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Manipulação e apostas marcam o ano no futebol brasileiro e mundial: os casos e as penas aplicadas

Josias Pereira
Alef Manga encontra-se fora do futebol, após suspensão por envolvimento em esquema de manipulação
Alef Manga encontra-se fora do futebol, após suspensão por envolvimento em esquema de manipulaçãoProfimedia
O ano finalizou em Brasília, com os deputados a aprovar o Projeto de Lei que regulamenta as apostas desportivas de quota fixa e os jogos online no país. A legislação traz esperança sobre o tema que em 2023 virou caso de Polícia, com o Ministério Público de Goiás a deflagrar a operação "Penalidade Máxima" e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva a punir jogadores de futebol pelo envolvimento num esquema de manipulação que manchou o desporto.

Segundo levantamento da empresa de análise de dados Similarweb, publicado no jornal O Globo, o Brasil superou o Reino Unido em acessos a plataformas de apostas desportivas no ano passado.

Entre janeiro e dezembro de 2022, a percentagem foi de 75% nos acessos a sites de jogos e apostas no país. No final do ano passado, um estudo da plataforma Futuros Possíveis apontou que um em cada três adultos que acompanham e praticam desporto no país já haviam realizado algum tipo de aposta online.

Uma febre que não se restringiu apenas a pessoas comuns. Chegou também aos jogadores de futebol. Os responsáveis pelo espetáculo colocaram em xeque a lisura do jogo.

Como funcionava o esquema

Romarinho, ex-jogador do Palmeiras, era um dos aliciadores de esquema de manipulação
Romarinho, ex-jogador do Palmeiras, era um dos aliciadores de esquema de manipulaçãoReprodução

O esquema tem como uma das peças Romário Hugo dos Santos, de 28 anos, conhecido como "Romarinho". Ex-jogador do Palmeiras, foi acusado pelo Ministério Público de Goiás de aliciar jogadores com ofertas que variavam entre 9500 e os 20 mil euros.

Os atletas previamente combinavam a execução de lances específicos durante os jogos, como receberem um cartão amarelo, um determinado número de faltas, número de cantos e até mesmo a derrota da própria equipa. Com os lances já arranjados, diversos apostadores faturavam milhões em vários sites de apostas do Brasil.

A cronologia da Operação Penalidade Máxima

O esquema foi denunciado por Hugo Jorge Bravo, presidente do Vila Nova-GO, que também é policial militar. Na época, o médio Romário, do próprio Vila Nova, aceitou uma oferta de quase 30 mil euros para cometer um penálti contra o Sport, em jogo da Série B do ano passado. 

O jogador recebeu um sinal de dois mil euros, e só teria os outros 28 mil após a partida, com o penálti cometido. O jogador recebeu ameaças e reportou o esquema. 

As investigações começaram em novembro do ano passado, mas a primeira fase foi levada a cabo a 14 de fevereiro deste ano. Na ocasião, a Polícia cumpriu mandados de busca e apreensão nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro. Uma prisão temporária foi feita pelas autoridades.

Já na segunda fase da Operação, o Ministério Público e os investigadores identificaram a influência do grupo criminoso em oito partidas da Série A do Campeonato Brasileiro de 2022. No total, 16 jogos receberam denúncias, com 23 fatos criminosos a serem identificados pelas autoridades. Sete jogadores de futebol e nove apostadores tornaram-se réus na investigação.

No dia 28 de novembro, a Operação Penalidade Máxima chegou à sua terceira fase. Foram cumpridos 10 mandados de busca a apreensão nas cidades de Goiânia, Bataguassu-MS, Campina Grande-PB, Nilópolis-RJ, Santana do Parnaíba-SP, São Paulo, Volta Redonda-RJ e Votuporanga-SP.

Os jogos investigados

Palmeiras x Juventude, na Série A do Brasileirão de 2022;

Juventude x Fortaleza, na Série A do Brasileirão de 2022;

Ceará x Cuiabá, na Série A do Brasileirão de 2022;

Sport x Operário, na Série B do Brasileirão de 2022;

Santos x Avaí, na Série A do Brasileirão de 2022;

Goiás x Juventude, na Série A do Brasileirão de 2022;

Bragantino x América-MG, na Série A do Brasileirão de 2022;

Criciúma x Tombense, na Série B do Brasileirão de 2022;

Sampaio Corrêa x Londrina, na Série B do Brasileirão de 2022;

Cuiabá x Palmeiras, na Série A do Brasileirão de 2022;

Vila Nova x Sport, na Série B do Brasileirão de 2022;

Botafogo x Santos, na Série A do Brasileirão de 2022;

Portuguesa x Red Bull Bragantino, no Campeonato Paulista de 2023;

Guarani x Portuguesa, no Campeonato Paulista de 2023;

Esportivo x Novo Hamburgo, no Campeonato Gaúcho de 2023;

Caxias x São Luiz, no Campeonato Gaúcho de 2023;

Avaí x Flamengo, na Série A do Brasileirão de 2022;

Náutico x Sampaio Corrêa, na Série B do Brasileirão de 2022;

Náutico x Criciúma, na Série B do Brasileirão de 2022;

Goiânia x Aparecidense, no Campeonato Goiano de 2023;

Goiás x Goiânia, no Campeonato Goiano de 2023;

Nacional x Auto Esporte, no Campeonato Paraibano de 2023;

Sousa x Auto Esporte, no Campeonato Paraibano de 2023.

