Ausência de Thomas Partey na CAN pode manchar o seu legado na seleção do Gana
A maioria destes jogadores tinha atingido o seu auge após a desilusão da Taça das Nações Africanas (CAN) de 2015 e era preciso passar o testemunho.
Thomas Partey, então com 22 anos, acabara de descobrir o futebol de alto nível, quando estava emprestado ao Almeria. Tinha feito uma ascensão meteórica ao assinar pela equipa de reservas do Atlético Madrid, quatro anos antes. Apesar de ser um adolescente, que tinha acabado de viajar 6.000 km, do Gana para a Europa, Partey destacava-se dos seus colegas assim que tinha a bola nos pés.
Javi Baños, que treinou a formação do Atlético de Madrid em 2011, não precisou de ver Partey numa partida completa para se convencer. Após a primeira parte de um amigável contra o Getafe, Baños sabia que ia manter o médio, que descreveu como "bom com bola, capaz de passar por adversários, com um bom pé direito, oferecendo equilíbrio à equipa e um rapaz muito humilde."
Depois de duas passagens por empréstimo, no Maiorca e no Almeria, Partey viveu a época da sua esperada revelação nos Colchoneros. Estreou-se a 28 de novembro de 2015, contra o Espanhol, e fez 23 jogos em todas as competições, incluindo a final da Liga dos Campeões.
Apesar de ter jogado apenas 852 minutos esta época, Partey marcou três golos e fez uma assistência. O pedido de inclusão de Partey na equipa do Gana era cada vez mais forte e, em 2016, Avram Grant respondeu ao apelo.
A tão esperada convocatória dos Estrelas Negras
Para muitos ganeses na época, a convocação de Partey para a seleção era muito esperada, mas Grant quis ser cauteloso com a sua entrada e só lhe deu 25 minutos combinados, nos dois primeiros jogos, contra Ilhas Maurícias e Ruanda. Grant confiava na dupla Acquah e Wakaso e estava preparado para ser paciente com o médio.
Partey foi titular pela primeira vez na seleção de Estrelas Negras contra a Rússia, mas num jogo particular jogou 63 minutos. No entanto, numa partida de qualificação para o Campeonato do Mundo de 2018, Partey não foi utilizado e o Uganda empatou 0-0 com o Gana, no Estádio de Tamale.
Quatro dias depois, num jogo amigável, Partey jogou todo a a partida contra a África do Sul, que terminou 1-1. Cinco meses depois da sua estreia pelo Gana, Partey ainda não tinha começado um jogo a doer. Grant pôs fim a esse período, ao incluir o jogador do Atlético Madrid na equipa titular contra o Egito, numa partida de qualificação para o Campeonato do Mundo.
Alguns meses mais tarde, os Estrelas Negras iniciaram o seu assalto à CAN, no qual Partey desempenhou um papel fundamental. Na época do torneio, o ex-jogador do Almeria já havia tirado Acquah da equipa titular e passou a ter Wakaso como parceiro na maior parte do tempo. Com apenas 24 anos, Partey liderou o meio-campo, dando à equipa um equilíbrio que lhe permitiu controlar os jogos.
O médio distribuía a bola com facilidade e protegia a defesa quando necessário. O jogo contra o Mali foi um dos melhores de Partey pelo Gana, pois foi eleito o melhor jogador da partida, apesar de não ter marcado nenhum golo ou feito nenhuma assistência. O Grupo de Estudos Técnicos da CAF destacou a força, a agilidade e a finta de Partey como as razões pelas quais foi eleito o melhor jogador.
Os esforços de Partney e de Gana não foram suficientes, pois a seleção terminou em quarto lugar, depois de perder para Camarões e Burkina Fasso na meia-final e na disputa pelo terceiro lugar, respetivamente. No entanto, Partey foi um dos poucos jogadores a deixar Camarões de cabeça erguida.
Depois do torneio, tudo mudou para ele, tornando-se num dos principais jogadores da seleção nacional. Alguns adeptos ganeses compararam-no ao grande Essien. Embora as eliminatórias para o Campeonato do Mundo de 2018 tenham sido dececionantes, os três golos de Partey contra o Congo garantiram a única vitória do Gana na competição. Antes disso, marcou o seu primeiro golo de sempre com a camisola dos Estrelas Negras, na segunda mão, salvando um ponto no Estádio Baba Yara.
Em 2018, Partey aceitou um novo desafio e usou a braçadeira durante a pausa internacional em junho/julho. Marcou um magnífico golo de livre contra o Japão, na vitória por 2-0, e um golo de empate contra a Islândia. O golo mostrou o seu instinto: o seu movimento e remate surpreenderam os adversários.
