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Lara Pintassilgo vive novo desafio no Besiktas: "A forma como apoiam o clube é muito bonita"

Rodrigo Coimbra
Lara Pintassilgo abraçou novo desafio no Besiktas
Lara Pintassilgo abraçou novo desafio no BesiktasBesiktas
Lara Pintassilgo decidiu que estava na hora de fazer as malas e partir para a primeira temporada além-fronteiras. Depois de uma curta passagem pela Arménia, para jogar as pré-eliminatórias da Liga dos Campeões, a avançada portuguesa mudou-se para a Turquia, onde vai dando os primeiros passos ao serviço do Besiktas.

Acompanhe o Besiktas no Flashscore

O futebol é um amor que passa de geração em geração. De pai para filha. E que percorre todas as latitudes. Do Algarve a Lisboa, Lara deu asas ao sonho quando deixou o Farense para entrar para o mundo Benfica, ainda a dar os primeiros passos no feminino.

Pelas águias conquistou (quase) tudo o que havia para conquistar, mas chegou o momento de deixar o clube do coração para abrir horizontes. Não foi fácil. Mas é vida que segue. Após uma temporada completa no Torreense, a jovem avançada recebeu o convite do Pyunik, da Arménia, mas quando deu por isso já estava no Besiktas, da Turquia.

Algumas horas depois de aceitar o convite do Flashscore para uma viagem pela sua ainda curta carreira, que também tem um capítulo na música, Lara Pintassilgo estreou-se a titular pelas águias negras e... marcou. Não podíamos ficar sem a reação.

Lara Pintassilgo assinou recentemente pelo Besiktas
Lara Pintassilgo assinou recentemente pelo BesiktasBesiktas/Opta by Stats Perform

"Foi a primeira vitória da época, o que nos deu motivação, mais força e alegria. A minha estreia como titular, com golo, trouxe ânimo para trabalhar mais e querer mais. Fico muito feliz por as coisas terem corrido bem. Espero conseguir marcar mais golos, pois é um dos meus grandes objetivos. (...) Queremos estar no topo da tabela. Quero bater o meu recorde de golos a nível pessoal", assumiu a portuguesa de 21 anos.

"Quando comecei nem sabia que havia escalões de formação na seleção"

- A família da Lara está muito ligada ao futebol - o seu pai e o seu tio jogaram a nível profissional. Quando é que percebeu que o futebol era mesmo aquilo que queria fazer? 

- Foi mais ou menos aos 14 anos, antes de ir para o Benfica. Jogava com os rapazes num escalão acima, no Farense, e também disputava o Campeonato Nacional. Estava num bom nível, as coisas estavam a correr bem, e eu achava que tinha potencial para alcançar algo. No entanto, para ser sincera, nunca pensei em ser jogadora profissional.

- O que imaginava aos 14 anos?

- Quando fui chamada à seleção, tinha 14 anos e fui para as sub-16, nem sabia que havia escalões de formação na seleção. Como morava e jogava no Algarve, não tinha noção de como era o futebol feminino. Não sabia que competiam e que havia campeonato. Passei para o feminino e aí comecei a entender o que era. Graças a Deus, tem crescido imenso, e eu tenho feito parte desse crescimento.

- Deixa o Algarve para rumar a Lisboa. Como foi essa mudança na sua vida?

- A mudança foi um bocado drástica para mim. Morava em Faro, que não tem nada a ver com Lisboa, e tinha de lidar com mais gente, e acho que a mudança de cidade foi a parte mais difícil. Adaptar-me ao futebol foi natural. Também não senti tanto a parte de estar longe, porque era muito nova e os meus pais vinham muitas vezes a Lisboa.

Lara Pintassilgo ao serviço do Besiktas
Lara Pintassilgo ao serviço do BesiktasBesiktas

"O mundo do futebol não é fácil"

- Qual foi a sua reação quando recebeu a proposta do Benfica?

- O meu pai disse logo: 'É ótimo, vai'. Eu respondi para ter calma e que precisávamos de falar com a minha mãe. Ele jogou, é treinador, e tinha mais noção. Já eu fiquei em choque, tinha 15 anos.

- Como foram os primeiros tempos? 

- As minhas colegas foram ótimas, fiz logo muitas amizades. No futebol, senti diferença de ritmo e técnica. Jogava futebol de 11 com rapazes e passei para futebol de 9 com as raparigas. No resto, com a escola, a adaptação foi natural. Sou uma pessoa fácil de conhecer, e a minha personalidade mais extrovertida ajudou-me muito.

- Recorda-se da sua estreia pela equipa sénior?