Os jogadores investigados

Alef Manga teve seu contrato rescindido com o Coritiba
Alef Manga teve seu contrato rescindido com o CoritibaDivulgação/Coritiba

Allan Godói (central, Operário-PR) - Absolvido

Alef Manga (avançado, ex-Coritiba) - multa de 9500 euros e suspensão por 360 dias

André Luiz (médio, ex-Sampaio Corrêa) - multa de 9500 euros e suspensão por 600 dias

Bryan Garcia (médio, ex-Athletico-PR) - multa de 9500 euros e suspensão por 360 dias

Dadá Balmonte (médio, ex-jogador do América-MG) - multa de 12 mil euros e suspensão por 600 dias

Diego Porfírio (lateral-esquerdo, ex-Coritiba) - multa de 12 mil euros e banido da competição

Eduardo Bauermann foi um dos jogadores punidos pelo STJD
Eduardo Bauermann foi um dos jogadores punidos pelo STJDProfimedia

Eduardo Bauermann (central, ex-Santos) - multa de 6500 euros e suspensão por 360 dias

Fernando Neto (médio, São Bernardo) - multa de 2800 euros e suspensão por 360 dias

Gabriel Domingos (médio, Vila Nova) - multa de 15 mil euros e suspensão por 720 dias

Gabriel Tota (médio, Ypiranga-RS) - multa de 9500 euros e banido da competição

Igor Cariús (lateral-esquerdo, ex-Sport) - multa de 7500 euros e suspensão por 360 dias

Jesus Trindade (médio, ex-Coritiba) - Absolvido

Mateusinho (lateral-direito, ex-Cuiabá) - multa de 9500 euros e suspensão por 600 dias

Matheus Gomes (guarda-redes, sem clube) - multa de 2 mil euros e banido da competição

Nino Paraíba (lateral-direito, ex-Paysandu) - multa de 18 mil euros e suspensão por 720 dias

Lateral Pedrinho foi um dos absolvidos pelo STJD
Lateral Pedrinho foi um dos absolvidos pelo STJDAthletico-PR/Divulgação

Paulo Miranda (central, sem clube) - multa de 13 mil euros e suspensão por 720 dias

Paulo Sérgio (central, Operário) - multa de 9500 euros e suspensão por 600 dias

Pedrinho (lateral, ex-Athletico) - Absolvido

Romário (médio, ex-Vila Nova) - multa de 15 mil euros e banido do futebol

Sávio (lateral-esquerdo, ex-Goiás) - multa de 5500 euros e suspensão por 360 dias

Sidcley (lateral, ex-Cuiabá) - Absolvido

Thonny Anderson, hoje no ABC, foi apenas multado pelo STJD
Thonny Anderson, hoje no ABC, foi apenas multado pelo STJDProfimedia

Thonny Anderson (médio, ex-Coritiba) - multa de 7500 euros

Vitor Mendes (central, ex-Atlético-MG) - multa de 13 mil euros e suspensão por 720 dias

Ygor Catatau (avançado, ex-Sampaio Corrêa) - multa de 13 mil euros e banido da competição

Moraes - multa de 10 mil euros e suspensão por 720 dias

Kevin Lomónaco - multa de 4700 euros e suspensão por 360 dias

Casos também no exterior

Mas não foi só no Brasil que a "casa caiu" para os jogadores que se envolveram com manipulação de jogos. Em maio deste ano, o avançado inglês Ivan Toney, um dos destaques do Brentford, foi suspenso e multado em 58 mil euros após cometer 232 violações das regras da FA sobre apostas.

O jogador, que se declarou viciado em jogos de azar, teve a suspensão dos relvados reduzida para oito meses e encontra-se atualmente fora de qualquer atividade ligada ao futebol.

Em outubro de 2023, a manipulação chegou à concentração da seleção italiana, com Tonali, do Newcastle, e Nicolo Zaniolo, do Aston Villa, a serem procurados pela polícia italiana, em plena preparação da Azzurra, após serem citados num esquema de manipulação de resultados, que também tinha a participação de Nicolo Fagioli, médio da Juventus.

Tonali, reforço do Newcastle, foi suspenso do futebol por 10 meses, enquanto Fagioli recebeu pena de sete meses. Nicolo Zaniolo deverá receber uma punição mais branda, já que ficou provado que não apostou em jogos de futebol, mas apenas em poker e blackjack. 

Outro jogador que teve o seu nome ligado a um esquema de manipulação de resultados foi o brasileiro Lucas Paquetá. O caso continua a ser investigado pela FA e o médio continua em plena atividade pelo West Ham.

Apesar de nenhuma pena ter sido aplicada, a situação afetou a carreira do jogador, que era pretendido pelo Manchester City, emblema que recuou das negociações após a denúncia e avançou para o luso-brasileiro Matheus Nunes. Paquetá deixou igualmente de ser convocado para a seleção brasileira.