Do Obelisco ao Vesúvio, a influência da "Mano de Dios" post mortem
"Não é verdade, mas eu acredito", terá exclamado Eduardo De Filippo. O célebre dramaturgo napolitano, que tal como o seu amigo e ilustre conterrâneo Totò não conseguiu viver o mito de Diego Armando Maradona, fornece a melhor das máximas para descrever o momento que a cidade de Nápoles está a viver. Mas não é só isso. Porque o fio vermelho quase invisível que liga a urbe das encostas do Vesúvio a Buenos Aires, um fio traçado pela lenda do futebol argentino, é agora mais percetível do que nunca.
Desde o penalti marcado por Gonzalo Montiel na final contra a França, a 18 de dezembro de 2022, até ao golo de Giacomo Raspadori em Turim, no domingo, 23 de Abril, passaram-se cinco meses em que a aura de Pelusa "abençoou" os jogadores da Argentina e do Nápoles, as duas metades do coração de Diego, que, após a sua despedida do mundo, voltou a ser decisivo. Desta vez, do outro lado.
Um obelisco em comemoração
Os portenhos que espalharam a sua alegria por todos os cantos da cidade após a conquista do tricampeonato mundial não se esqueceram da ajuda recebida lá do alto dos céus. Porque, mesmo antes do início da competição planetária, o entusiasmo era infinito, e a presença de Diego era sentida como a do clássico deus ex machina, capaz de atuar de forma decisiva. A equipa, que vinha da conquista da Copa América, estava unida em intenções e propósitos, e a presença de Lionel Messi como o dioscuro dava esperança de vitória.
No entanto, seja pela influência da cultura popular de origem itálica ou pela natureza tribal dos gaúchos, todos na Argentina esperavam a influência de Diez. Falecido em novembro de 2020, do além-túmulo Maradona havia levado a Albiceleste ao triunfo no Maracanã, e era a grande figura celestial a quem eram dirigidas as preces de todo um país. O talento de Messi e a solidez de uma equipa compacta não eram suficientes: era necessária a mão de D10S, desta vez metafísica. E assim foi. A intervenção de Emiliano Martinez para travar Kolo Muani, impedindo o 3-4 da França no último segundo, também foi conseguida com a sua mão esquerda, o próprio pé de Diego. A sublimação do tão desejado milagre.
O Vesúvio em erupção
Depois da vitória da Argentina no Campeonato do Mundo, até em Nápoles se começou a pensar que a ajuda de Diez vinda de cima poderia continuar até ao verão do norte, depois de ter banhado de felicidade o do sul. A cavalgada da equipa de Luciano Spalletti assemelhava-se um pouco à dos rapazes de Lionel Scaloni, com todas as distâncias a percorrer em função do tipo de competição e do material humano disponível. Em comum, os dois treinadores têm as iniciais do primeiro e do último nome, e pouco mais, já que o toscano é técnico experiente e o santafesino um estreante vencedor.
O Nápoles, de facto, apesar da presença de jovens fenómenos como Osimhen e Kvaratskhelia, não tinha certamente uma estrela como Messi. Além disso, à sombra do Vesúvio, vencer não era certamente uma arte conhecida em primeira mão, enquanto a selecção argentina ainda tinha no sangue os glóbulos dos grandes representantes do futebol mundial.
Por isso, o que a aura de Diego fez pelo Nápoles é um verdadeiro milagre. Mais ainda do que em 1987 e 1990, quando estava em campo para fazer a diferença com a sua classe e carisma. Maradona, que foi uma força motriz absoluta em campo, criando uma equipa vencedora a partir do nada, já não está fisicamente entre nós.
No entanto, em Nápoles, assim como no Obelisco de Buenos Aires, todos acreditam que, a partir do hiperurânio, ele interveio para contribuir para a façanha. A façanha de um grupo humilde, sem figuras estratosféricas, que festeja agora como há 36 anos, quando Diego, como capitão da campeã do mundo Argentina, regressou a Nápoles para encarnar a sua segunda revolução em menos de um ano. Sob o signo de um inegável apelo histórico. Com o Vesúvio a liderar a erupção mais sentida.