- Tinha jogo pelas juniores no sábado e depois no domingo com as seniores. Falei tranquilamente com o meu pai, e ele disse: 'Tens de dar tudo!'. Fiquei super feliz. No meu jogo de estreia (n.d.r: Benfica-Atlético Ouriense, 16-0), fiz um golo e uma assistência, e fiquei muito contente. Eu sabia que, se estava nas seniores, era por algum motivo; sabia que tinha qualidade.

- Sendo tão nova, de que forma reagiu com essa oportunidade?

- Sentia-me calma, e elas também falavam muito comigo. A Geyse era a que mais conversava, era ela a minha ídola na altura. Sempre fui uma pessoa realista, sei quando as coisas estão bem ou mal. Encarei isso como uma oportunidade para mostrar que tinha qualidade para jogar com elas, independentemente da idade.

- Depois de alguns anos, e de dois empréstimos pelo meio, foi difícil fechar o capítulo Benfica?

- Claro que foi difícil. O Benfica é o clube do meu coração, foi o meu primeiro clube no futebol feminino e sempre terei um sentimento muito especial pelo clube. (...) O mundo do futebol não é fácil, mas sei que ajudou-me imenso e fez-me evoluir muito como pessoa. Se as coisas aconteceram como aconteceram, foi por algum motivo. Hoje, estou a jogar fora e tenho uma bagagem diferente.

- O lado mental foi o mais difícil?

- Hoje em dia, fala-se muito da parte mental e dá-se muito valor a isso, e eu própria também dou. Tento ver o lado positivo. Eu era muito nova, mas, se calhar, se tivesse dado mais importância ao lado mental, as coisas podiam ter sido diferentes. Mas está tudo bem. Adorei estar no Benfica; aconteceram muitas coisas boas.

- Acaba por sair com vários títulos pelo que diz ser o seu clube do coração. Qual o significado?

- Vou recordar para sempre, principalmente o primeiro campeonato de juniores. Senti que todo o esforço foi recompensado. Foram momentos inesquecíveis e tenho muitas histórias, e é isso que fica.

Lara Pintassilgo abraçou novo desafio na Turquia
Lara Pintassilgo abraçou novo desafio na TurquiaBesiktas

"Turquia? Sente-se que o ambiente é diferente..."

- Depois da passagem pelo Torreense, a Lara decidiu abraçar o primeiro desafio no estrangeiro. Era algo que queria ou surgiu de forma inesperada?

- Faltava mais ou menos um mês para o final da época com o Torrense. Falei com a minha empresária e disse que não me importava de jogar fora. Acabou a época, tentámos abrir outras portas. Analisámos e houve uma proposta para ir para a Arménia. Não tinha ouvido muito sobre a relação do país com o futebol, apenas sobre boxe e UFC, mas ela disse-me que iam jogar as pré-eliminatórias da Champions, e lá fui para o Pyunik. Fiz as eliminatórias e surgiu a possibilidade de vir para o Beşiktaş. É um clube grande, não pensei duas vezes.

- Que futebol encontrou na Arménia?

- Foi difícil. Foram os primeiros dois meses fora e ainda estava no período de adaptação. Depois, na Champions, comecei a assimilar melhor as coisas, e estar longe da família mexeu um bocado com a parte mental. Agora, estou a encarar as coisas de maneira diferente. Sinto-me mais madura, com uma perceção diferente de quando jogava em Portugal.

- Como estão a ser os primeiros tempos no Beşiktaş?

- Superou as minhas expectativas. Não tinha noção de como isto era. É um país que está desenvolvido, com muitas boas equipas e jogadoras. É muito diferente da Arménia e muito diferente de Portugal, e acho que para melhor.

- Istambul é uma cidade gigantesca.

- É enorme. Temos a parte europeia e asiática. A alimentação é parecida. A língua é diferente, estou a tentar aprender, mas estou a gostar imenso. A cidade é muito bonita.

- O Beşiktaş conta com mais duas portuguesas (Ana Teles e Inês Maia). Como foi recebida pelas novas companheiras de equipa?

- Está a ser muito bom. Passo muito tempo com elas e está a ser diferente. A interação em campo é distinta; as coisas desenrolam-se de forma mais natural. Até agora, tem sido ótimo. Receberam-me bem, o clube é excelente, e está tudo encaminhado para ser muito bom.

- Quais as principais diferenças?

- Adeptos! Fomos jogar a Ancara, a quatro horas de Istambul, e tínhamos uma claque de adeptos como se o nosso jogo fosse masculino. É algo que não estava à espera, o apoio que as pessoas dão. Leva-se o futebol mais a sério. Jogámos contra uma das melhores equipas. O ritmo é alto, diferente, e o ambiente, em si, sente-se que é diferente.

