Entrevista Flashscore a João Carlos Teixeira: "O Klopp é muito parecido com o Sérgio Conceição"
"Fui bem acolhido em todo o lado"
- Nasceu na cidade de Braga, fez a formação no Sporting e passou por FC Porto, SC Braga, Vitória SC e Famalicão. Ou seja, já teve a possibilidade de representar emblemas de muitas e grandes equipas. Falta vestir alguma camisola no nosso país? Ou gostava de vestir algumas destas que já vestiu?
- Não é um desejo que tenho nesta fase da vida, mas, se surgir a oportunidade no futuro de vestir qualquer uma dessas camisolas, terei todo o gosto de voltar a fazê-lo.
- Todos os clubes são naturalmente marcantes, mas alguma fase que recorde com particular interesse dessa passagens em Portugal?
- Tive fases muito diferentes, principalmente no Sporting. Cresci muito lá. Depois no FC Porto, SC Braga, Famalicão e Vitória SC tive momentos que gostei muito e guardo boas memórias de todos eles. Apesar de no FC Porto ter jogado pouco, guardo boas memórias. Tínhamos um grupo fantástico e desfrutei muito, como no SC Braga e no Vitória SC. Também guardo boas memórias do Famalicão, apesar de ter sido um período mais curto. Fui bem acolhido em todo o lado.
- Chegou à China em abril de 2023 e já conquistou a Taça da China e 5.º lugar no campeonato. Como está a correr esta experiência? Nada arrependido?
- No início fiquei reticente quando recebi a proposta, porque ainda tinha contrato no Catar. Mas agora, olhando para trás, estou muito feliz e tem sido uma experiência muito positiva, tanto a nível de futebol como de vida. Xangai é uma cidade fantástica e a minha família também se adaptou muito bem. Sinceramente, não me custou muito a adaptação em termos de futebol e cultura.
- Partilha balneário com jogadores de várias nacionalidades, sendo a maioria de origem chinesa. Como é a ligação?
- A única dificuldade é mesmo a língua, mas eu tenho tradutor. São poucos os chineses que falam inglês e por vezes é difícil criar ligação porque precisamos muito do tradutor.
- O tradutor está presente durante os treinos?
- Sim. Basicamente, ele está ao meu lado, o treinador fala e ele traduz. Depois sai, o exercício começa, eu faço o que tenho a fazer e ele está sempre ali por perto para me transmitir aquilo que os treinadores pedem.
- E em jogo?
- Também temos tradutor no banco. Existe um tradutor no balneário, que te acompanha, fala sobre a equipa, o adversário e que está sempre ao meu lado. Depois duante o jogo temos um tradutor no banco se for preciso dar alguma indicação. Se bem que o treinador principal também falava inglês.
"Passei de 300 para 45 mil pessoas num estádio"
- O Shangai (Shenua) é um clube histórico com muitos adeptos. Como descreve a paixão dos adeptos?
- Estamos a falar de uma cidade com mais de 28 milhões de pessoas e é facil encher um estádio. Nós temos um estádio com 72 mil lugares, mas temos uma zona que está em obras, por isso normalmente temos sempre 40-45 mil pessoas. Mesmo fora, a maior parte dos estádios estão cheios.
- Ajuda ter a família por perto?
- Sim, claro. A família é a base de tudo. A minha esposa e os meus filhos vão sempre comigo. Obviamente é mais chato para a minha filha de cinco anos, que é o que mais me preocupa por causa da escola e amigos. Como passo muito tempo em casa, ter os meus filhos em casa é quase como trazer Portugal comigo.
- As pessoas reconhecem-no na rua?
- Sim. As pessoas que ligam mais ao futebol reconhecem porque olham logo mais por não ser chinês, mas não tenho abordagens como tinha em Inglaterra. Em Inglaterra não era super famoso, longe disso, mas havia mais abordagens para tirar fotos. (...) Xangai é gigante, com muita gente, e consegues ficar mais tranquilo.
- E no Catar, como correu?
