente diferente treinar num sintético ou num relvado.

- Como foi recebida pelas colegas?

- A nossa equipa tem um balneário muito diferente. Chegaram muitas jogadoras novas, e o treinador também é novo. Criamos boas ligações e temos um grupo interessante, considerando que nos conhecemos há apenas um mês. Todas receberam-me muito bem, disso não posso queixar-me, mesmo tendo alguma dificuldade em falar espanhol (risos).

Sofia Silva abraçou novo desafio na Liga F
Sofia Silva abraçou novo desafio na Liga FValência CF/Opta by Stats Perform

- Do pouco que terá dado para perceber, as diferenças são grandes para Portugal?

- Algumas coisas, sim. Portugal já foi pior, mas está a melhorar. Não posso me queixar muito da experiência no SC Braga ou no Sporting. No que diz respeito às pessoas para ajudar, não sinto muita diferença para SC Braga e Sporting. A maior diferença está nas outras equipas, que não têm tantos recursos. Aqui, mesmo os clubes do fim da tabela têm muitas condições, e a competitividade é muito diferente. Já jogamos contra equipas da segunda liga, e pensei que facilmente estariam entre as 5-6 melhores da liga em Portugal.

- A época inicia já no próximo fim de semana. Como está a correr a preparação?

- Temos um plantel praticamente novo, já que muitas jogadoras saíram, e estamos a apalpar terreno. Estamos focadas no trabalho que temos de fazer e nas ideias do treinador. Estamos a tentar assimilar tudo para que todas remem na mesma direção. Há muita informação para reter. As pessoas acham que o futebol é só chutar a bola para frente e correr atrás dela, mas, felizmente, já não é assim. Estamos focadas no que podemos fazer. Sabemos que não vamos ganhar todos os jogos, mas estamos a melhorar para dar o nosso máximo todos os dias. É isso que nos pedem.

- E como é a atmosfera no clube? Sente que se preocupam com o feminino?

- Temos adeptos à nossa espera no final do treino. Eu saio e encontro pessoas a virem pedir autógrafos. Posso dar um exemplo: há uns dias, saí com um jogador da equipa masculina do Valência, e um adepto veio na minha direção. Eu pensei: 'É para mim ou para ele?' (risos) Se eu fosse jogadora do Benfica, Sporting ou SC Braga e estivesse a sair da academia com um jogador, tenho certeza de que ninguém olharia para mim. Fiquei muito contente e pensei: 'Uau, sabem quem somos'.

Sofia Silva num particular do Valência
Sofia Silva num particular do ValênciaValencia CF

"Fico muito contente por ver mais jogadoras portuguesas a virem para Espanha"

- Como se sente para iniciar esta nova etapa na sua carreira? Ansiosa? Confiante?

- Tive aquele nervosismo inicial, que faz parte. Entretanto, já passou e acredito que vou sentir um nervosismo positivo. Estou um bocadinho ansiosa porque quero muito que chegue a hora de jogar. Sinto-me muito, muito motivada. No passado, eu agarrava-me muito ao negativo; agora, tem sido completamente o contrário. Estou muito contente por estar aqui. Foi uma oportunidade que eu não estava à espera e, tendo em conta tudo, essa oportunidade foi muito bem-vinda. Vou agarrá-la com todas as forças.

- Vai encontrar alguns nomes fortes pela frente: Alba Redondo e Linda Caicedo (Real Madrid), Gio (Atlético Madrid), Pajor (Barcelona) e tantas outras. Preparada?

- É engraçado mencionares algumas jogadoras, mas não falaste de uma que eu gosto bastante, que é a Mapi (Léon), a central do Barcelona. No ano passado, lembro-me de estar no Marítimo, fazer scroll no Instagram, e apareceu a Mapi. Eu pensei: 'Que incrível, são mesmo jogadoras de outro mundo e seria incrível alcançar aquele nível um dia. Eu vou jogar contra a Mapi'. Não pensei que isso fosse acontecer, e estou muito ansiosa para que aconteça. Espero que ela jogue contra nós. Competir contra essas jogadoras traz uma motivação diferente.

As equipas que vão participar na Liga F
As equipas que vão participar na Liga FFlashscore

- A Liga F conta também com várias portuguesas este ano: Inês Pereira (Deportivo), Andreia Jacinto (Real Sociedad), Tatiana Pinto (Atlético Madrid), Diana Gomes (Sevilha), Kika Nazareth (Barcelona)...

- Fico muito contente por ver mais jogadoras portuguesas a virem para cá. Acho que Portugal tem jogadoras com qualidade suficiente para competir numa liga tão exigente como a espanhola. Vai ser bom reencontrá-las. Lembro-me de jogar com a Kika e a Andreia na Seleção. Ver a trajetória delas é inspirador; a Andreia foi para a Real e afirmou-se de forma brilhante, enquanto a Kika está na melhor equipa do mundo, que pagou um balúrdio por ela. Ver essas jogadoras a alcançarem os seus objetivos é uma motivação extra para mim. Se elas conseguiram, eu consigo, a jogadora portuguesa consegue.

Nós próprias acabamos por desvalorizar-nos um pouco e achamos que o futebol em Portugal não está tão evoluído, mas estamos a trabalhar para isso e só depende de nós.

