Hélio Varela: "Senti que era o passo certo a dar na minha carreira"
"Estou numa liga com muita qualidade"
- Como está a ser a adaptação ao novo clube?
- Tem sido uma boa adaptação, tendo em conta que é a primeira vez fora de Portugal. Ainda é tudo novo: língua, clube, país. Mas tenho tentado fazer com que não sinta tanto a diferença.
- O que é diferente?
- O país é diferente, assim como o futebol; o campeonato é distinto. Já jogava numa grande equipa, o Portimonense, mas tive a sorte de transferir-me para outra grande equipa. Tenho tentado fazer com que a diferença não seja sentida de forma tão intensa.
- Que dimensão tem o Gent?
- Tem uma dimensão a nível mundial, habituou-se a jogar competições europeias e é um clube de grande renome, daí a responsabilidade de vestir esta camisola ser enorme. O campeonato português tem muita qualidade, penso que seja um dos melhores do mundo, mas estou numa liga com muita qualidade também.
- Como foi o processo de saída do Portimonense?
- Não foi surpresa, porque já se especulava um pouco o que podia acontecer, mas eu não estava a pensar muito nisso. Tinha a cabeça no Portimonense, mesmo na Liga 2, a minha atenção estava no clube. Sempre me senti bem lá, por isso, na altura da pré-época, mesmo com toda a expectativa, não me deixei levar pelas notícias e tentei focar-me no clube. Se ficasse, iria ajudar o clube a alcançar o lugar que merece, que é a Liga.
- Acabou por ser uma transferência importante para si e para o Portimonense.
- Sim, foi importante para mim. Todos os jogadores que trabalham buscam sempre uma melhoria na sua vida e dar um salto em frente nas suas carreiras. Senti que era o passo certo a dar na minha carreira.
"Portimonense tem todas as condições para voltar à Liga"
- Acredita que o Portimonense pode regressar este ano à Liga?
- Penso que sim, não começámos a época da melhor maneira possível, e digo comecámos porque iniciei a época lá. Demorou um pouco a interiorizar a descida de divisão, mas nestes últimos jogos o Portimonense apresentou claras melhorias com o novo treinador (Ricardo Pessoa), que é uma referência no clube, por tudo o que fez enquanto jogador. Com todo o suporte e com este plantel, o Portimonense tem todas as condições para voltar o mais rapidamente possível à Liga.
- O Hélio tem uma carreira sempre a subir... Até onde quer ir?
- Tento não planear a minha carreira a longo prazo. Foco-me em melhorar o meu futebol e deixo as coisas acontecerem naturalmente. Penso sempre no dia a dia, semana a semana e época a época. Estou muito feliz por estar no Gent.
- Se voltasse a Portugal, gostaria de jogar num dos grandes?
- Neste momento, gostaria de continuar a minha carreira fora do país, mas, voltando um dia a Portugal, gostaria de vestir a camisola do Portimonense outra vez. Para onde quer que vá, o Portimonense será sempre a minha casa.
- Falando da seleção de Cabo Verde. Como está a sua integração e qual o objetivo nesta fase de qualificação para o CAN?
- Temos um grupo muito forte, todos remam para o mesmo lado. Está nas nossas mãos atingir o objetivo principal, que é garantir a entrada direta para a CAN.
- Sente que a seleção já é vista com outros olhos no âmbito do futebol africano?
- Sim, por tudo o que foi feito até aqui, já começa a ser vista como uma boa seleção, mas depois do que se fez na CAN, muitas atenções se voltaram para a seleção de Cabo Verde. Tem condições para ser ainda mais reconhecida.
- Vencer o CAN é um sonho possível?
- Sim, acho que qualquer jogador cabo-verdiano tem o sonho de ganhar troféus por Cabo Verde. Já é um grande orgulho e um grande troféu termos a oportunidade de vestir a camisola, seja em que competição for, mas ganhar a CAN pela seleção seria maravilhoso.
- O Hélio é luso-cabo-verdiano. Ou seja, tinha a possibilidade de jogar por Portugal. Porque optou pela seleção de Cabo-Verde?
- Quem me conhece sabe da minha paixão por Cabo Verde. Apesar de não ter nascido lá, desde pequeno sempre coloquei na minha cabeça que o meu objetivo era jogar na seleção de Cabo Verde, e foi uma decisão que não pensei duas vezes.
"Os meus sonhos passam por conseguir ajudar a minha família"
- Como vê a seleção portuguesa?
- A seleção de Portugal não precisa de apresentações, é muito forte, uma das melhores do mundo. Basta ver todas as suas convocatórias e os campeonatos onde jogam. No futuro, irá continuar assim; está a surgir uma geração muito forte. Tem tudo para dar continuidade ao bom trabalho que tem feito até aqui.
- Falta um título mundial...
- Penso que sim. A nível internacional, as competições estão a ser cada vez mais disputadas, tanto a CAN como as Copas Américas e Mundiais, mas Portugal tem capacidade para juntar o Mundial aos seus títulos.
- Este tem sido um tema muito falado. Qual a sua opinião sobre a sobrecarga de jogos para os atletas?
- É uma situação complicada. É claro que sentimos isso mais, pois são muitos jogos e queremos estar bem em todos, e muitas vezes corremos o risco de lesões. A pior coisa que pode acontecer é ficar parado por causa de lesões. Temos de saber lidar com isso e tentar encarar da melhor maneira possível.
- Como é que o Hélio se descreve?
- Destaco-me como uma pessoa alegre; tento levar as coisas da melhor maneira possível. Nem sempre estão bem dentro e fora de campo, mas o futebol ajuda-nos mais do que as pessoas pensam. Não é uma profissão fácil, mas tem coisas muito boas, e é um privilégio entrar em campo.
- Consegue expressar essa alegria no futebol?
- Penso que sim. Sempre tentei mostrar a minha alegria e demonstrar isso aos meus colegas de equipa e do clube. Acredito que tenho conseguido expressar essa minha alegria.
- Para terminar: que sonhos ainda tem?
- Os meus sonhos passam por conseguir ajudar a minha família e os que me são próximos. No futebol, o objetivo é continuar a dar passos como os que já dei até aqui. Não penso em passos muito longos, mas sim em passos seguros e sustentados, para um dia mais tarde ter a minha própria família construída.