- O Catar foi um sítio muito bom, mas o nível de futebol não era tão alto como é na China. Estava muito bem em termos futebolisticos, super confortável, e a nível cultural adaptei-me muito fácil. A nível futebolístico, estava a jogar sempre, com golos e assistências, mas depois tínhamos 100-200 pessoas num jogo. Esse foi o maior impacto. Passei de 300 pessoas para 45 mil num estádio.
- Tinha alguma referência sobre a China?
- Tinha, não de jogadores, mas conhecia um fisioterapeuta que tinha estado em Xangai com o Villas-Boas e falou-me muito bem. Aliás, tudo o que ele me disse confirmou-se.
"O mais marcante foi o Gerrard"
- O que te fez sair de Portugal? Algum descontentamento com futebol português?
- Não foi descontentamento. Foi mesmo por oportunidades, tanto financeiras como de prestígio. Primeiro acabo por sair para o Liverpool e depois quanto estou no Vitória SC aparece o Feyenoord, que é uma equipa grande nos Países Baixos, com muitos adeptos e história.
- Jurgen Klopp, Brendan Rodgers, Nuno Espírito Santo, Abel Ferreiro, Luís Castro, Dick Advocaat... Qual o mais marcante?
- Tive experiência muito boa com o Ivo Vieira no Vitória SC, porque jogava sempre. Com o Abel também tive uma experiência boa no SC Braga. No Liverpool, joguei bastante com o Klopp, em comparação com o Rodgers que me lançou. Mas com tantos treinadores acabas por aprender e perceber que cada um tem a sua forma de trabalhar. Não sei se algum dia serei treinador, mas tento tirar o melhor que têm e que para mim faz sentido. Por exemplo, o Klopp é muito parecido com o Sérgio Conceição. O Abel, Luís Castro e o Ivo são taticamente muito metódicos, ligados à tática, e depois vais tirando um bocadinho de cada. Um treinador que gostei muito foi o Arne Slot, do Feyennord.
- A nível de colegas, algum marcante?
- Tive grandes jogadores no SC Braga, FC Porto, Vitória SC, no Feyenoord, mas aí vou ter de ligar mais ao Liverpool. Joguei e treinei muitas vezes com o Gerrard e foi o mais marcante a nível de entendimento do jogo. Era um verdadeiro líder, capitão de Inglaterra e Liverpool, um jogador de bastante qualidade. Depois tinha Luis Suárez e Coutinho que transcendem o normal. Dava gosto vê-los a jogar. A finalizar nunca vi nada igual. (...) Lembro-me de o Suárez ter o tornozelo inchado e usar uma botas do Gerrard, dois tamanhos acima, e ir para dentro de campo. Não os menciono apenas pela qualidade, mas pela força de vontade e aquilo que representam dentro e fora de campo.
"Gyökeres tem sido a maior referência da Liga"
- Continua a acompanhar o campeonato português?
- Não tenho seguido tanto, porque a diferência horária é muito grande, mas tenho visto que o Gyökeres tem sido a maior referência do campeonato. FC Porto e Benfica não estão tão fortes como no ano apssado e isso dá vantagem ao Sporting. Outra equipa que parece bem é o Vitória SC, e o SC Braga tem uma equipa fabulosa e pode fazer mais e melhor do que tem feito, apesar do trabalho ótimo. (...) Acho que vai ser uma luta até ao fim.
- E como perspetiva a participação de Portugal no Euro?
- Espero que Portugal ganhe sempre (risos).
- Nota alguma diferença com o novo selecionador?
- Nota-se diferença, marcam-se muitos golos e sofre-se pouco. Mas, muitas vezes, não é fácil, nem sempre a melhor equipa ganha. É difícil dizer que vai ou não (ganhar o Euro), mas somos das equipas mais fortes no mundo.
- Tem o regresso pensado para Portugal?
- Para já, não. Tenho mais um ano de contrato na China, depois logo se vê. Ainda tenho 30 anos. (...) Não sei o que vai acontecer, só penso em fazer uma boa época.