O enigma da posição
O número de golos que Partey marcou pelo Gana em 2018 levou os adeptos a pedir que fosse colocado mais à frente, na posição de número 10. Pensou-se que, com o seu poder de remate e capacidade de encontrar espaço na área, ele poderia ajudar a aliviar a pressão sobre Gyan.
Este foi o início de um debate interminável sobre a melhor posição de Partey: será ele um médio defensivo isolado? Pode jogar como número 8 ou como box-to-box? Deve jogar atrás do avançado?
Nos seus sete anos na seleção nacional, trabalhou com seis treinadores, uma média de quase um por ano. O problema é que cada treinador tinha ideias diferentes, o que geralmente influenciava a forma como ele queria jogar. Grant tentou desenvolvê-lo como um médio ofensivo, antes de usá-lo como um componente defensivo. Sob o comando de Kwesi Appiah, voltou a desempenhar várias funções no meio-campo e até jogou como lateral-direito numa partida de qualificação para a Taça das Nações Africanas, contra o Quénia.
CK Akonnor sabia o que queria e jogou com Partey como duplo pivô, sempre que ele estava disponível. Milovan Rajevac e Otto Addo seguiram o exemplo, pedindo que ele jogasse como pivô duplo na maior parte do tempo. Atualmente, quando Partey joga sob o comando de Hughton, é normalmente com um único médio defensivo, Edmund Addo ou Salis Samed. Isso permite que o jogador do Arsenal encontre espaço no meio-campo e ajude o Gana a desenvolver a posse de bola.
Partey começou a sua carreira como médio ofensivo, mas a sua orientação no clube transformou-o num médio centro. A falta de tempo de jogo no clube como médio ofensivo dificultará a sua utilização pelos treinadores na seleção nacional, especialmente porque jogadores como Mohammed Kudus e André Ayew já estão a competir pelo papel de número 10.
Lesões que não desaparecem
Desde o início da época 2020/2021, quando Partey transferiu-se para o Arsenal, falhou 21 dos 38 jogos possíveis do Gana devido a lesão. Nesse período, sofreu nove lesões diferentes, cinco das quais musculares.
Os problemas musculares tendem a agravar-se, e esse tem sido o caso de Partey, que não consegue livrar-se deles. O vice-capitão de Gana foi submetido a uma cirurgia especializada, para tratar a lesão na coxa, e agora deve perder o resto de 2023.
Isso significa que o médio vai terminar o ano tendo disputado apenas quatro das nove partidas da seleção ganesa. Aos 30 anos, é difícil imaginar que o seu registo de lesões melhore, uma vez que, depois de recuperado, estará imerso num dos campeonatos mais intensos do mundo. É por isso que o Arsenal tem tentado controlar o ganês nos últimos meses. Durante as pausas internacionais de março e outubro, o clube londrino enviou o fisioterapeuta Simon Murphy para o acompanhar e monitorizar durante os treinos e os jogos.
Gana depende muito de Partey e, ao contrário do Arsenal , que contratou Declan Rice no verão passado, o país da África Ocidental não pensou muito na vida após a saída do jogador. Os sinais de alerta foram claros, com o número de jogos perdidos, mas não há um substituto pronto. Cada vez que ele está ausente, a equipa tem dificuldade em controlar os jogos e vencer os adversários.
Neste momento, arrisca-se a perder a CAN, em janeiro, o que seria uma grande perda para o Gana. Do ponto de vista pessoal, a perda será ainda maior para Partey. A Taça das Nações Africanas de 2017 foi memorável, mas a história recordá-la-á sempre como o fim de uma geração de ouro para os Estrelas Negras. Marcou o apogeu de uma equipa que chegou às meias-finais da CAN por seis vezes consecutivas. Desde então, o seu maior momento foi o golo que classificou Gana para o Campeonato do Mundo de 2022.
Apesar de todas as suas atuações no clube, Partey precisa de um grande torneio para entrar na elite do futebol ganês. No caso de Essien, bastava a Taça das Nações Africanas de 2008, mas o Gana não ganhou. O mesmo se aplica a Gyan no Campeonato do Mundo de 2010, na África do Sul. Nos últimos meses, o futebol ganês entrou em declínio, com uma Taça Africana de Nações desastrosa, seguida de uma campanha dececionante no Mundial.
Se Partey conseguir levar o Gana à Costa do Marfim e trazer de volta alguns bons momentos para os ganeses, escreverá o seu nome na história do futebol do país.