Ricardo Soares: "Beijing Guoan tem uma dimensão enorme"
“O Beijing tem muita capacidade para poder dar um salto qualitativo e voltar a ser o que era. A sua dimensão é enorme”, disse à agência Lusa o treinador, de 48 anos, garantindo que “o Beijing tem forçosamente de lutar pelo título”.
A principal equipa de Pequim, criada em 1992, o ano em que a China autorizou a profissionalização do futebol, ocupa atualmente o sexto lugar da Superliga Chinesa, a 15 pontos do primeiro e a nove do segundo. A época passada terminou o campeonato na sétima posição.
Desde que assumiu o comando técnico da equipa, Ricardo Soares somou três vitórias, duas derrotas e um empate, num total de seis jogos disputados.
Em entrevista à Lusa, num hotel situado nas proximidades do Estádio dos Trabalhadores - um ícone da arquitetura socialista, erguido em 1959 para celebrar o 10.º aniversário da fundação da China comunista, e recentemente renovado –, o técnico destacou as “pessoas de valor humano excelente” que compõem a estrutura do clube e os adeptos, “muito apaixonados e fervorosos”.
“O raio-X está feito. Só falta mesmo conseguir juntar as peças”, disse.
O futebol na China está a reerguer-se após três anos da política de zero casos de COVID-19, que ditou o encerramento das fronteiras e paralisou a atividade económica.
Durante aquele período, a competição foi disputada em estádios vazios e vários jogos foram adiados durante semanas ou meses. Devido aos bloqueios rigorosos, os jogadores permaneceram presos em hotéis e várias estrelas estrangeiras não conseguiram voltar do exterior e acabaram por ser dispensadas.
Dezenas de clubes entraram também em falência, expondo a insustentabilidade dos gastos que nos anos anteriores à pandemia abalaram o mercado de transferências: entre 2016 e 2019, estrelas como Alex Teixeira, Hulk, Carlos Tévez ou Ricardo Goulart rumaram à China, em contratações avaliadas em dezenas de milhões de euros e beneficiando de salários sem precedentes.
No sábado passado, o Estádio dos Trabalhadores, que tem capacidade para 65 mil adeptos, praticamente encheu para assistir ao jogo entre o Beijing Guoan e o Wuhan Three Towns, o atual campeão na China. O preço dos bilhetes fixou-se entre 120 e 680 yuan (entre 15 e 85 euros).
“O ambiente nos estádios é fabuloso, os adeptos apoiam incondicionalmente a sua equipa e não hostilizam o adversário”, notou Ricardo Soares.
“Há outra curiosidade: independentemente de ganhares ou perderes, no final do jogo os adeptos não saem do estádio e ficam à espera que os jogadores e a equipa técnica deem a volta ao campo para baterem palmas”, descreveu, acrescentando: “São imagens marcantes para este desporto que nós tanto amamos”.
Ricardo Soares diz notar “grande preocupação governamental para dar um impulso forte ao futebol”, à medida que Pequim almeja converter a China numa potência da modalidade, à altura do seu poder económico e militar.
Em 2014, o país asiático anunciou um "plano de reforma global do futebol", que determinou, entre outras medidas, a inclusão da modalidade como componente obrigatória da disciplina de Educação Física em 50.000 escolas primárias e secundárias.
Portugal tornou-se um parceiro fundamental nas ambições chinesas e mais de uma centena de treinadores portugueses rumou ao país, alguns contratados por clubes e outros integrados no sistema de ensino. No sentido oposto, dezenas de jovens jogadores chineses integraram a formação de equipas portuguesas.
Só no plantel do Beijing Guoan, oito jogadores chineses falam português.
No entanto, a China figura em 79.º no ranking da FIFA e a única vez que participou na fase final de um Mundial, em 2002, perdeu os três jogos que disputou e não marcou um único golo.
“Os jogadores chineses ainda têm um caminho a percorrer”, reconheceu Ricardo Soares, que destacou a importância de criar referências a nível doméstico que elevem a fasquia.
“Portugal, por exemplo, deu um passo significativo a nível de profissionalismo com Cristiano Ronaldo e José Mourinho. Tornaram-se referências e toda a gente quis ir atrás”, referiu.
Sobre as suas impressões da China, Ricardo Soares salientou à agência Lusa que “os chineses são muito prestáveis e educados” e que notou um “certo respeito” pela hierarquia na sociedade: “aqui é difícil alguém sair fora do cesto, como se costuma dizer”.
“Adaptei-me com facilidade”, disse.