A cena não é incomum. Sobretudo nos 17 anos que passou com a camisola do Barcelona, Lionel Messi habitou-nos a momentos saídos de um filme de Hollywood em que mostrou a magia de alguém que nasceu com um dom para jogar futebol. Mas poucos esperariam algo semelhante na primeira vez que disputava um jogo com a camisola do Inter Miami, a exótica aventura que escolheu para uma carreira que se vai aproximando do ocaso.
Mas vamos rever o cenário: Quarto minuto dos acréscimos, jogo da Taça das Ligas contra o os mexicanos do Cruz Azul, estádio cheio em Fort Lauderdale, partida empatad a uma bola. Messi ganhou uma falta fora da área, a medida parecia perfeita para o seu pé esquerdo que já maravilhou tanta gente por todo o mundo.
O guião estava escrito e Messi desempenhou o papel na perfeição.
Sete vezes eleito o melhor jogador do Mundo, o internacional argnetino olhou de relance para a posição do guarda-redes do Cruz Azul, Andrés Gudino, baixou a cabeça e rematou de cabeça para o canto superior direito do guarda-redes, para garantir o triunfo por 2-1.
O Estádio DRV PNK, em Miami, com capacidade para 20 mil pessoas, foi ao delírio, com alguns adeptos a correr para dentro do campo antes de serem detidos pela segurança. Bombas de fumo cor-de-rosa, imagem de marca do Miami, foram lançadas na zona atrás da baliza, ocupada pelos adeptos mais fervorosos da equipa.
"Queríamos começar assim, dando uma vitória a estas pessoas", disse Messi: "Sabíamos que era muito importante para nós começar este campeonato de forma vitoriosa e, felizmente, conseguimos fazê-lo no final, e estou muito feliz. É uma alegria enorme conseguir esta primeira vitória depois do que fizemos na liga. É importante começar a ganhar, além do facto de ser outro campeonato, para a confiança é muito bom conseguir vitórias."
Foi a primeira vitória do Inter Miami em dois meses. O lanterna vermelha da Conferência Este da MLS que aspira a grandes feitos agora que conta com aquele que é um dos melhores de sempre a praticar futebol.
Miami e a Major League Soccer esperam que a chegada do argentino vencedor do Mundial-2022 e um dos grandes craques da história do desporto transforme o futebol e o conduza ao mainstream americano. E se a estreia de Messi serviu de guia, o ex-astro do Barcelona ainda tem muito a oferecer.
Mesmo antes do seu maravilhoso golo, Messi parecia em forma, com o seu toque a esconder o facto de, até há pouco mais de uma semana, estar de férias numa praia das Caraíbas com a sua família.
Sergio Busquets, o médio espanhol e ex-companheiro de Barça, que se juntou a Messi na aventura americana, também deixou uma forte impressão depois que ambos entraram em campo aos 54 minutos do segundo tempo como parte de uma mudança tripla com o venezuelano Josef Martinez.
Busquets mostrou que o seu famoso e quase telepático entendimento com Messi permanece, depois de mais de dois anos separados, continua intacto com o organizador a encontrar sempre os pés do argentino. Mas foi a finalização mágica de Messi que ficará por muito tempo na memória dos adeptos do Inter de Miami e, em particular, do coproprietário do clube, David Beckham, que não escondeu o sorriso no apito final.
"Para ser sincero, assim que vi o livre pensei que era assim que as coisas deveriam terminar. Especialmente quando se tem jogadores como Leo e Sergio em campo, é isso que eles produzem", disse o internacional inglês: ""É uma noite muito emocionante para os nossos adeptos. Todas estas pessoas que vieram até aqui para ver o Leo entrar em campo, quanto mais fazer o que ele fez. É um sonho tornado realidade para todos os que estão neste estádio. É um momento importante para este país, um momento importante para esta liga".
Estrelas comparecem
Messi tornou-se a a maior contratação da história da MLS ao juntar-se ao Miami depois de ter visto o contrato com o Paris Saint-Germain chegar ao fim em junho.
O astro da NBA LeBron James, a estrela de reality show Kim Kardashian e a lenda do ténis Serena Williams estavam entre as estrelas que acorreram a Fort Lauderdale.
Muitos fãs vestiram réplicas de camisolas cor-de-rosa do Miami com o nome de Messi e o número 10 nas costas. Outros ostentavam máscaras e faixas de Messi, e um deles usava uma máscara de um bode (GOAT, em inglês, acrónimo de Greatest of All Time, o melhor de todos os tempos), em homenagem ao argentino.
A deceção foi grande quando os onzes foram anunciados com Messi no banco de suplentes, mas ficou claro que havia planos para comemorar a sua primeira partida, já que fogos de artifício explodiram sobre as bancadas quando o árbitro apitou o início do confronto.
Contra a corrente do jogo, e depois de o Cruz Azul ter desperdiçado uma série de oportunidades, o Inter Miami assumiu a liderança aos 44 minutos com um belo remate rasteiro de Robert Taylor. Messi e Busquets entraram em campo com a vantagem intacta, mas viram os mexicanos empatarem com um disparo de Uriel Antuna aos 65 minutos. O momento de Messi foi a apresentação perfeita para a sua nova torcida e para o seu novo país.