- Sente que isso valoriza o seu papel enquanto jogadora?

- Mexe connosco, motiva mais e faz-nos querer mais e obter resultados. São pessoas que apoiam o clube, e isso é ótimo. É muito bonito, adoro.

- Para quem não está tão familiarizado com o futebol turco, como é que apresenta a jogadora turca? Muito diferente da portuguesa?

- Não há muitas diferenças. A nível físico, não temos jogadoras muito altas em Portugal, e aqui também não; elas também se baseiam na parte técnica. Não há muita diferença, sinceramente.

- Sente que é um futebol que se encaixa bem no seu perfil?

- Tinha visto um jogo do Fomget sem saber que vinha. Vi por causa da Rafa (Sudré) e disse: 'Uau, é bom'. Tinham técnica. Pensei que me encaixava, e se for mais intensa, posso vir a jogar mais e fazer mais diferença.

- O que espera ganhar com esta aventura?

- Quero ganhar mais experiência e desenvolver a minha parte mental. Ainda sou muito nova e quero continuar a crescer.

"A música é algo que me completa"

- A Lara é ainda muito jovem. Quais os objetivos que ainda tem por concretizar?

- Primeiro, gostaria de ganhar o campeonato com a minha equipa. Também quero continuar a ir à seleção. Gostaria de ir ao estágio dos sub-23, pois é o meu último ano. E o que eu posso dizer mais? Eu tinha objetivos de estar na Arménia e, de um momento para o outro, mudei-me. Por isso, ainda vou estruturar outros objetivos.

- Qual a avaliação que faz à evolução do feminino?

- Acho que está a evoluir imenso, especialmente em Portugal e na nossa Seleção. Ainda vai crescer muito mais, com uma aposta cada vez maior por parte dos clubes. Agora o FC Porto abriu e, quando estiver na primeira divisão, vai querer ganhar, e acho que estas pequenas coisas ajudam na evolução. Haver mais equipas de formação também contribui, assim como o nível exigido aos treinadores. Já se nota uma grande diferença no empenho no futebol feminino. A evolução está a ser significativa, mas claro que ainda há aspetos a melhorar. A partir daqui, vai ser só coisas boas.

Besiktas ocupa 8.º lugar da tabela classificativa da Superliga da Turquia
Besiktas ocupa 8.º lugar da tabela classificativa da Superliga da TurquiaFlashscore

- E a Lara ainda está no início de carreira...

- A seleção conseguir ir a Europeus e Mundiais e subir o nível faz com que o pessoal da minha idade trabalhe mais para conseguir ir à seleção ou atingir determinados objetivos.

- Chegou a dizer numa entrevista que não queria jogar até muito tarde. Ainda mantém essa opinião?

- Sim, é verdade. Tenho outros interesses, há outras coisas de que gosto. Jogar futebol é uma paixão, mas não é a única coisa de que gosto. E não estou a falar só de música, refiro-me a outros interesses que tenho. Gostaria de explorar outras áreas e desfrutar da vida. Já jogo desde os 9 anos, e se jogar até aos 33, já será um longo período da minha vida. Quais áreas? Ginásio, nutrição e comunicação/marketing são algumas dessas áreas.

- A Lara participou num reconhecido programa de televisão sobre música ("The Voice"). Em que medida é que a música a ajuda no futebol?

- Ajuda-me a relaxar, mesmo quando estou stressada ou não. Ouço música para o treino, vejo vídeos no YouTube, assisto ao "The Voice". Como sei que também canto bem, também tenho momentos para cantar e relaxar. No entanto, encaro a música como algo que me completa, é uma espécie de escape para aliviar o stress. E é algo de que gosto muito.

Os próximos jogos do Besiktas
Os próximos jogos do BesiktasFlashscore

- Em algum momento pensou em ter de escolher entre o futebol e a música?

- Não, nunca tive tempo para pensar nisso. Fui ao "The Voice" com a minha irmã, durante as férias, mas nunca pensei em gravar uma música. Tenho músicas escritas, com melodia, mas não tenho tempo. Não vou deixar de descansar, pois preciso estar bem para o dia seguinte no futebol. Nunca me passou esse pensamento pela cabeça, mas um dia gostava de mostrar algumas das coisas que tenho.

- Por fim, o que diria à pequena Lara se ela estivesse agora a começar?

- Para manter o foco no futebol, continuar com a paixão de sempre e lembrar que as coisas acontecem por um motivo. Quando estamos em baixo, não devemos deixar-nos levar por isso.