- O que seria uma boa época em termos coletivos para o Valência? E do ponto de vista individual?

- A nível individual, o meu objetivo é crescer enquanto jogadora e absorver ao máximo as coisas boas. Quero estar disponível para competir e dar o meu melhor todos os dias. A nível coletivo, os últimos anos foram um pouco difíceis para o clube e eu quero garantir a manutenção o mais rápido possível. No ano passado, a equipa sofreu um pouco, e o que discutimos em conversas mais informais foi que não queremos passar por isso novamente. Temos um objetivo um pouco mais ambicioso e precisamos trabalhar para alcançá-lo. Os nossos adeptos podem ficar tranquilos, pois faremos uma boa época.

- Já está a contar os dias para a primeira jornada?

- Mentalmente, estamos mais do que prontas, apenas faltam alguns ajustes. Estou a contar os dias e os segundos!

- Espanha habituou-nos nos últimos anos a ter estádios com muitos adeptos. Preparada para essa exigência?

- Se tiver a sorte de ter o estádio cheio, espero que seja em nossa casa. No ano passado, elas jogaram um jogo no Mestalla. No primeiro dia, mostraram o estádio e falamos sobre isso. Seria um sonho. Talvez eu ficasse mais nervosa, mas no bom sentido; ter a nossa casa cheia seria incrível. Só me aconteceu algo semelhante há dois anos no Sporting, quando jogamos frente ao Benfica no Estádio da Luz; não conseguia ouvir nada do lado. Dá uma adrenalina completamente diferente.

Sofia Silva em ação com a camisola do Valência
Sofia Silva em ação com a camisola do ValênciaValencia CF

"Os momentos maus não definem aquilo que nós somos"

- O foco está naturalmente no clube, mas e a Seleção? É um objetivo?

- Não vou dizer que não é algo em que penso. Toda a gente sonha em vestir a camisola de Portugal; é sempre incrível. Mas não trabalho todos os dias a pensar nisso. A seleção é um bónus que vem como resultado do que fazemos diariamente. Ou seja, trabalhamos para o clube, e a seleção surge como consequência. O trabalho no clube é o mais importante neste momento, e se eu der o meu melhor todos os dias, estarei mais perto de alcançar esse objetivo. Estou muito focada em mim mesma e essa é a mentalidade certa. Tenho de trabalhar para estar ao nível das melhores.

- Mas é uma camisola diferente...

- Diferente e pesa mais um bocadinho (risos). Mas se tiver de ser vai ser.

- Imagine que apanha um adepto no final do treino que está a passar por um momento semelhante aquele que a Sofia passou. Que mensagem é que lhe passava? 

- Temos de focar nas pequenas vitórias diárias, no que podemos fazer para melhorar e no que está ao nosso alcance. Se nos concentrarmos no que não podemos controlar, como aconteceu comigo, acabamos por sentir frustração com coisas que não têm solução.

Uma das coisas que fez muita diferença e que quero levar para o resto da minha vida e carreira foi o acompanhamento pessoal que tive com a minha psicóloga; foi fundamental. Foi o principal motivo pelo qual consegui seguir em frente. Também foi importante estar rodeada das pessoas certas - família, amigos e empresária - que me ajudaram bastante. Mesmo nos momentos mais difíceis, não desistiram de mim. Quando algo está mal ou estamos a passar por um momento mau, não devemos ter vergonha de admitir. É completamente normal. Os momentos difíceis não definem quem somos, mas sim a forma como reagimos. Não há problema em admitir que estamos mal e precisamos de ajuda. Pedir ajuda, neste momento, é um ato de coragem, não de fraqueza. O que mais me orgulha é não ter tido vergonha e não ter medo de pedir ajuda. Precisei, preciso e vou precisar para sempre, e a minha psicóloga estará sempre comigo.

-Como é que a família está a viver este seu momento?

- Falei dos meus amigos, da psicóloga e da empresária, mas os meus pais são os principais. A minha mãe é mais emotiva, enquanto o meu pai é mais racional. Ele ajudou-me muito durante a recuperação, ao fazer esforços pessoais e económicos para garantir a melhor recuperação possível. No feminino não se recebem valores altos, e o meu pai fez muito para que que não me faltasse a nada, principalmente financeiramente, e acho que isso é fundamental.

A minha mãe, mais emotiva, ficou contente, mas depois sentiu saudades. Mas também já estive na Madeira e em Lisboa, e aceitou que é assim que tem que ser. Eu gostaria de ter o melhor clube do mundo ao lado de casa, mas não pode ser, e temos de aceitar. Tenho saudades todos os dias, mas eles estão sempre presentes e felizes por mim, pois sabem o quanto eu queria isto. Os pais ficam felizes quando os filhos estão felizes, e eu estou muito feliz. Ela liga todos os dias para perguntar como foi o treino e se estou a gostar. Sei que, quando houver um jogo perto da fronteira, eles estarão na bancada. Ela tem dificuldade em andar de avião, mas vamos trabalhar nisso.

- Por fim, o que gostaria que dissessem sobre a Sofia Silva no final da época?

- Espero que queiram que a Sofia continue no Valencia, que gostem dela e que vejam que ela é uma jogadora que veio para ajudar. Que reconheçam que ela é empenhada e que, dentro de campo, honra a camisola. No fundo, que percebam que é importante para ajudar o clube.