Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Opinião: A chegada de Depay ao Corinthians mostra um dos problemas do futebol brasileiro

Alex Xavier
Memphis com o ex-jogador e atual diretor corintiano Fabinho Soldado
Memphis com o ex-jogador e atual diretor corintiano Fabinho SoldadoCorinthians
Se por um lado a surpreendente contratação do atacante Memphis Depay pelo Corinthians confirma a força do Brasileirão, por outro a chegada do neerlandês mostra os problemas no futebol do país.

É verdade, o Brasileirão tem mais bala: Foi o oitavo campeonato que mais gastou na última janela de transferências em todo o mundo e aumentou os gastos em 179% quando comparado com a mesma janela de 2023, de acordo com o Observatório do Futebol (CIES).

Uma das principais explicações do fenómeno é a chegada do multi-club ownership ao país – principalmente com a compra do Bahia pelo Grupo City e do Botafogo pela holding de John Textor –, as vendas milionárias de jovens jogadores e a boa gestão financeira de clubes com enormes legiões de adeptos, como Flamengo e Palmeiras.

Depay (esq.) havia deixado o Atlético de Madrid antes de fechar com o Corinthians
Depay (esq.) havia deixado o Atlético de Madrid antes de fechar com o CorinthiansProfimedia

No entanto, Depay não é exatamente um peixe fora d'água, nem um fenómeno novo. Há 132 estrangeiros a atuar nos 20 clubes do Brasileirão no momento.

A maioria absoluta é de jogadores latino-americanos, mas há 8 europeus na liga, como o francês Dimitri Payet, do Vasco, o espanhol Héctor Hernández, do Corinthians, e o dinamarquês Martin Braithwaite, do Grémio (isto sem contar os brasileiros naturalizados, como o espanhol Diego Costa).

Nesta segunda-feira, o Vasco, que é administrado pela holding 777, anunciou o médio suíço Maxime Dominguez, de 28 anos, que estava no Gil Vicente, de Portugal.

Payet tem sofrido algumas lesões no Vasco
Payet tem sofrido algumas lesões no VascoVasco da Gama

Muito impacto, pouco futebol

Mas via de regra, os astros internacionais desembarcam no Brasil quando estão muito em baixa na carreira, à beira da reforma ou já não tem mais bom mercado na Europa, como o chileno Arturo Vidal, que não empolgou no Flamengo em 2022.

Há alguns casos históricos de sucesso, como a vinda de Clarence Seedorf ao Botafogo em 2012, que se aventurou no Rio logo após deixar o Milan. Ou do uruguaio Luisito Suárez, que brilhou no Grémio em 2023.

O holandês Seedorf com a camisa do Fogão
O holandês Seedorf com a camisa do FogãoSatiro Sodre/AGIF/Botafogo

Pouco antes da chegada de Depay e Payet, o São Paulo trouxe o colombiano James Rodríguez, ex-Real Madrid, em uma das mega contratações mediáticas recentes do futebol brasileiro. Assim como Willian – que trocou a Premier League pelo Corinthians, e já foi embora – James não vingou.

Memphis não foi contratado por nenhum grande europeu após terminar a ligação ao Atlético de Madrid. Mais impactante que a chegada do astro neerlandês foi a contratação do argentino Carlos Alcaraz, em agosto, que aos 21 anos trocou o Southampton pelo Flamengo.

Este é o limite real do Brasileirão: roubar um promissor médio de um time médio da Premier League. A nova contratação do Corinthians parece irresponsável, mas o Flamengo de fato hoje tem força e dinheiro para tal operação.

Fair-play financeiro

Se grande parte dos adeptos do Corinthians ficaram felizes, a investida em Memphis Depay recebeu muitas críticas da imprensa brasileira. O atacante deve custar cerca de 3 milhões de reais (485 mil euros) por mês a um clube que deve mais de 2 mil milhões de reais (cerca de 323 milhões de euros) e cujo presidente está a sofrer um processo de impeachment.

"Se não pagam salários de jogadores, como que este clube está a contratar novos atletas. A conta não fecha", disse a presidente Leila Pereira, do rival Palmeiras, no dia seguinte à notícia do acordo com Memphis.

O Corinthians deve dinheiro, inclusive, ao Cuiabá, no momento um adversário direto na luta contra a despromoção.

Não existe qualquer tipo de regra de fair play financeiro no Brasileirão. Não há transparência nos balanços, os clubes são autorizados para gastarem mais do que arrecadam e só precisam prestar contas internamente.

O que John Textor faz no Botafogo, por exemplo, ele não poderia fazer no Crystal Palace. Segundo o UOL, o emblema carioca gastou 100% da sua receita anual em contratações de novos atletas.

Um agravante no caso do Corinthians é que, além do momento financeiro e admistrativo complicado, o clube não tem um mecenas e o patrocinador máster – o site de apostas Esportes da Sorte – está a ser investigado por lavagem de dinheiro.

Em 2005, o clube paulista foi alvo de operação da Polícia Federal por conta dos investimentos da finada MSI, polémica empresa do empresário Kia Joorabchian. O conjunto foi campeão brasileiro com alguns astros internacionais, e na sequência entrou em colapso e caiu para a segunda divisão.

Se há animação pela chegada de Memphis a Itaquera, há também o medo de 2005. E ganha força no Brasil o clamor pela introdução de um fair play financeiro na Série A.