Luís Castro diz que a “emergente” Liga saudita não irá "passar despercebida”
Num debate da cimeira Thinking Football Summit, o treinador português, que saiu do Botafogo em julho, numa altura em que o clube era já líder do Brasileirão, explicou o que o levou a procurar a mudança a meio de uma temporada que estava bem encaminhada no plano desportivo.
“Senti que tinha desempenhado o papel no Brasil que me tinha levado lá, erguer um Botafogo que tinha vindo da segunda divisão e que precisava que fizessem alguma coisa por ele, dando-lhe visibilidade, o que estava feito. Aproveitei a oportunidade na Liga emergente que se quer posicionar no futebol mundial. Uma Liga que tem Cristiano Ronaldo, Mendy, Mahrez, Milinkovic-Savic, Mitrovic, Otávio, o Rúben Neves, o Fábio Martins… Não pode continuar a passar despercebida”, explicou.
Castro acredita que é notória a diferença de qualidade do jogador saudita, perante a presença de referências do futebol mundial, e que as contratações da Europa não encaram o campeonato como uma competição de pré-reforma e mantém um elevado ritmo.
“Eu quero crescer para igualar em termos de conhecimento quem está acima, é essa a natureza humana. Os que vêm da Europa têm de ser as referências. Noto um grande crescimento dos jogadores sauditas e não vejo um grande decréscimo dos que vêm da Europa, o Brozovic está a fazer os 13,5 quilómetros por jogo que fazia com 40º ou 45º Celsius”, explicou.
Tanto o treinador de Cristiano Ronaldo e Otávio, como Pedro Emanuel e Fábio Martins, técnico e jogador do Al Khaleej, colegas de painel do evento que decorre no Palácio de Cristal até hoje, no Porto, elogiaram “a mentalidade e paixão” do adepto saudita como agente de mudança, para além do forte investimento financeiro.
“Os adeptos são extremamente afáveis. Fui ver um jogo do Al-Ittihad, o rival da nossa cidade, no meio dos adeptos deles, que queriam tirar fotos e estavam contentes por estarmos ali, como se fosse uma coisa perfeitamente normal. Aqui, ainda se vai manter a forma de viver apaixonada que os adeptos têm”, contou Pedro Emanuel, que treina no país há cinco anos.
Numa altura em que o debate sobre o clima de crispação no futebol luso, e pelas comparações recentemente estabelecidas por Cristiano Ronaldo, Luís Castro sublinhou o exemplo da postura dos árabes perante o desporto, naquela que poderá ter sido também uma alusão à situação portuguesa.
“Não é paixão como, às vezes, vejo. Muitas vezes, vejo paixão aos pontapés. No futebol, há uma coisa fundamental, uma que é determinante: o respeito pelo árbitro, pelo adversário, pelo colega treinador, pela imprensa. Sem respeito, que futebol queremos fazer progredir? Queremos saber do nosso clube e mais ninguém. Há que ter coragem para ter respeito e fazer progredir em determinados países”, frisou.
O extremo Fábio Martins, que ingressou pela primeira vez na Arábia Saudita em 2020/21, sente uma grande evolução ao nível da competitividade e considera que este será um “ano zero” para a liga, em virtude das aquisições sonantes realizadas, e rejeitou a ideia de que o campeonato asiático permite aos jogadores terem menos competitividade.
"Disse várias vezes que, quando vim para cá, não vim sentado num monte de dinheiro. Vim para fazer o meu trabalho, ter a mesma exigência e tentar melhorar todos os dias. Antigamente, as pessoas pensavam mais que os jogadores vinham para cá para se reformar, mas hoje a mentalidade já é diferente. Vimos agora por exemplo o Al-Ahli a contratar o Gabri Veiga, com 21 anos”, constatou.