Jorge Jesus volta ao modo rolo compressor: Al Hilal faz história até sem a grande estrela
A expressão "rolo compressor" tornou-se famosa com Jorge Jesus, treinador que tem por hábito cravar novas palavras no léxico dos portugueses, desde o "levaste com um pau?" aos "peaners (peanuts)", sem esquecer o famoso Ferrari.
A última passagem do técnico por Portugal foi rica em novo vocabulário, mas não deu bons resultados para o lado de Jesus, que deixou o Benfica ainda antes do Natal.
Depois disso, o treinador foi tema de conversa no Flamengo, para mal dos pecados de Paulo Sousa, mas acabou mesmo por regressar à Arábia Saudita para treinar o Al Hilal e reencontrar os adeptos que tanto o amavam.
"I love you, Jesus"
Em entrevistas passadas, Jesus retribuiu a paixão dos adeptos sauditas, mas também precisou de uns quantos milhões que o convencessem a liderar um projeto ambicioso numa época marcante para o futebol do país e para o futebol internacional, que também sentiu o impacto do dinheiro saudita.
A poucos dias de completar 69 anos, Jorge Jesus aceitou a proposta do Al Hilal e regressou mesmo. Na Arábia Saudita, o português encontrou um novo desafio, mas também outras condições.
O primeiro passo foi dispensar Moussa Marega e uma apresentação à JJ: "I speak in português". Mas assim que o Al Hilal começou a mexer com o mercado, tudo mudou.
341 milhões de euros foram suficientes para comprar nomes como Bono, Koulibaly e Milinkovic-Savic, mas, principalmente, craques como Malcom, Rúben Neves, Mitrovic e, por fim, Neymar.
90 milhões de euros levaram o craque brasileiro para o Al Hilal, que, tal como outros três conjuntos da Arábia Saudita, tinha um poço sem fundo para o investimento (ou um fundo sem limites, se preferir).
Assim, tudo ficou mais fácil.
Inspiração depois da desilusão
Apesar dos nomes e dos números apresentados nos parágrafos anteriores, não se pode dizer que a vida de Jorge Jesus na Arábia Saudita tenha sido assim tão facilitada. Afinal, o técnico português tem mérito neste trabalho, que já pode ser considerado histórico, depois do 18.º triunfo consecutivo.
O regresso à Arábia Saudita foi tremido, com derrotas na Champions Cup, que antecedeu o campeonato, uma delas na final, frente ao Al Nassr de Luís Castro, o rival do Al Hilal na luta pelo título. Um bis de Cristiano Ronaldo foi suficiente para fazer ajoelhar Jorge Jesus, que ainda não contava com Neymar... e praticamente nunca contou.
O primeiro jogo do craque brasileiro aconteceu apenas na sexta jornada, na receção ao Al-Riyadh (6-1), mas é aqui que está um dos méritos de Jorge Jesus. Contratado para ser a grande estrela do clube, Neymar lesionou-se para o resto da época ao serviço da seleção e Jorge Jesus ficou sem o jogador mais importante do mercado de transferências.
Felizmente para o técnico, o Al Hilal contratou muito e bem. Mitrovic assumiu o papel de estrela - 23 golos em 24 jogos - e, tal como o Al Hilal, tem vindo a passear na Arábia Saudita.
Depois daquela derrota com o Al Nassr, a equipa de Jorge Jesus não voltou a sentir o amargo sabor dos desaires e só empatou por duas vezes.
Ao fim de uma volta, o Al Hilal lidera o campeonato de forma destacada, com mais 10 pontos do que o Al Nassr (a equipa de Ronaldo tem menos um jogo), mas além do 1.º lugar há outros registos que impressionam.
26 jogos sem perder, 18 vitórias seguidas e apenas três golos sofridos nesses 18 encontros. Assim, os adeptos do Al Hilal têm mesmo motivos para dizer: "I love you, Jesus".